Os detetives particulares Patrick Kenzie (Casey Affleck) e Angie Gennaro (Michelle Monaghan) assistem em casa as notícias do desaparecimento da pequena Amanda McCready (Madeline O´Brien), uma garota de quatro anos e que vive próxima a eles em Boston. Patrick sempre se orgulhou de conhecer muito bem a sua vizinhança e, talvez por isso, tenha como primeira reação a repulsa a esse crime de sequestro, acusando a mãe da garota, Helene McCready (Amy Ryan) de relapsa. Por seu lado, Angie Gennaro acompanha as notícias preocupada – afinal, ela sabe o que acontece na maioria dos casos de desaparecimento de crianças como esse. Mas os dois detetives logo passam da posição de simples espectadores para participantes do caso quando os tios da menina, Lionel (Titus Welliver) e Beatrice McCready (Amy Madigan) lhes contratam para ajudar nas buscas da menina. A dupla de investigadores, contudo, sofre com a resistência da polícia, chefiada neste caso por Jack Doyle (Morgan Freeman) e do FBI, representado pelo detetive Remy Bressant (Ed Harris) três dias depois do desaparecimento de Amanda. Mas como os dois conhecem bem a vizinhança, especialmente Patrick, eles logo começam a chegar mais longe do que as autoridades diretamente envolvidas.
Ben Affleck... Sua história no mundo cinematográfico é muito interessante. Do galã que já teve caso com Jennifer Lopez e hoje é casado com Jennifer Garner passando por um precoce Oscar de melhor roteiro original por "Gênio Indomável" em 98 hoje é tido como infinitivamente melhor diretor do que ator, tanto que seu último projeto na cadeira de direção "Argo" venceu o Oscar de melhor filme. É interessante como Ben Affleck, que também assina o roteiro junto a Aaron Stockard, constrói a trama nos fazendo desconfiar de tudo e de todos. Isso sem falar na forma com a qual a nossa curiosidade é aguçada a cada nova informação. O filme tem duas viradas importantes, uma na metade e outra na meia hora final do filme que vão construindo a resolução de uma maneira envolvente e surpreendente. Ainda que já esperemos algo diferente do que aparentava.
Os personagens da trama são todos extremamente bem construídos, profundos, reflexivos e repletos de nuances. Suas atuações eficazes carregam o longa dentro da atmosfera densa proposta pelo filme, tudo isso aliado a fotografia acinzentada e opaca da noite, que envolve suas personagens nas sombras, e a saturação amarelada do dia dos subúrbios de Boston. A direção de arte que confere veracidade a essa degradação proposta pelo filme, seja nos ambientes residenciais fechados ou nas ruas do bairro. Ben Affleck em sua estreia na direção, demonstra uma incrível habilidade em realizar uma desconstrução de valores e conceitos, colocando em xeque nossos ideais e questões éticas contra a parede à todo instante. Até qual ponto a verdade será a melhor de nossas escolhas? Quão frágil é nossa percepção sobre o que é certo e errado? Um excelente trabalho de estudo de personagens e de um grupo social.
Indicada ao Oscar como melhor atriz coadjuvante, Amy Ryan, que faz a mãe da menina, acaba sendo mesmo o maior destaque do elenco, ainda que Morgan Freeman nos brinde sempre com boas interpretações. O seu olhar em determinada cena na parte final é daqueles que diz mais do que textos imensos. Casey Affleck e Michelle Monaghan também constroem uma boa dupla de investigadores, com carga dramática suficiente para cada situação. E Ed Harris dá ao policial Remy Bressant o tom necessário para o desenrolar do seu personagem. Baseado em livro do mesmo romancista de "Sobre Meninos e Lobos" e "A Ilha do Medo", "Medo da Verdade" não se mostra como sorte de principiante de Ben Affleck, mas sim uma habilidade de uma ator medíocre que veio a demonstrar uma talento nato na direção de películas que acredito eu seja apenas questão de tempo e boa vontade dos dinossauros da academia para
ser agraciado como melhor diretor... Que venha mais de onde esse veio...
Belo texto, gosto muito do Affleck na direção!
Brigadão Francisco!