Nicolas Cage e Gore Verbinski costumam ser bons no que fazem, respectivamente, ator e diretor de alguns sucessos comerciais. Os dois possuem carreiras cheias de altos e baixos. Para muitos, O Sol de Cada Manhã pode ser considerado um trabalho menor de ambos. Se estivermos falando de sucesso de público e crítica, este não é o melhor exemplo da carreira de ambos, mas sem dúvida é um bom filme, pouco conhecido e subestimado.
A história de O Sol de Cada Manhã é basicamente sobre um homem infeliz por sentir que é o responsável pela infelicidade de seus familiares e que tenta de todas as formas torná-los felizes, bem como a si mesmo, mas que aprende que “fácil não pertence ao vocabulário dos adultos”. O homem em questão é Dave, interpretado por Nicolas Cage, que prova aqui que ainda pode ser um bom ator.
A história é simples, mas isso não impede que o filme supere nossas expectativas. Temos aqui personagens bem construídos, com uma sóbria narração de Cage e elementos interessantes e originais, além de sutilezas como a distância que Dave e a ex-esposa mantêm na primeira sequência em que os dois aparecem juntos, além das tentativas frustradas de Dave surpreender o pai com alguma novidade.
A narração é acompanhada de imagens e lembranças do personagem. Um belo exemplo de filme que soube usá-la de forma correta e criativa. Há bons momentos cômicos, quase de humor negro, que tornam a obra mais descompromissada, mais leve, mais sensível. Um filme que ganha alguns pontos por não se levar a sério demais.
As tramas paralelas, como a doença do pai de Dave (mais uma ótima atuação de Michael Caine), o novo romance da ex-mulher (Hope Davis), o envolvimento de seu filho (o menino de Um Grande Garoto) com um pedófilo e a infelicidade de sua filha que começa inclusive a fumar são bem desenvolvidas, graças a um elenco coadjuvante correto e histórias verossímeis. Talvez ele peque pelo excesso de “problemas” que acabam caindo sobre Dave quase que ao mesmo tempo, mas que são perfeitamente plausíveis e comuns na sociedade. Há de se elogiar também o desenvolvimento dessas histórias, construídas sem pressa, e, mesmo com o pouco tempo para cada uma delas em um filme que já é curto, os acontecimentos ocorrem de forma sutil, sem possíveis tropeços. Tudo isso bem acompanhados pela fotografia e a tocante trilha sonora que combinam bem com o clima frio do filme.
O filme possui alguns problemas, como o excesso de olhares para o “vazio” que às vezes incomoda, deixando com que o filme também fique “frio”, e não apenas o clima a qual os personagens estão submetidos. Há também clichês como a falta de luz no momento em que Dave iria fazer um discurso e um incômodo causado por duas crianças no elevador, o que serve apenas para reforçar ainda mais o já deprimente estado de Dave, mas novamente de forma cômica.
Esses pequenos tropeços, entretanto, não prejudicam o resultado final, que por sinal é bem positivo. Um filme pequeno em sua forma, mas grandioso nas suas discussões, como a relação entre pais e filhos, a incompreensão de determinadas mudanças que ocorrem na sociedade (muito bem retratada pelas dúvidas e alienação do personagem de Michael Caine) e a constatação de que prever e planejar a vida é tão difícil como planejar o tempo, pois não temos o domínio completo sobre nenhum deles.
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