Oscar 2018: Os últimos dias
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A essa altura, faltando menos de 7 dias para a premiação, o que ainda falta ser dito ou considerado sobre o Oscar 2018? Praticamente nada, pensamos todos. Em um ano onde se prometia muita emoção e muito embate, até que a corrida termina calma e decidida em muitas categorias, cabendo à Academia decidir se surpreende ou segue o fluxo.
E pensar que a essa altura, no ano passado, um dos favoritos de domingo já tinha estreado e já estava fazendo o bom e grande dinheiro que também foi decisivo para ele estar aqui hoje; Corra! não tem precedentes recentes e o último indicado de lançamento tão cedo data de 91, exatamente o clássico O Silêncio dos Inocentes, que fez a limpa mais de um ano depois de seu lançamento. A estreia de Jordan Peele vem disposta para tanto? Teremos já um novo Corra! rondando a vizinhança, ou seja, Pantera Negra terá o fôlego desse misto de horror social com comédia que foi o vencedor do maior número de prêmios da crítica do ano?
Nesse post derradeiro, as categorias principais terão foco extra, com um apanhado do momento final em cada uma e um grande resumo das técnicas, de maneira mais sucinta. Depois do Globo de Ouro, do Critics Choice, do BAFTA e dos sindicatos de cada classe, além dos mais de 50 prêmios de críticas estaduais, o Oscar consegue chegar a esse ponto ainda relevante e fresco? Há novidade ainda em ver os mesmos 4 atores que subiram as escadas entre janeiro e fevereiro, nessa unanimidade que acontece pela primeira vez na História e que representa tão mal um ano que primou pela diversidade de talentos?
A verdade é que o Oscar tem um 'Q' a mais mesmo. É o autoproclamado prêmio mais importante do cinema (ainda que leiamos 'do cinema americano', implicitamente), é o mais antigo de todos esses citados acima e provavelmente inspirador dos outros, é geralmente tratado como o Santo Graal dos prêmios, embora cada um seja igualmente desejado, além de ser definidor para a mudança de qualquer carreira, para o bem (Charlize Theron, Jamie Foxx) ou para o mal (Cuba Gooding Jr., Kim Basinger), se é que existe algum mal em ganhar um boneco dourado desse, ou que não represente pra muita gente o ponto máximo da carreira. Por essas e outras é que provavelmente ano que vem estaremos aqui debatendo, escrevendo e envolvidos com uma nova edição do Oscar.
Vamos às nossas apostas em cada categorias então:
FILME
A essa altura quatro filmes ganharam a dianteira, num ano onde a categoria principal nunca esteve tão aberta. Será resultado do ballot preferencial, que tirará a certeza sobre qualquer vencedor nessa nova forma de votar a categoria principal, que induz a um resultado de comum acordo. Os quatro filmes são A Forma da Água, Corra!, Lady Bird e Três Anúncios para um Crime, e claramente pode dar a fantasia de amor entre uma jovem muda e uma criatura aquática, o hit de bilheteria que mais discutiu tensões raciais do ano passado, a singela história do crescimento de uma adolescente em vias de se tornar independente e a história de vingança e crimes que se interpõem para discutir os lados obscuros do humano. É fácil observar que Corra! não tenha inimigos e Lady Bird não tenha a complexidade que um vencedor peça, ao passo que os outros dois têm torcidas apaixonadas e detratores anunciados. Essa deve ser a categoria mais aberta do dia 4.
Aposta: A Forma da Água
Ameaça: Corra!
Zebra: The Post
DIREÇÃO
Talvez a fácil vitória de Guillermo Del Toro aqui acabe criando uma narrativa para a vitória fácil acima da fábula do ano, mas ao mesmo tempo pode ser que coletivamente se pense que esse foi o prêmio grande de A Forma da Água. Além de tudo, a simpatia franca de Del Toro fez a temporada se apaixonar pela sua simplicidade e pelo seu amor pelo cinema que salta aos olhos. A narrativa feminina do ano poderá render votos a Greta, mas é difícil imaginar o terceiro integrante dos 'três amigos mexicanos' saindo sem esse prêmio no domingo.
