Fenômeno. Essa é a primeira palavra que vem a cabeça quando se é necessário expressar o que é e o que foi a saga "Tropa de Elite" no Brasil. Muitos que detestavam a Segurança Publica do pais, após assistirem a fita passaram a ter outra opinião, quem não gostava de filme de ação passou a gostar e nem preciso citar a imensa onda de pirataria que o filme sofreu e pasmem! O mais assombroso é que mesmo com numeroso gigantes de cópias ilegais da película, o filme conseguiu carregar uma legião de curiosos aos cinemas, burgueses e operários, brancos e negros, todos com um único proposito, desvendar os tantos bordões que eram ditos no trabalho, escolas, nos barzinhos e em qualquer lugar que houvesse uma pessoa que havia se imergido na trajetória do talvez, mais grandioso personagem da cultura pop Nacional. Uma continuação era questão de tempo. Não só por quesitos financeiras, mas por necessidade da população em compreender o que viria a suceder com Nascimento e provavelmente nunca antes um subtítulo foi tão bem utilizado, pois agora o oponente e opositor é outro.
O filho de Chuck Norris agora não é mais Capitão e sim Tenente-Coronel. Continua no Bope, liderando os Caveiras, mas quem quebra o pau nas ruas enfrentados a escoria da sociedade é o agora Capitão Matias, que nem queria ir pra guerra e já deixou os traços iniciais de ingenuidade a muito tempo. Logo nos primeiros minutos, vemos uma tensa tomada de bandidos no Bangu 1 e adivinha quem pode resolver a situação? Nascimento quer mais é que eles acabem uns com os outros lá dentro. Mas no seu caminho está Fraga, um ativista dos Direitos Humanos, que vê os métodos "não convencionais" dos Caveiras com um olhar crítico e infelizmente ele tem o apoio do governador do estado do Rio de Janeiro, que não quer repetir 'Carandiru' e assim minguar suas chances em ano de eleição. Após uma camisa cheia de sangue, Nascimento vê sua vida mudar totalmente e precisa encontrar forças com Mestre Yoda para travar uma batalha infinitamente maior. O nosso herói enfrenta ainda as adversidades de estar separado da esposa, ser visto como monstro pelo filho e encarando um novo cargo de subsecretário da Segurança Pública da Cidade Maravilhosa em meio a toda podridão possível...
O fato é, que durante a metade da projeção do primeiro filme, já conseguimos enxergar que a Segurança Pública do Rio está mais fodida e arrombada que vagina de prostituta. Não só o arsenal de recursos sucateado disponível, mas também a terrível administração realizada pela família Garotinho o que não impediu que sua esposa, Rosinha fosse eleita governadora nas eleições seguintes, mesmo sem possuir qualquer tipo de experiência política. Mas no Brasil já sabemos, a memória politica é uma coisa que acaba muito rápido. O filme trata esses assuntos de forma aberta, apenas mudando os nomes dos algozes, mas quem se lembra desses período conturbado ou queira dar uma pesquisada no Google irá ter conhecimento de toda a putaria que a população carioca vivenciou e vivencia sem dó nem piedade. O filme martela durante toda sua projeção, que o principal inimigo de um Rio de Janeiro melhor, são as milícias, grupo paramilitares em conjunto com traficantes que atuam para fornecer uma suposta segurança além de uma serie de outros serviços. A milícia se infiltra na política e no poder público e os usa para seu próprio benefício, a revelia daqueles que moram nas áreas de sua atuação.
O grande problema meu caro amigo é que nadar contra a maré é praticamente impossível e o filme retrata que quem tenta combater os corruptos, ou vai pra vala ou tem a vida transformada num inferno, perdendo emprego entre as maiores tipos de atrocidades possíveis. Quando uma repórter enxerida tenta desmascarar um forte esquema de propaganda de uma eleição é morta e queimada, isso sem antes claro, ser estuprada pelos crápulas. Na fita, os únicos que obtêm sucesso na empreitada, são o Fodaralho Nascimento e o Deputado Fraga, personagem claramente inspirado no Deputado Estadual do PSOL, Marcelo Freixo, responsável por trazer uma luz ao caos ocasionado pelas milícias e por liderar a "CPI das Milícias", onde cerca de aproximadamente 226 políticos foram acusado de manter relações com essas organizações criminosas. O problema que as milícias não oferecem porra nenhuma de segurança e controlam a população através de opressão e extrema violência, negligenciando serviços básicos, como a venda de água e até mesmo gás.
