É incrível como a nova safra de filmes de terror realizados a partir da era dos anos 2000 se mostram cada vez mais um amontoado de bobagens e afronta com seus telespectadores. Tensão não se existe mais, nem climas soturnos e amedrontadores é tudo somente um banho de sangue e vísceras nas telas. Assiste recentemente ao remake de "A Morte do Demônio" e me deu vontade de chorar... Não de medo, mas sim de tristeza e o pior! O filme ainda vinha com o slogan "O filme mais assustador que você irá assistir". Mais nem em um milhão de anos cara pálida. Um ou outro diretor consegue dar um pouco de dignidade a esse gênero como James Wan por exemplo, mas a grande maioria são diretores que parecem ter 11 anos de idade devido aos roteiros chulos e risíveis, aos planos de direção e câmera mal enquadradas e qualquer outro tipo de abominação técnica. Tudo se resume a sangue. Sangue e mais sangue, principalmente nesses remakes e sequências intermináveis de grandes clássicos do passado. "O Mestre dos Desejos", lançado em 1997 não é um filme que irá fazer você se borrar de medo, mas pelo menos apresentar uma proposta interessante...
Graças a duas obras em particular, uma animação e uma série para ser mais exato, boa parte da minha vida tive uma impressão que o tal do 'Gênio' seria uma figura carismática, bondosa, cômica, serva e leal. Essas duas obra seriam "Aladdin" e "Jeannie é um Gênio". Então quer dizer que os Gênios não são seres amáveis? Não caro amigo, muito pelo contrário. De acordo com a cultura e mitologia árabe, os tais 'Gênios', seres capazes de realizarem desejos seriam conhecidos como 'Djinns' e foram forjados pelo fogo após a criação dos anjos e antes dos seres humanos. Agoniados pelo fato do Criador dar amabilidade exagerada aos humanos, passam a serem banidos da Terra e acabam por adquirir ódio mortal pelas pessoas. Mesmo enclausurados, após invocações, pelo fato de terem o livre arbítrio eles podem fazer tanto o bem quanto o mal quando chamados e geralmente distorcem os pedidos de seus amos e acabam por fazerem as maiores atrocidades possíveis.
Em "Wishmaster" conhecemos um desse Djinns movido por puro ódio. Ele quase dominou uma cidade persa, mas acabou aprisionado por um mago em uma gema vermelha. Libertado acidentalmente nos dias atuais por uma cientista, a criatura precisa coletar várias almas para retomar o poder anterior e para fazer isso, é só barganhar a alma de um humano por um desejo. Por fim, com várias almas reunidas, ele deve conceder três desejos ao responsável pela libertação, o que fará com que uma legião de Djinns aprisionados tome conta da Terra. Pode parecer meio bobo, mas o roteiro de Peter Atkins é extremamente bem construído e original, o que garantiu o certo sucesso e fãs do filme. Tendo trabalhado antes escrevendo os roteiros da franquia "Hellraiser", Atkins já chega aqui com certa maturidade e competência suficiente para trabalhar em uma trama que trás autoridade e compostura ao tão degastado gênero de horror e um fato curioso que na época do lançamento da película nos cinemas e VHS, o filme era vendido como 'suspense' e é isso que ele faz com primor.
O que me dá mais repudio das produções de terror atuais é que hoje em dia existe muito mais tecnologia, técnica e recursos para se criar monstros e demônios com qualidade doque a 30, 40 anos atrás, mas parece que os primatas que se julgam diretores não conseguem aliar isso a seu favor, tudo surge muito artificial e mecânico. Se observarmos produções como "A Morte do Demônio" (o original, por favor) e "Hellraiser" tudo era feito na raça e coragem e ficava perfeito. "Wishmaster" apresenta essa qualidade estética e visual não só na criação e composição do gênio, mas também nas sequências de mortes, mutilações e sangue, por incrível que parece tudo soa bastante verdadeiro, pontos para equipe de maquiagem e efeitos visuais chefiadas pelo próprio diretor da fita, Robert Kutzman e do veterano Greg Nicotero que hoje coordena e trabalha na serie de enorme sucesso "The Walking Dead".
A criação do gênio não teria sucesso sem o excepcional trabalho do venezuelano Andrew Divoff, o cara soube muito bem dominar seu personagem, Nathaniel Demerest. Agraciado com o prêmio máximo de terror da época, o 'Fear Session Awards', de melhor ator, Divoff é extremamente aterrador, com um olhar maquiavélico e psicopata, pronto para as maiores atrocidades a qualquer momento. A maior surpresa e boa por sinal é a participação cara limpa do eterno Freddy Krueger, Robert Englund. Na pele do milionário excêntrico Raymond Beautmont, Englund prova não ser um grande ator. As piores contribuições para que o longa não se torne clássico máximo do gênero ao lado de produções como "Halloween" e "Sexta Feira 13" seja o elenco. O irmão de Sam Raimi, Ted Raimi e Tony Todd não acrescentam em nada para com suas atuações e a protagonista da película, Tammy Lauren, além de não arranhar o calcanhar de Meryl Streep nem tão bonita é.
Como disse o melhor do filme é o roteiro e a construção do Gênio. Apesar de possuir poder quase que ilimitado, esse poder só é liberado após o pedido de determinada pessoa. Isso fica provado, quando por exemplo o personagem de Kane 'Jason Voorhees' Hodder é questionado sobre qual desejo quer e você fica pensando que o camarada quer carros, mulheres, dinheiro, mas não, ele simplesmente pede que o Djinn vá embora. Como a criatura precisa obedecer, ele dá a volta e começa a sair do local, mesmo contra a vontade, mostrando uma das fraquezas do gênio, simplesmente genial e hilário ao mesmo tempo, já que o forte do Djinn é manipular sua vítima, quase sempre se aproveitando de um último descuido que ela efetua em seu pedido. E lembrando também que o gênio não é um serial killer a lá Freddy Krueger ou Myers que matam tudo que se move pela frente ele só quer cumprir a tal profecia para atingir seu objetivo.
"O Mestre dos Desejos" sofre de um mal que acarreta outros filmes do gênero: o sucesso. Basta que um filme faça relativo sucesso que continuações são providenciadas quase que de imediato. Os outros 3 filmes da série são totalmente descartáveis, somente o 2º que desperta um pouco de curiosidade, mesmo assim não é obrigatório. Esse primeiro, merece ser conferido devido a sua coragem e originalidade para propor algo novo, mesmo que a conclusão e desfecho da trama não fique a altura de seu desenvolvimento. Talvez Kurtzman e Atkins falharam na conclusão por não saberem como derrotar Djinn, devido a seu grande poder, mesmo assim o filme possui qualidades que driblam esses deslizes. Produzido pelo mestre Was Creven, que nos anos 90 dirigiu outra obra bastante original "Pânico", "Wishmaster" não deve ser exibido para as crianças fãs do Gênio azulão de Robin Willians...
Tinha um sessão sexta à noite na Bandeirantes que só passava O Mestre dos Desejos e O Mestre dos Brinquedos. Marcou minha infância.
Nossa Cristian, nostalgia pura!