Aposta: Guillermo Del Toro
Ameaça: Greta Gerwig
Zebra: Paul Thomas Anderson
ATOR
Se tem uma categoria de atuação que já está decidida (mais precisamente há um ano), é essa. Quem haveria de decidir contra Gary Oldman travestido de Winston Churchill? Nem a imprensa foi, nem os televisionados. Há por trás disso o claro sinal do reconhecimento de um ator cuja metade da vida foi vista nas telas e que sempre foi uma espécie de renegado, além de ter investido durante muitos anos num tipo histriônico e galhofeiro. As más línguas dizem que é o que ele repete aqui, e pra isso ressaltam a novidade e a naturalidade que é Timothee Chalamet, seu tímido rival, ou a tradição do reinado de Daniel Day-Lewis, um mito em raro momento despido. Mas a verdade é que ninguém ousou resistir ao ímpeto de premiar um grande ator que chega aos 60 anos disposto a um novo patamar.
Aposta: Gary Oldman
Ameaça: Daniel Day-Lewis
Zebra: Daniel Kaluuya
ATRIZ
Todas as setas apontam para Frances McDormand? Sim. Mas taí uma ponta do iceberg. Aparentemente, dos 4 favoritos do ano, só um tem menos de 50 anos (e apenas um ano menos), o que faria do quarteto desse ano ter a média etária mais elevada em muitas décadas. Isso tem a ver exatamente com Frances quando a gente acompanha a Academia anualmente se encantar e premiar jovens menores de 30, com o fato de essa categoria estar brilhantemente equilibrada em talento e merecimento como há muito não víamos, e o mais importante: dos 4 atores favoritos, Frances é a única que já tem boneco em casa, ganho há duas décadas atrás por Fargo. Em tese todas poderiam ameaçá-la, e até irão, mas não sabemos se serão suficientes para deter uma mulher capaz de tudo para encontrar os responsáveis por estuprar e matar sua filha, exatamente nesse ano. A Academia gosta de personagens mudas? Muito. A Academia gosta de it girls multi talentosas? Muito. A Academia gosta de histórias reais de desvalidas? Muito. A Academia gosta de Meryl Streep? Muito. A sorte está lançada.
Aposta: Frances McDormand
Ameaça: Sally Hawkins
Zebra: Meryl Streep
ATOR COADJUVANTE
É difícil entender o que aconteceu nessa categoria esse ano. Há 6 meses atrás, começava a se desenhar com força uma história de reconhecimento do talento de Willem Dafoe, bicho da indústria, funcionário padrão, um dos grandes atores do seu tempo nunca reconhecido a contento. Tendo tido sua primeira indicação há 32 anos (!!!!), Dafoe está perfeito em Projeto Florida como o gerente da espelunca que cuida de todos os moradores como se fossem filhos. A crítica entendeu a mensagem e danou de premia-lo, fazendo dele seu vencedor do ano. Aí vieram os televisionados... e Sam Rockwell ganhou tudo, num personagem nada agradável, super polêmico e com uma interpretação, digamos, arriscada. E Dafoe corre o sério risco de ser mantido na fila mais uma vez, para premiar esse outro grande ator num momento menor da sua carreira.
Aposta: Sam Rockwell
Ameaça: Willem Dafoe
Zebra: Woody Harrelson
ATRIZ COADJUVANTE
Nesse duelo de veteranas nunca reconhecidas pelo cinema como deveriam ter sido, fica o lamento de só poder premiar uma. Na última hora, a indicação surpresa de uma terceira monstra dos palcos e TV (no caso, britânica) veio esquentar um duelo que era único entre 'mães': a amorosa e solitária de Lady Bird e a autoritária e maléfica mãe da atleta Tonya Harding. A elas, se juntou uma irmã, no caso do estilista Reynolds Woodcock. Alisson Janney e Laurie Metcalf se enfrentaram a corrida inteira, e Lesley Manville se manteve britanicamente distanciada. Será que terá gás pra derrotar duas lutadoras? Bom, uma coisa é preciso ser dita, essa é a categoria de interpretação mais equilibrada para definir a vitória. Mas quem aposta contra uma mãe má como o capeta?
