Charlie é um jovem solitário que já passou por traumas em sua vida. Ele convive com o suicídio recente de um amigo e as lembranças da morte da tia em um acidente. Começando o ensino médio, ele tem dificuldades em encontrar novos amigos, ainda mais que todas as panelinhas do colégio já estão formadas. Com o tempo acaba conhecendo Patrick e sua meia-irmã Sam, com quem passa a conviver diariamente. Ele descobre a felicidade, mas ainda sente falta de alguma coisa em sua vida...
Ter Chbosky no comando da adaptação mantém a força do material original. Ninguém entende e se preocupa com os personagens mais que seu autor, afinal - e ele valoriza cada momento de tela de todos eles. A primeira aparição de Sam, por exemplo, é memorável e Emma Watson esvazia em segundos qualquer resíduo de sua atuação como Hermione que possa teimar em permanecer na mente depois de 10 anos vendo-a no papel da bruxinha. Ela está adorável e sabe trabalhar toda a complicada bagagem da personagem...
A película toca em temas espinhosos, e de uma forma única, foge de clichês e em momento nenhum é piegas ou panfletário. As Vantagens de ser Invisível é basicamente sobre pessoas traumatizadas. Charlie tem um bloqueio devido a um trauma, e essa questão só é “solucionada” no final do filme. Sam, personagem de Emma Watson (deliciosa como nunca e sexual ao extremo) tem vergonha do seu passado, Patrick, seu meio irmão, tem um relacionamento amoroso escondido, e eles formam um grupo de desajustados, auto-nomeados como Invisíveis, por não se encaixarem no padrão de colegiais normativos americanos. Charlie se vê como parte de algo quando está com este grupo de amigos, e isso o ajuda a superar seus demônios e a se livrar de sua incômoda solidão. Na prática, os Invisíveis são como um grupo de apoio mútuo, onde todos sofrem, se descobrem e são felizes juntos...
As Vantagens de Ser Invisível, além de tratar de maneira tão delicada a amizade e os amores da juventude, é também excelente no que concerne ao amor pelas canções e pelos livros, objetos tão ou mais próximos da gente quanto uma amizade de verdade. Assim, Charlie é um leitor voraz e também adora fazer umas playlists de canções em fitinhas cassete, que funcionam no filme como um presente muito pessoal dos personagens a alguém que se ama...
Pequeno destaque para Tom Savini e Paul Rudd, que fazem dois professores com funções completamente diversas. Savini faz um mestre corretivo, um pouco fascista (pelo menos para um dos personagens) e que grifa as exclusões, enquanto Rudd faz um mentor na mais pura essência da palavra, incentivando Charlie e fazendo-o descobrir sua vocação, mas tudo isso é só pincelado. O destaque mesmo vai para Ezra Miller, já visto (muito bem por sinal) em "Precisamos falar sobre Kevin", que faz aqui um papel completamente diferente do anterior citado, é um garoto irônico, ácido, que odeia obviedades e com uma personalidade forte, seu Patrick é um personagem riquíssimo, e só é crível graças à ótima atuação de seu intérprete.
As Vantagens de Ser Invisível termina uma sensível história de amizade, descobertas e amor idílico que faz pensar. A frase "Nós aceitamos o amor que pensamos merecer", um dos motes do filme, sozinha, rende algumas boas reflexões. A vibração pelas descobertas, a expectativa pelo próximo "mistério", é igualmente emocionante. O filme me tocou demais, ao ponto de vir lágrimas no meu rosto... A bomba ambulante "O Espetacular Homem Aranha" foca na juventude e os ritos de passagem de Peter Parker. Talvez se Marc Webb tivesse lido o livro saberia fazer um cabeça de teia mais decente... E olha que Logan foi dispensado do papel do Aranha... Santa ironia Batimã!
Ótima crítica!! Belíssimo filme; um dos poucos a tratar com bastante veracidade esta fase da vida.
Obrigado Paula! 😁