O conservadorismo muitas das vezes pode ser confundido com ignorância e preconceito já que ora bolas, várias mídias mostram cenas de violência, mas já o sexo ainda é considerado tabu, ainda mais na nossa sociedade brasileira e americana considerada quase sempre como liberal e contemporânea se comparada por exemplo com países da África e Arabia, mas nem sempre é isso que acontece. Cito isso porque na época do lançamento do filme, o filme causou muito rebuliço fato atribuído por retratar até então de maneira bastante polêmica pois retratava abertamente temas como pedofilia e estupro, apresentando também personagens bastantes ambíguos, movidos pelo desejo e libido, escravos de sentimentos irresistíveis e carnais. A legião da Decência , criada em 1933 por fiéis católicos queriam boicotar o filme de todas as maneiras já que consideravam muitas cenas indecentes e inaceitáveis. Elia Kazan não aceitava de jeito nenhum mas Jack Warner já havia investido muito dinheiro na promoção do filme e uma recusa da LD poderia fazer com que vários cinemas se recusassem a exibi-lo. Sem o consentimento de um nervoso Kazan, vários cenas foram picotadas retirando a 'sensualidade' e 'provocação' da fita. Felizmente para mim que não assistiu o original pois na década de 80 foram achados negativos originais possibilitando o relançamento com 6 minutos a mais mostrando as tão famosas cenas que foram postas de fora do original exibidos no cinema.
Tennessee Williams autor da peça de enorme sucesso na Broadway é um dos dramaturgos norte-americanos mais importantes e influentes do século passado. O autor tem mais de 12 peças adaptadas para as telonas. Homossexual assumido em uma época repleta dos tabus mencionados acima, grande parte de suas obras como essa que escrevo, abordava temas escabrosos como pessoas perturbadas, pervertidas e desajustadas, marcadas pela dor e a procura de redenção.
Traduzido de forma erroneamente para "Uma Rua Chamada Pecado" pois o correto seria "Um Bonde Chamado Desejo" mas tudo bem existem traduções bem piores não é mesmo? O filme conta a história de Blanche DuBois (Vivien Leigh) é uma mulher independente e cheia de admiradores, mas após perder sua propriedade e ter uma crise de “nervos”, ela vai morar com sua irmã mais nova, Stella (Kim Hunter) e seu cunhado, Stanley (Marlon Brando). A delicadeza de Blanche logo entra em conflito com o comportamento agressivo de Stanley, criando uma tensão que nunca tinha sido exposta de tal forma no cinema.
Vivien Leigh vinha do Oscar e do estrondoso sucesso de "... E o Vento Levou" e outras quatro interpretações posteriores não menos que ótimas, muitos boatos sempre existiram e vão existir a quem atores e atrizes do meio cinematográfico e Leigh era uma delas. Diziam na época que Leigh sofria de transtorno bipolar e em vários momentos da vida não conseguia distinguir o real e o do imaginário dos seus personagens, que treta não? Kazan se aproveitou dessa fraque de Leigh trazendo mais morbidez e depressão para dar vida a enigmática Blanche, não havia melhor atriz para o papel.
Brando foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas teve o azar de ter concorrido com Humphrey Bogart e seu "Uma Aventura na África". Bogart levou a estatueta para casa, certamente pelo conjunto de sua carreira, porque se fossemos encarar a melhor atuação de verdade, Brando venceria com folga. Aluno do "método" Stanislavski, Brando trouxe o mais próximo possível do real para os seus personagens trazendo também liberdade para improvisar apartir de conhecimentos somente superficiais sobre o texto ou fonte de origem. Por fim, o filme chocou ao apresentar um Marlon Brando extremamente sensual e viril (o corpo masculino jamais havia sido mostrado daquela maneira).
Mesmo sendo considerado, por muitos, escandaloso, o filme foi bem recebido pela crítica. Vivien Leigh levou a Volpi Cup de Melhor Atriz no Festival de Veneza, o BAFTA e também o Oscar. O filme ainda foi indicado a três Globos de Ouro e lembrado por outras associações de críticos dos Estados Unidos. Uma Rua Chamada Pecado foi indicado a 12 Oscars, tendo levado quatro estatuetas: Melhor Atriz (Vivien Leigh), Melhor Ator Coadjuvante (Karl Malden), Melhor Atriz Coadjuvante (Kim Hunter) e Melhor Direção de Arte em Preto e Branco (Richard Day e George James Hopkins). Até hoje, este é, ao lado de Rede de Intrigas (1976), o único filme premiado pela Academia em três categorias de atuação.
A química entre os dois atores principais é tão forte que o filme foi considerado erótico demais para a época, apesar de não haver contato algum entre Blanche e Stanley, mas a tensão entre os dois é tão forte que se torna sexual. Um filme atemporal que até hoje serve de referencia sobre o que são atuações de verdade...
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