Aposta: Alisson Janney
Ameaça: Laurie Metcalf
Zebra: Octavia Spencer
ROTEIRO ADAPTADO
A chance de premiar a vida e a obra de James Ivory, a chance de premiar o melhor filme do ano. Na categoria mais murcha da temporada, Me Chame pelo seu Nome nunca teve rival aqui. Segue pra vitória com tranquilidade.
Aposta: Me Chame pelo seu Nome
Ameaça: Mudbound (na real, não há)
Zebra: Logan
ROTEIRO ORIGINAL
E se essa categoria for a única chance de premiar os fulgurantes talentos de Jordan Peele e Greta Gerwig? Uma categoria repleta de vencedores possíveis e a Academia terá de escolher um só, entre filmes tão diferentes. Comédia, terror, policial, fantasia; entre apostar em personagens bem construídos e diálogos inspirados ou numa das mais inusitadas tramas de 2017, fico com a segunda. Podendo claramente perder a aposta.
Aposta: Corra!
Ameaça: Lady Bird (na real, todos)
Zebra: Doentes de Amor (ah é, tinha esse troço perdido aqui)
ESTRANGEIRO
Sei lá viu... ok, eu não gosto de Em Pedaços, mas ele tinha se tornado o favorito claro e a Academia não o indicou. Me deixou feliz, mas praticamente abriu as possibilidades de vitória entre os 5 concorrentes. A Suécia tem a Palma e o humor a partir do absurdo; a Rússia tem um olhar familiar devassado pelo suspense; o Líbano tem o conflito étnico mais explosivo do ano; o Chile tem a temática trans e a empatia de todos; a Hungria tem o exotismo de sua história e uma diretora mulher. Façam suas apostas, que essa aqui tá dificil.
Aposta: O Insulto
Ameaça: The Square
Zebra: Corpo e Alma
FOTOGRAFIA
A hora e a vez de Roger Deakins, enfim.
Aposta: Blade Runner 2049
Ameaça: Mudbound
Zebra: O Destino de uma Nação
MONTAGEM
A categoria técnica que pode promover uma enorme surpresa.
Aposta: Dunkirk
Ameaça: A Forma da Água
Zebra: Eu, Tonya
FIGURINO
A chance de premiar o sensacional filme de Paul Thomas Anderson.
Aposta: Trama Fantasma
Ameaça: A Forma da Água
Zebra: Victoria & Abdul
DIREÇÃO DE ARTE
O passado comandado por Del Toro.
Aposta: A Forma da Água
Ameaça: Blade Runner 2049
Zebra: Dunkirk
TRILHA SONORA
Mais um Oscar pra Desplat?
Aposta: A Forma da Água
Ameaça: Trama Fantasma
Zebra: Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi
MAQUIAGEM
Eles adoram essa dobradinha, ator + maquiagem.
Aposta: O Destino de uma Nação
Ameaça: Extraordinário
Zebra: Victoria & Abdul
EFEITOS ESPECIAIS
Agora vai, Andy Serkis?
Aposta: Planeta dos Macacos: A Guerra
Ameaça: Blade Runner 2049
Zebra: Guardiões da Galáxia 2
CATEGORIAS SONORAS
Ambas para Dunkirk, né?
ANIMAÇÃO
O reinado da Pixar não tem fim...
Aposta: Viva!
Ameaça: não tem
Zebra: todos os outros
Pois é. No placar dessa temporada, The Shape of Water não ganhou nem uma vez sequer algum prêmio por montagem.
Em um ano onde se prometia muita emoção e muito embate, até que a corrida termina calma e decidida em muitas categorias
Quem fala assim não é gago!😉 (ou quem escreve, pronto...)
Também não entendi o porque dele ter colocado A Forma da Água como ameaça em montagem. Essa categoria está entre Dunkirk e Baby Driver.
Acho que "Três Anúncios para um Crime" leve além de "Melhor Filme", "Melhor Roteiro". Pode-se sair de fato o grande vencedor já que "Melhor Atriz" e "Melhor Ator Coadjuvante" é digamos certo!!!