No inicio, metade dos anos 2000, o ocidente se deparou com uma enxorrada de filmes orientais com evidência maior da Coréia do Sul, em destaque obviamente a "Trilogia da Vingança" e "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera", claro quase todos os filmes tiveram notoriedade, não só esses e virou moda entre os cinéfilos e pseudo-cinéfilos assistirem e vangloriarem essa nova descoberta. Com narrativas e linearidades distintas, os filmes sul-coreanos permanecem em ênfase até os dias de hoje e parece que não irá perder tanta força assim, que sua 'moda' na verdade veio pra ficar em meio a tantos outros filmes que surgem ano após ano de todos os países que já possuem suas figuras carimbadas por aí e considerados por muitos expert's no assunto, países com prestígio e crédito como Itália, França e Alemanha. O mais legal é que "Memórias de um Assassino" foge completamente do paradigma dos outros filmes compatriotas. Seu estilo de narrativa possuí parâmetros norte-americanos e o triller policial é uma notória surpresa...
Em uma pequena cidade da Coréia do Sul, uma mulher é assassinada. A maneira de como é achado os corpos é de uma perversidade incrível. As suas roupas intimas servem de mordaças e a posição dos corpos dão a evidencia de um estupro. A policia local começa a fazer a investigação e quem lidera é o detetive Park, ele acha um potencial suspeito e o caso poderia teria sido fechado, mas provas dão a certeza que o suspeito não é o criminoso. Os chefes do batalhão sem saber como agir e coagindo com violência contra os suspeito,s acabam descobrindo que no fundo todos eram inocentes. Surge então um policial de Seul, o detetive Seo, gabaritado em seu trabalho e as diferenças de métodos investigativos começam a aparecer com a sua chegada. Porém o assassino volta a atacar e a policia vai ir ao extremo para achar o verdadeiro culpado. Baseado em fatos reais, houve 10 assassinatos de belas jovens entre 1986 a 1991 e onde 3.000 suspeitos foram interrogados. O filme espoe as dificuldades da investigação da polícia coreana em meio aos anos 80, obviamente dramatizando um pouco as situações e conjuntura dos protagonistas da trama.
Os maiores contratempos e adversidades enfrentadas pelos oficiais da pequena província coreana de Gynnggi são a precariedade dos artefatos para investigações e a situação política em que se vivia o país no período: a tal da ditadura. A população vivia dias de medo e receio, pois devido o clima de temor que abatia todo cidadão com toques de recolher constantes e eventuais exibições públicas do presidente, eles ainda foram obrigados a observarem dos crimes brutais contra mulheres que esse maníaco ocasionou na época. Em meio a toda essa apreensão, os órgãos de segurança pública tinham em seu encalço um insuficiente e deficiente arsenal físico para efetuar as investigações. Em determinado momento por exemplo, já se encaminhando para o encerramento da película, os inspetores são obrigados a enviar certas pistas para os Estados Unidos da América, pelo fato de na Coréia do Sul não existia equipamento tecnológico que pudesse desvendar o mistério, isso faz com que a espera deles seja prorrogada ao máximo entre outros percalços.
Mesmo que o filme fuja dos certos padrões criados pelas produções sul-coreanos, o diretor Joon-ho Bong
utiliza um artificio que é presente em todas essas obras, a lentidão inicial do desenrolar do enredo. Somente com quase uma hora de projeção que começa a haver um desenvolvimento mais acelerado. Talvez essa morosidade seja atribuída a necessidade de desenvolver a personalidade e o conceito de cada personagem para que o espectador veja os laços que ligam cada um deles. Joon-ho Bong cria um roteiro ao lado de Kwang-rim Kim e Sung Bo Shim que não foca apenas no solucionamento do caso em si, mas também o tanto que uma série de assassinatos desse tipo mexe com o psicológico dos oficiais da polícia e obviamente da população local. Uma outra particularidade que não pertence somente aos policiais brasileiros são os métodos de tortura utilizados aos montes nos inquéritos contra os suspeitos.
Joon-ho Bong ainda se mostra um exímio diretor demonstrando seu total apreço por sua cria. A parte visual do filme é excelente, composta com longas tomadas sem cortes e poucos movimentos de câmera e as cores utilizadas também são belíssimas, mesmo nos momentos noturnos do filme aliada a uma formidável fotografia. Outro grande acerto do diretor é sem dúvidas a escolha do elenco. Kang-ho Song, intenso colaborador do cineasta aqui da pele ao detetive Park Doo-Man. De início pode dar até raiva pelos ridículos métodos utilizados por ele na caça ao criminoso, mas aos poucos vamos vendo que esse despreparo é causado é motivado pela falta de treinamento e o seu desconhecimento em práticas mais sofisticadas. Seu personagem é responsável por boa parte cômica da fita, rendendo até mesmo uma exótica teoria sobre o culpado o levando a hilariantes incursões por saunas masculinas. Já o detetive Seo Tae-Yoon interpretado pelo também ótimo Sang-kyung Kim da um aspecto calado e compenetrado ao inspetor vindo da capital. A química entre os dois atores é fantástica e primordial ao sucesso da trama. No inicio da parceria dos dois é possível ver uma espécie de inveja que Park sente de Seo devido a eficácia e sucesso dos métodos utilizados por Seo, mas posteriormente os vários atritos que os personagens tem, surge uma admiração e amizade entre os dois.
Muitos na época do lançamento atrelaram o filme com "Seven" dizendo que ambos possuem características bastante semelhantes. Eu não vi muito disso em "Memórias de um Assassino" e se houve alguma inspiração não é nada que soe como plágio. O fato é que Joon-ho Bong soube muito bem criar um filme policial, dosando perfeitamente bem doses de suspense, drama, ação e comédia. A ainda uma ótima sequência de perseguição bem no meio do filme e eu não poderia deixar de mencionar o elenco de apoio que também está fantástico. "Salinui Chueok" é um filmaço, sem mais! Pode até ser considerado um clássico moderno e sem dúvidas é um grande expoente da remessa sul-coreano elevando o diretor ao patamar dos grandes nomes do cinema oriental...
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