O roteirista Guillermo Arriaga, parceiro incorrigível e inveterado de Alejandro González Iñárritu constrói aqui em seu primeiro longa, mais uma história comovente e singela...
A trama analisa o vínculo misterioso que une Mariana(Jennifer Lawrence), uma jovem de 16 anos que procura recompor o casamento de seus pais em uma cidade junto à fronteira do México, Sylvia(Charlize Theron), uma mulher de Portland que transa com desconhecidos, Gina(Kim Basinger), a mãe de Mariana, que tem um amor clandestino, e Maria(Tessa La), cujo pai sofre um acidente de avião.
O trio de protagonistas nos mostra como as mulheres são fortes, enquanto uma moça descobre o amor e principalmente o sentimento de culpa e raiva, uma mulher mais velha quer se esconder de seu próprio passado, dormindo com vários homens, e uma mãe que descobriu o amor fora de seu casamento e decide viver uma aventura mais perigosa do que imagina.
O péssimo título nacional denuncia o estilo de filme logo de cara e o espectador já sabe que terá que participar de um jogo de expectativas e adivinhação, sobre quem tem ligação com quem e quais os “segredos” que os personagens escondem. O título original (The Burning Plain) é mais metafórico e tem relação com acontecimentos ocorridos no meio do filme, o que é muito mais adequado.
O “fogo” queima aos poucos a vida de cada um e fica no ar pergunta: “aquelas vidas são tão vazias de amor, a ponto de que as pessoas tomem tais atitudes ou elas os fazem justamente por ter amor demais e não saberem lidar com isso?
A música é utilizada somente nos últimos minutos, como elemento inteligente de resolução simultânea e elemento possibilitador de emoção finalmente extravasada. É uma das melhores ausências do filme. Apesar da montagem não-linear em filmes de "histórias-que-se-entrelaçam" ter como característica esconder as principais informações até o último momento, se você é daqueles espertinhos que "sacam" tudo logo de cara não se preocupe aqui você vai ter trabalho para que isso aconteça.
Das atuações Basinger já demonstra rugas, mas isso é um charme a mais um bônus, Gina é sofrida mas esperançosa... Pelo menos com o futuro de seus filhos. Theron como sempre empresta não só beleza a seus personagens, mas também qualidade. Sylvia é amargurada e fria e era preciso uma mudança drástica em sua vida para que sua personalidade fosse alterada para o bem. Já a queridinha da América do momento, aqui era apenas uma jovem bela e promissora querendo mostrar serviço. Lawrence não está menos do que brilhante.
Muita gente vai dizer que o cineasta é repetitivo, e nunca vai sair da fórmula que criou para contar suas tramas. Bobagem. Pedro Almodóvar e Sam Mendes mudaram o rumo de suas carreiras enquanto Quentin Tarantino continua o mesmo, ainda que fazendo filme de guerra. Os filmes roteirizados por Arriaga sempre se valeram de conceitos que necessitam de uma certa suspensão temporária da credibilidade para que funcionem, para que o público realmente acredite quando os pontos se conectam.
A história dessas três mulheres não torna o filme extraordinário, mas o torna significativo mostrando que a escolha que o ser humano faz será carregada contigo sempre e no que isso pode nos tornar. “Vidas Que Se Cruzam” é uma história sobre família, sobre encontros e acima de tudo sobre o ser humano...
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