Mesmo que não queira ser levado à sério, O Núcleo ainda é uma atrocidade.
Excetuando-se as bizarrices que Xuxa insiste em chamar de “filmes”, este O Núcleo – Missão ao Centro da Terra é o pior filme lançado nos cinemas desde o início do novo milênio. Muitos críticos dizem que você deve ir para se divertir, ignorando as tosqueiras que aparecem durante toda a projeção, mas posso dizer que não consegui fazer isso, pois mesmo as “tosqueiras” de O Núcleo são tão ruins que nem merecem ser chamadas assim. Ofende!
Mas para chegar à conclusão que este é o pior filme em anos, decidi me fazer um desafio: citar 20 boas (ou nem tanto) razões que tornam esse filme horrível. Se eu conseguir, está comprovado; senão eu estou errado. É bom lembrar que essa lista é mais compreensível para quem já souber do que estou falando, ou seja, tiver visto o filme.
1) O filme inserido no contexto atual: fim do mundo e queda de ônibus espacial? É por isso que fracassou nas bilheterias. Esses assuntos são reais demais (mesmo fim do mundo, com um grande exagero, claro) para termos que assistir isso nos cinemas.
2) Hilary Swank: ganhou o Oscar e veio parar em um filme “B” de ficção científica, em um papel que a Tiazinha conseguiria interpretar. Aproveitar mal o elenco faz o gênero do filme. A moça interpreta a comandante do ônibus espacial, que salvou sua tripulação de uma tragédia, e agora lidera a equipe que vai ao núcleo da Terra para “consertá-lo”, tentando evitar o fim do mundo.
3) Romance: sim, a personagem de Swank (Major Rebecca Childs) inicia um romance com o mocinho, o Dr. e Prof. Josh Keyes, durante a missão. Quão previsível seria isso? E mesmo na tensão de salvar o mundo? Tá bom...
4) Situações extremas: bem, esse é um dos objetivos do filme, exagerar, forçar a realidade, para tentar entreter. A destruição de São Franciso e de Roma são exemplos disso. Cenas bacanas, com certeza, mas também extremamente ridículas e caras-de-pau. Imagino um executivo do estúdio para o outro: “Seria legal destruirmos um marco famoso de cada cidade... Que tal a Golden Gate e o Coliseu?”, enquanto o outro, preocupado, indaga: “Teríamos aí as cenas dos trailers, mas quanto vai custar?”. “Creio que não mais do que 20 milhões”. “Ok, pode liberar o dinheiro...”.
5) O Núcleo é uma cópia descarada e mal realizada de Armageddon, filme lançado em 1998. Possui cenas idênticas, e situações deveras parecidas. Tirar no palitinho para ver quem vai ser o herói? Bruce Willis já fez isso antes, e foi muito mais emocionante e divertido. O cara do computador dar mais tempo para a missão, enganando o exército na sua cara? Isso também já foi feito antes, sinto muito. Há outros exemplos, compare e descubra.
6) Como conseguir convencer a imprensa e o público de que estava “tudo bem”, simplesmente hackeando toda a Internet no mundo todo? É uma abstração muito grande, que só engana quem tiver muita boa vontade de acreditar que isso seria possível.
7) Essa talvez seja a mais óbvia, mas também conta: as interpretações são horríveis, horríveis. Aaron Eckhart, Stanley Tucci, Delroy Lindo... É um bom time de atores – não tão conhecidos – para interpretar papéis do estilo. Mas nem eles salvam. O roteiro não permite criar belas interpretações. É tudo tão risível...
8) Efeitos especiais no final do filme: tudo bem que o orçamento não é gigantesco, e o filme estava indo regularmente bem nesse quesito até chegar no núcleo. Mas a partir dali tudo descambou de vez. As cenas em CG são extremamente mal-feitas, e você não tem nenhuma noção de espaço, nem do que está acontecendo direito fora da nave que os levou ao núcleo.
9) Tentativa de surpreender: quando nossos heróis estão quase chegando ao seu objetivo final, surge um contratempo, e alguns membros da missão se mostram quem realmente são, e sabemos o porquê do núcleo ter tido problemas. Por que diabos esse suspense foi necessário? Não que realmente interessasse, mas essa tentativa de criar uma reviravolta em um momento extremamente importuno é irritante.
10) O hacker: interpretado por DJ Qualls (de Caindo na Estrada e Novo no Pedaço), faz uma figura extremamente irritante (outra). Considerado o melhor hacker do mundo, é arrogante e chato ao extremo. No final, além de ser hacker, ele dá lições de Geologia aos chefões do exército, e consegue, sozinho, achar a lógica para descobrir a localização dos nossos heróis sobreviventes (adivinhem quais?), depois de completada a missão e se perderem no oceano, sem poderem voltar à superfície.
