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Críticas

Cineplayers

Um policial extremamente clichê, mas consegue divertir ainda assim.

6,0

Se você assistiu alguns dos filmes recentes do gênero thriller policial, como por exemplo ‘Jogo de Espiões’, ‘Dia de Treinamento’, ou ‘Insônia’, então já viu tudo que O Novato pode oferecer. Este novo trabalho do diretor de ‘O Inferno de Dante’ (Roger Donaldson) até que consegue ser um filme policial e de ação bem bacana, com um ritmo decente, que prende a atenção do espectador, mas os elementos presentes nele são tão reciclados que, ao final da sessão, a impressão que fica e que muitos poderão ter (e que eu tive) é a de ter perdido quase duas horas com algo que realmente já foi visto inúmeras vezes. Então, a conclusão que se chega é que O Novato serve apenas como escapismo. Se for considerado dessa forma, não deixa de ser uma experiência positiva.

O filme é comandado, meio a meio, por Colin Farrel e Al Pacino. Fica difícil definir quem é o real protagonista do filme (embora “O Novato” seja relacionado ao personagem de Farrel). Um completa o outro dentro da história de forma perfeita, e não há quem se sobressaia. O filme, então, é um pouco de cada, pode-se dizer assim. Colin Farrel é James Clayton, um desenvolvedor de sistemas que conseguiu criar um programa revolucionário para computadores, que consegue entrar em qualquer rede que quiser para transmitir quaisquer tipos de dados que queira. É uma espécie de transmissor de dados obrigatório para todos os computadores de uma rede, ou seja, quem recebe não tem a opção de cancelar a transmissão. Esse programinha acaba rendendo fama a Clayton e logo diversas pessoas estão atrás dele para conseguirem contratá-lo. Entre elas, está o recrutador da CIA Burke. E é onde chegamos ao personagem de Al Pacino.

Para quem conhece sua carreira, sabe que Pacino já interpretou esse mesmo tipo de personagem várias vezes – o que é ruim –, por isso a adaptação ao papel parece ser natural e muito convincente – o que é bom. A primeira parte do filme passa-se toda na escola de treinamento para agentes da CIA. É também a melhor parte do filme. Não contém muita ação, mas é interessante acompanharmos os difíceis e cansativos testes para uma pessoa tornar-se membro da companhia. Obviamente, Clayton é o recruta favorito de Burke, que vê nele algo especial, que o faz se sobressair em relação aos outros (mas porquê ele vê isso é um mistério no roteiro) e, novamente óbvio, Clayton realmente se torna o melhor aluno da turma, saindo-se muito bem nos testes psicológicos, físicos, táticos, etc. (o que é estranho, pois Clayton se transforma do cara que passa a maior parte do seu tempo desenvolvendo sistemas em frente ao computador para um quase-Rambo no final dos testes).

Claro, o roteiro joga também um interesse amoroso para Clayton. É Layla (Bridget Moynahan, que trabalhou recentemente em Escrito nas Estrelas), uma mulher que tanto rivaliza com Clayton nos testes como se vê envolvida amorosamente com ele, num jogo de gato-e-rato às vezes irritante. Logo depois dos testes, começam as missões de verdade dos novos agentes. Aí o filme realmente exagera um pouco, apresentando, no total, mais de meia dúzia de reviravoltas, sempre querendo surpreender o espectador, o que acaba acontecendo na maior parte dos casos (embora quem assiste muitos filmes do gênero pode matar muitas dessas reviravoltas sem dificuldades). Em vários momentos do filme, não dá pra saber direito quem é mocinho e quem é bandido e, embora no final tudo seja bem definido, acabam ficando algumas dúvidas do que realmente aconteceu, e vários furos no roteiro (revendo-se o filme tudo deve ficar melhor explicado).

O filme também faz referência aos filmes do James Bond, inclusive com uma piada sobre o assunto, pois o trabalho na CIA não deve nada ao que vemos Bond realizar em seus filmes. É uma enormidade de “trecos” tecnológicos, como computadores e dispositivos de escuta. Mas há também todo o lado psicológico do trabalho (que Bond parece não usar e que é muito mais interessante), como verificar se outra pessoa está mentindo, ter habilidade em convencer as outras pessoas de qualquer coisa que um agente queira, entre outros métodos. Essa “exploração” do mundo da CIA (se for correspondente ou parecida com a do mundo real, claro) é o melhor ponto do filme.

Infelizmente, é melhor até mesmo do que os próprios personagens (não há um que se salve da palavra “estereótipo”), e melhor mesmo do que a boa química entre Pacino e Farrel, dois atores de grande talento, mas que não puderam demonstrá-lo em seu maior nível nesse filme. Tecnicamente o filme é muito bom, bem acabado e com uma fotografia escura bem agradável, sempre mudando de ambiente para não cansar o espectador (como já foi comentado, o ritmo do filme é bom e não enjoa). Não há muitos efeitos especiais (computadorizados, ao menos), mas há uma ou outra cena de ação interessante, porém nunca de tirar o fôlego.

Se for encarado como diversão sem pretensão, O Novato pode se tornar um bom passatempo enquanto os outros grandes filmes da temporada norte-americana não desembarcam por aqui. O filme tem um monte de exageros e clichês, e parece ter orgulho de demonstrar isso. Depois de ‘Jogo de Espiões’ e ‘Dia de Treinamento’ terem dado muito certo com uma fórmula reciclada de mestre-pupilo, ‘O Novato’ acaba ficando um pouco para trás quando comparado a esses dois filmes. O saldo final, pelo menos, é positivo, mas infelizmente não é um filme para ficar guardado na memória.

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