José Padilha ao lado de Bráulio Mantovani, autor dos dois livros dos quais os filmes são baseados, e Rodrigo Pimentel escreveram um roteiro espetacular. Aqui, Padilha desmistifica todas as crenças e certezas que Nascimento possuía para depois desconstruí-las de maneira estupenda, acabando com todas as esperanças do nosso herói. Em determinado momento, Nascimento traça um plano infalível, apenas para depois de uma audiência, perceber que nada do que planejou realmente aconteceu. Matovani, Pimentel e Padilha ainda brilham por criar um inimigo que é apresentando com uma onipotência estrondosa e chegamos a pensar que ele não pode ser derrotado e realmente não será. Os desafios enfrentados por Nascimento convergem de maneira explosiva em um conflito que mudará toda a percepção de realidade do personagem. E ainda, ele precisa lidar com a solidão pessoal em que se encontra e a rejeição constante de seu filho.
Padilha conta ainda com fantástico time de elenco para auxilia-lo ainda mais para contar a estupenda saga de Nascimento. André Ramiro dessa vez aparece pouco, mas sua presença é crucial para a história e Mathias é interpretado otimamente pelo ator. André Mattos da um show de interpretação como um sensacionalista apresentador de um programa de TV que logo conseguimos associar com a realidade. Sandro Rocha, que no primeiro filme tem uma participação discreta aqui volta com força total, se tornando um grande antagonista. Rocha é sanguinário, corrupto e não mede esforços para atingir seus objetivos maléficos. Mas quem se sobressai novamente é Wagner Moura. O ator transparece toda a angustia e sofrimento do seu personagem de forma convincente e totalmente realista. Com olhar cansado e semblante amargurado, Moura domina e parece ter nascido pra viver o papel. Sem exageros, podemos comparar não só o papel, mas a atuação de Moura com Al Pacino em "Serpico", que apresenta as mesmas semelhanças, dos ideias chegando até a desconstrução de suas crenças.
Tecnicamente, o filme é perfeito. Padilha convoca a mesma equipe do original. Daniel Rezende, responsável pela edição/montagem da fita, realiza um trabalho ágil e frenético, trabalhando com um esmero tão grande que fica impossível tirar os olhos da tela, o ritmo não cai um instante sequer. As cenas de ação ficam a cargo do mesmo grupo do primeiro filme, que veio dos States, responsável por filmes como "Falcão Negro em Perigo" ditam cenas de ação alucinantes e de imagens arrebatadoras. A fotografia desempenha um papel ímpar aqui, com Lula de Carvalho utilizando um jogo de luz e sombras não apenas para capturar a ação da melhor maneira possível, mas também para capturar os sentimentos dos personagens. após a sequencia de ação de operação no Bangu I, Nascimento vai para seu apartamento sombrio e escuro, contrastando com o ambiente claro e luminoso de cores quentes e aconchegantes onde Fraga e Rosane moram.
Obra-prima. Angustiante, impactante, claustrofóbico, "Tropa de Elite 2" é um filme que merece ser visto por expor as debilidades de um sistema nojento e egoísta, onde os lideres democráticos, responsáveis por garantir a segurança e trazer paz para sociedade, acaba por trazer mais desolação e problemas pra ela. O discurso emblemático de Nascimento no final, em meio a uma tomada com visão área da Esplanada dos Ministérios à Praça dos Três Poderes, com a nossa bandeira parada e enrolada, e fazer com que sintamos nojo do nosso país. Vergonha e indignação são os sentimentos que pairam após caírem os créditos finais. O sempre competente Milhem Cortaz, faz com que o espectador o ame e o odeie ao mesmo tempo, num trabalho formidável. Responsável pelos dois bordões máximos da fita, eles são a representação espontânea da película. "Quer me foder me beija" e definindo em uma palavra o que é o filme, o mais visto na história do Brasil, sendo assistido por mais de 11 milhões de pessoas "é o pica das galáxias"...
O grande herói que se mostra no filme é o Fraga!!! o Cap. Nascimento no começo do filme ainda é uma topeira de mão cheia (assim como no primeiro filme) só fala e só faz merda, mas felizmente até o final do filme ele melhora, e pela primeira vez na sua vida descobre quem são os verdadeiros inimigos do País, e que o buraco é bem mais embaixo. O filme ideologicamente é bem superior ao primeiro.