O norte-americano por instinto, possui a alma de competição embutida no seu ser. Desde a época que era colônia da Inglaterra, passando por Primeira e Segunda Guerras Mundiais, Guerra Fria, Corrida armamentista e por aí vai. A galerinha da terra do Tio Sam precisa ser os melhores em tudo e pronto, a supremacia é objetivo inquestionável. Essa síndrome de superioridade é refletiva no trabalho e obviamente no mercado financeiro. A bolsa de valores, tema em questão, é palco das maiores falcatruas e especulações possíveis. Claro que toda regra possui exceções, mas a maioria dos 'trader's' são inescrupulosos e visam o lucro a todo custo. E esse mercado financeiro é uma faca de dois gumes, pode levar do céu ao inferno em questão de milésimos, gerando milionários ou formando miseráveis de formas muitas vezes não tão transparentes assim, como pudemos comprovar em "O Lobo de Wall Street". "Wall Street", explora de forma satisfatória o universo especulativo da bolsa dos EUA...
Escrito e dirigido pelo próprio Stone ao lado de Stanley Weiser, “Wall Street – Poder e Cobiça” narra à trajetória do jovem corretor da bolsa de Nova York, Bud Fox, que encontra a grande chance de se destacar no ramo das ações quando obtém uma importante informação sobre a empresa aérea em que seu pai trabalha e decide repassá-la ao bilionário Gordon Gekko, um homem que não mede esforços para fazer sua fortuna crescer através do competitivo mercado financeiro. Por mais que Stone tenha vários filmes duvidosos em seu plantel como exemplo "Alexandre", "As Torres Gêmeas", "W." e "Selvagens", sem dúvidas o diretor prima por temas polêmicos em seus projetos. Já abordou a guerra civil em El Salvador, explorou o Vietnã duas vezes, levou as telas a história de Jim Morrison e a banda The Doors, a vida dos presidentes JFK e Nixon, os bastidores do futebol americano e conseguiu comandar um bom suspense e até mesmo arrancar uma boa atuação de Jennifer Lopez, Stone sempre propõe controvérsias, discussões e precisamos reconhecer que é necessário coragem pra isso...
Nos quesitos técnicos, Stone da um show, a começar pela direção de fotografia, incumbida a Robert Richardson, que evidencia cores escuras e sem vida como o cinza, preto e um certo azul marinho, principalmente nos escritórios e prédios, afirmar um tom melancólico e frio dos ambientes em questão retratados. Apesar da frieza, o âmbito retratado na tela é glamoroso e requintado e isso é ainda mais confirmado tanto pelo figurino de ternos e vestidos impecáveis de Ellen Mirojnick e na direção de arte, a cargo de Stephen Hendrickson que nos direciona aos imponentes prédios de Nova York e averigua os interiores ressaltando todos os pontos positivos das localidades. Outro destaque interessante é a trilha sonora de Stewart Copeland que hoje pode soar brega e datada, mas que retrata fielmente bem a época retratada, utilizando muita bateria eletrônica e sintetizadores, fatores essenciais dos anos 80.
A conjuntura de composição do elenco acabou sendo apenas uma feliz coincidência, já que inicialmente, Stone queria Richard Gere para Gordon Gekko, mas Gere optou por estrelar "Uma Linda Mulher". Como segunda opção, o favorito era Warren Beatty, mas Beatty também possuía outra prioridade e acabou por escolher dirigir e protagonizar "Dick Tracy". Somente após essas duas desistências que surgiu o nome de Michael Douglas que vinha embalado por três sucessos "Tudo por uma Esmeralda", "Joia do Nilo" e "Atração Fatal", esse ultimo do mesmo ano de "Wall Street". Talvez o Oscar de Melhor Ator para Douglas tenha sido exagerado, visto que ele concorria naquele ano somente com nomes de peso como Jack Nicholson, Robin Williams, William Hurt e Marcello Mastroianni. De toda forma, a atuação de Douglas é visceral e eletrizante. Genko surge sempre com enorme confiança e sedução. Sua presença é imponente e sua enorme habilidade de negociação, seria capaz de vendar areia no deserto, mas mostra igual capacidade de passar por cima da ética se assim for preciso para conquistar seus objetivos.
Completando o plantel, vemos papeis menores, mas bastante eficientes e atuações positivas dentro do contexto proposto. Sean Young, que vive a esposa artificial de Gekko está ótima e Hal Holbrook aparece como um corretor vivido e experiente, que já presenciou de tudo na carreira. Outra ótima combinação fica a cargo da relação de Bud e Carl Fox. Pai e filho na vida real, Charlie e Martin Sheen estabelecem uma química natural entre os personagens. Bud surge como um ambicioso e ingênuo profissional que conquista a confiança do bilionário Gekko através de sua agressividade e brilhantismo. Martin Sheen encara Carl com simplicidade e aparece com um grande mentor para o filho. Fechando o grupo, contamos ainda com Terence Stamp como Sir Larry Wildman e a deliciosa e deslumbrante Daryl Hannah na pele de um interesse amoroso de Bud.
Auxiliado pela dinâmica montagem de Claire Simpson, Stone ainda reflete com precisão a atmosfera de urgência da bolsa de valores, empregando closes, dividindo a tela e agitando a câmera assim que o relógio anuncia a abertura do mercado. Stone ainda imprime com precisão uma critica acida a esse sistema implacável que é a selva dos valores. Como disse , obviamente existem as exceções, mas o foco é na corrupção e chantagem. O principal fator para não transformar o filme em obra prima é o insosso roteiro do próprio Stone, que poderia ter tido um acabamento muito melhor. No fim, todos acabam perdendo. É perdido empregos, apartamentos, namoradas e dinheiro. Mas o principal fator que é perdido, fica sendo a dignidade. Em um momento, quando Bud é admitido, ele ganha uma sala ampla e bela, ao passo que um antigo funcionário é demito. "Tenho dois filhos pra criar, vou parar é na sarjeta." Essa frase do sujeito é síntese do filme e que nesse meio, não existe clemencia e realmente o que prevalece é a lei do mais esperto...
"Greed is good!"
A seqüência é boa também.... Gosto de Stone e de Douglas. Belo comentário, Lucas.
Já a sequencia eu não gosto muito Cristian... Esse exemplar aqui mesmo já não é uma obra-prima...