No ano passado, Iñarritu mostrou seu inovador padrão de beleza com Biutiful. Dez anos antes, estreando no cinema, o diretor mexicano mostrava sua visão pessimista do amor e já engajado, porém de forma mais tímida, nessa mesma beleza vanguardista. Fazendo uma estréia arriscada tanto na abordagem do longa como no tempo de duração (153 minutos), com Amores Brutos, Alejandro González Iñarritu fez o que tinha de melhor e, hoje, já podemos ver o quanto promissor e eficiente ele é.
A técnica do longa é muito moderna e aborda assuntos tão modernos quanto. Violência, sexo e dinheiro, numa metrópole, não podia ser diferente. Quando assisti ao filme, lembrava o tempo todo de Pulp Fiction, embora o diretor garanta não ter influencia alguma deste quando foi questionado quanto a isso. Mas em nenhum momento questionei a originalidade da obra mexicana. O motivo da referência é muito mais por causa da narrativa fragmentada e do caráter sanguinário – que como já sabemos, isso é tarantinamente característico. Mas esse longa nem chega tão perto assim do excesso de ketchup das obras bem temperadas do brilhante Tarantino.
Por acidente, num acidente três histórias se cruzam; se chocam, na verdade. Gael Garcia Bernal, também estreante, é Octavio. Um jovem apaixonado pela sua cunhada a qual é brutalmente (no sentido literal) amada pelo seu irmão marginal. Encontra um meio de juntar grana para fugir com ela: colocando seu rottweiler em brigas ilegais apostadas. Paralela a esta, Daniel, um empresário bem sucedido, abandona esposa e filhos por Valeria, uma modelo típica: famosa e cabeça oca – entendam como quiser. E a terceira conta a história de Chivo que foi preso quando sua filha ainda era bebê e preferiu se dá como morto para ela. Vinte anos depois, livre, torna-se um matador de aluguel eficiente "disfarçado" de mendigo e que, ao mesmo tempo, tenta reaproximação com a família.
O nome original do filme é Amores Perros, que poderia ter sido traduzido ao pé da letra mesmo (Amores Cachorros), sem problemas. Aliás, seria muito mais condizente com o longa. Pois, dessa forma, evitaria os eufemismos que Iñarritu nem tão pouco se preocupa em usá-los. A obra é nua e crua quanto ao que se quer passar, sem meias palavras. Sem falar que todas as três tramas do filme têm alguma relação e significados com cachorros. Eles estão presentes o tempo todo e em excesso. Talvez para enfatizar o modo animalesco de amor tratado no filme.
O longa traz uma fotografia apressada que, além de ratificar o estilo cubista já citado do diretor, retrata o ritmo das grandes cidades. A narrativa fragmentada também só reforça essa perspectiva. O roteiro foi muito bem recortado e, na hora certa, levado a convergir num mesmo ponto. E isso tudo serviu para dá o dinamismo que a obra precisava, pois ela é mesmo muito extensa. Mas com abuso de eficiência, você assiste até o fim sem pensar em reclamar.
Traição que leva à morte, abandono que causa amputação e crime que traz isolamento, são os amores brutos do longa. É necessário assistir a essa obra que, embora seja muito pessimista, seu realismo compensa. É perturbador? Sim. Triste, também? Também. Mas, bonito de fato. Esse longa, sem dúvidas, era uma previsão para o “biutiful” moderníssimo do diretor. Embora ele seja dez anos mais velho, passa longe de ser, estourando, um ano mais atrasado. Amores Brutos é bom pra cachorro!
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