Diferente de outros filmes dirigidos por Alfred Hitchcock, este filme traz uma história baseada em fatos reais - o que, talvez, faça com que assuma um clima mais realista. Diante disso, o mestre do suspense se utiliza dos movimentos de câmeras e da brilhante interpretação de Henry Fonda para emocionar os espectadores.
O longa narra a história de "Manny" (Christopher Emmanuel Balestrero), um sujeito que trabalha como músico no Stork Club (que atraía pessoas da alta classe na época) e, com muito esforço, sustenta a mulher e os dois filhos. Essa imagem é colocada desde o início, permeada pela figura de Rose (Vera Miles, de "Psicose"), que espera todas as noites pelo marido e cuida dos filhos e da casa. Por estar com dores nos dentes, pede ao marido que obtenha o dinheiro necessário, sempre com muita culpa. Manny, por sua vez, pensa em analisar a apólice de seguros de Rose, a fim de conseguir bancar os custos da operação odontológica (300 dólares). Encaminha-se à "Associated Life of New York", onde poderia obter por meio de empréstimo a quantia desejada. No entanto, ele é confundido por uma das atendentes com um homem que teria assaltado o local algumas vezes.
Partindo desse enredo, Hitchcock traduz para as telas as sensações de um homem inocente sendo incriminado por aquilo que não fez. Temperada pela música de Bernard Hermann, companheiro do diretor em muitos outros filmes, a trama se mostra cada vez mais instigante e imprime a ânsia de justiça e de aquilo esteja resolvido. Um dos elementos para que esse clima realmente funcionasse é Henry Fonda (de "12 Homens e uma Sentença"), um ator que se conduz totalmente pela alma de Manny - atormentado, mas que se mostra bastante sólido diante dos acontecimentos, que viriam a culminar em conseqüências drásticas.
Uma dessas conseqüências é a paranóia de Rose que, a partir do ocorrido, desenvolve um complexo de culpa que a impossibilitaria de continuar como estava. Em busca de solucionar os problemas de sua esposa, Manny a envia a uma clínica psiquiátrica para a sua recuperação. Vera Miles é muito eficiente como Rose. Ela, que era uma das atrizes favoritas de Hitchcock e também de John Ford (diretor de "Rastros de Ódio", no qual ela também participa), conduz cenas muito dramáticas e decisivas no decorrer do longa. Uma delas ocorre no término de "O Homem Errado", quando Manny vai visitar a mulher na clínica e ela se mostra bastante transtornada e mal responde às perguntas do marido. Miles também trabalhou em "Psicose" e também faria "Um Corpo que Cai". Contudo, por estar grávida no período de produção do filme, foi substituída pela bela Kim Novak.
O cineasta Peter Bogdanovich chegou a mencionar que Hitchcock, aos 5 anos de idade, foi punido por seu pai permanecendo durante 5 minutos preso em uma cela. Mesmo sendo um acontecimento que possa parecer banal, Bogdanovich ressalta que o desgosto pelo ambiente carcerário sempre esteve presente no cineasta e que, neste filme, norteia a idealização de algumas cenas. Uma delas, por exemplo, é bastante interessante por fazer com que a câmera parecesse uma "roda-viva", rodando gradativamente, demonstrando a preocupação e um certo desespero da personagem no cárcere.
Dessa vez, Hitchcock não aparece furtivamente em uma das cenas, nas quais aparece como um figurante - uma de suas marcas ao longo de sua trajetória. Em "O Homem Errado", ele surge na cena introdutória dizendo o seguinte:
"Eu sou Alfred Hitchcock. No passado, eu já lhes dei muitos tipos de filmes de suspense. Mas desta vez, gostaria que vissem um filme diferente. A diferença é que este filme é uma história real palavra por palavra. Porém, ela contém elementos mais estranhos que toda a ficção existente em muitos dos filmes de suspense que fiz antes".
Assim, entregaria mais uma de suas obras-primas, que devem ser lembradas para sempre.
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