As tais das biografias, imergidas nas telas e transformadas em cinebiografias sempre vão trazer um pouco de discussões e dividir opiniões sobre o que está sendo tratado com veracidade e o que está sendo enaltecido e desfocado da realidade. Outro tema já bastante trabalhado em produções cinematográficas é o mito por trás da máfia e da vida dos gângsteres. Desde na década de 30 com a primeira versão de "Scarface", passando pelos clássicos "O Poderoso Chefão" e "Os Bons Companheiros" esse universo ora retratado com requinte ora sujo e 'underground' sempre permaneceu e permanecerá no imaginário de boa parte dos homens. O filme "O Mafioso", outra brincadeira acalorada por parte dos tradutores tupiniquins, que no original "Kill the Irishman" soaria algo como "Matar o Irlandês" e ficaria bem melhor, narra acontecimentos e as peripécias de Danny Greene, bandido famoso de Cleveland que quebrou a bodega na década de 70...
O filme ora retrata Greene como um cara de bom coração e emotivo, ora ele é o cara casca grossa que não leva desaforo pra casa e quer permanecer no poder a todo custo. Irlandês de corpo e alma, criado nos subúrbios de Cleveland, a vida nunca foi fácil pra ele, que desde cedo já parecia ser predestinado a se envolver em brigas. Trabalhador, nunca abaixou a cabeça para as adversidades que surgiam aos montes e pelo fato de não ter tido sorte ou oportunidades, acabou por optar pelo lado negro da força e logo jovem embarcou na criminalidade dos sindicatos em sua cidade. Greene se destaca dos outros bandidos pelo fato de ser leitor voraz de livros e tudo o mais que fosse lhe agregar cultura dos mais variados tipos de assunto. O carisma também lhe sobrava, sendo querido na maioria dos lugares onde aparecia, angariando fundos e amigos nas mais diversas áreas. Casou-se jovem, teve três filhos e o longa não o retrata como um pai amoroso e dedicado.
Com um elenco pica das galáxias ao extremo, o filme conta com atores do Reino Unido e do próprio EUA. Na medida do que é proposto, todos estão muito bem em atuações discretas, nada muito fabuloso. Com poucas cenas, Paul Sorvino é uma espécie de dinossauro dos gângsteres e tem participação efetiva na trama. Fionnula Flanagan é uma espécie de vizinha protetora de Greene e é responsável por singelos momentos com o protagonista. Linda Cardellini e Laura Ramsey são respectivamente ex e atual esposa e são deliciosas demais, a beleza delas é exposta a todo momento. Vinnie Jones e Vincent D'Onofrio são parceiros leias de Greene e suas presenças garantem robustez ao enredo. Ainda sobra espaço para o monstro sagrado Christopher Walken na pele de Shondor Birns que no inicio da trama se mostra um aliado amigável e importantíssimo para Greene, mas que os poucos vai se tornando um adversário cruel e impiedoso.
O personagem principal ficou a cargo do sempre subestimado e também irlandês Ray Stevenson. Stevenson é Greene de todas as formas, tendo pesquisado a finco todos os trejeitos e maneirismos do bandido boa praça e acabou por executar um trabalho primoroso e primordial para o decorrer da trama. Com poucos papeis na carreira, sua atuação é meticulosa, angariando sucesso para que o espectador criasse a simpatia necessária para poder acompanhar o longa. Transitando pelos sindicatos de todo o tipo, desde o gênero alimentício até mesmo aos coletores de lixo, Greene fazia questão de eliminar seus obstáculos, mas possuía faro apurado para negociações e resolução de problemas, sendo vítima do azar ao ter um empréstimo mal sucedido e ficando responsável pela má conclusão do negócio. Greene era tido como uma espécie de imortal, intocável, que contribuiu ainda mais para a criação de seu mito na sociedade e cultura norte-americana, com várias emboscadas e tentativas de assassinato frustradas a sua pessoa.
O filme possui uma narração em off de Joe Manditski interpretado pelo hoje fora de forma Val Kilmer. Manditski era policial incorruptível da policia local da época e tinha sido amigo de infância de Greene, voltando a ter contato com ele anos depois. O filme dirigido por Jonathan Hensleigh, responsável pelo mediano "O Justiceiro", apresenta registro de imagens reais e fantásticos da época, como noticiários, entrevistas e varias imagens e materiais excelentes realçando ainda mais a veracidade da história dos personagens envolvidos, como por exemplo a onda de explosões de carros dos mafiosos, coisa jamais vista na história dos EUA e que era noticiado com frequência na mídia regional, fazendo com que a ascensão e queda fosse mostrada 24 horas para todo o país e mundo dos envolvidos. Hensleigh escreve o roteiro baseado em livro escrito por Rick Porrello. O filme possui quesitos técnicos discretos e a péssima condução da narrativa pelo diretor, contribuem para um resultado mediano e aquém do potencial que o filme possuía, o que vale aqui mesmo são os personagens e seus interpretes.
Quem realmente foi Danny Greene? Bandido, mafioso, caridoso, ganancioso... Faltam adjetivos para destacar essa personalidade que causou frenesi em Cleveland nos anos 70... Seu fim trágico expos sua história ainda mais. Talvez ele deveria ter tido um filme mais digno de sua força física e psicológica, mas de toda forma "O Mafioso" merece ser conferido, porem não como prioridade...
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