11) Frases filosóficas (estão mais para fisiológicas): se querem avacalhar, que façam isso de vez. Por que tentar criar seriedade quando a premissa do filme já é ridícula? Se o filme fosse todo auto-cômico, teria sido muito melhor. Por exemplo: quando um dos tripulantes da missão se sente pressionado, o outro tenta acalmá-lo, com a seguinte pérola: “... mas eu não estou aqui para salvar seis bilhões de pessoas, e sim apenas três: minha mulher e duas filhinhas”. Uau, Shakespeare estaria invejando isso se estivesse vivo...
12) Com tantos lugares para acontecerem catástrofes no mundo, por que logo em cima da Golden Gate e do Coliseu? Opsss... quase me esqueci. Se não fosse assim, eles não teriam um trailer atrativo. Essa nem deveria contar.
13) Como está na moda ser anti-americano, lá vai: por que são sempre os norte-americanos que descobrem esse tipo de coisa, como o núcleo da Terra ter parado, ocasionando o futuro fim da humanidade? E por que sempre eles são os primeiros a quererem salvar o mundo? O resto do mundo deve ser muito estúpido, realmente.
14) 135 minutos: é a duração total do filme. Se fosse para divertir, teria 90 minutos no máximo. É tempo demais na cadeira para tão pouco conteúdo. Cortar 40 minutos de O Núcleo seria trabalho para um estudante do ensino médio brasileiro, de tão fácil que seria. Opa, não posso exagerar, do jeito que o ensino médio está, é melhor passarmos essa responsabilidade para os adultos.
15) A falta de modéstia dos heróis: talvez o que mais me irritou foi o fato de que eles quiseram contar para o mundo todo que salvaram o mundo. Primeiro, gastam bilhões para esconder do mundo a operação secreta de salvamento; depois, não conseguem evitar que um pirralho divulgue para o mundo todo todos os feitos que nossos heróis sobreviventes realizaram, salvando o planeta. Modéstia pouca é bobagem. “Vejam-nos: nós salvamos o mundo! Aplaudam-nos!”
16) Uau, ainda faltam cinco motivos e só agora está começando a apertar. Deixa eu espremer aqui... Ughhhh, só mais um pouquinho... Ah, sim! O cara da obra. Quando o ônibus espacial é obrigado a pousar num canal dentro da cidade, ele vai parar a apenas meio metro de um operário, que está trabalhando com uma serra, que o impossibilitou de ouvir o ônibus se aproximando (e nenhum de seus colegas de trabalho se preocupou com isso). Quando nota finalmente algo estranho, ele se vira e solta um dos monossílabos mais sem graça de toda a história do cinema, para indicar surpresa. Você acaba não rindo da situação, mas sim da ridicularidade do cara.
17) O som/trilha sonora: é tão sem graça que nem é possível lembrar dela alguns minutos após o filme ter acabado. Esse gênero (blockbuster de ficção científica e ação) exige uma trilha forte, poderosa, para tornar tudo mais intenso, vibrante, memorável. O Núcleo possui uma trilha sonora fraca, e mesmo os efeitos sonoros são apenas regulares para o gênero.
18) Além de ter sido lançado em um período infeliz (motivo 1), a distribuidora, pelo menos aqui no Brasil, errou em não ter esperado para lançar O Núcleo lado-a-lado com a terceira parte da trilogia Xuxa e os Duendes. Isso geraria uma repercussão tremenda e finalmente veríamos nosso cinema alcançando números astronômicos de faturamento. Imagine um pacote 2 em 1: Xuxa e os Duendes 3 seguido pela exibição de O Núcleo, tudo com um só ingresso. Matrix: Reloaded que se cuide, que não vai sobrar público para ele.
19) Hilary Swank: de novo ela! Além de estar no lugar errado (ou no filme errado), é uma vergonha que a equipe de produção nem tenha dado a ela a chance de ficar sem roupa. Sim, poderia ser apelativo, mas como já foi comentado antes, se é para apelar, que apelem de vez e com tudo. E faria bem para a atriz se livrar do estigma de não ter sensualidade, depois de aparecer quase todo o tempo como um garoto em Meninos Não Choram. Uma vergonha, sr. diretor Jon Amiel.
20) E finalmente... Opa! Acabou! Não consigo imaginar mais nenhum motivo porque esse filme poderia ser considerado o pior do novo milênio. Então...
...eu estava errado. O título permanece com a pérola “2000.1 - Um Maluco Perdido no Espaço”. Maldito Leslie Nielsen. Se você tiver a oportunidade, corra atrás, pois já está disponível nas locadoras. Que pena, O Núcleo é apenas o segundo pior filme dos anos 2000.
Há, há! Parabéns Koball!!!