O grande público pode chiar a vontade, mas David O. Russel sabe contar uma história. "Trapaça", "O Vencedor", "Huckabees" e "Três Reis", os filmes que eu assisti dele possuem qualidades impares e ele acaba concretizando que conferir seus currículo se revela uma tarefa obrigatória. Muitos afirmam que sua especialidade é focar nos personagens mas discordo plenamente, o ambiente onde se passa seus longas tem participação essencial no decorrer do enredo, seja o deserto do Iraque, ring's, escritórios e festas ou até mesmo o teatro. Em "O Lado Bom da Vida", Filadélfia participa de forma bem destacada devido a paixão de Pat Solitano pai pelos Eagles, time tradicional de futebol americano da cidade. Russel poderia ter guiado a trama da fita para o dramalhão pesado já que Pat Solitano filho, que é o protagonista da película é um sujeito que descobre sofrer de bipolaridade após sair mais cedo do trabalho, chegar em casa e se deparar com sua esposa o traindo, acaba por espancar o amante dela. Mas, felizmente "O Lado Bom da Vida" é muito mais do que isso...
Demitido de seu estável emprego, Pat acaba sendo internado em uma instituição mental e vê sua vida ruir cruelmente, tudo está indo para o fundo do poço, mas a determinação para reatar com sua esposa o da uma nova perspectiva e uma espécie de 'liberdade provisória' é concedia para o mesmo. O roteiro escrito mais uma vez pelo próprio Russel se nega a focar somente na depressão que abrange Pat e vários outros sentimentos e percepções que vão surgindo no ímpeto do personagem principal. Sua psique é explorada a todo instante e temos uma leve assimilação de como uma pessoa com esses certos problemas realmente se sente. Todas suas obsessões, convulsividade e síndromes são expostas sem dó, e é impossível não se sensibilizar com o sofrimento vivido pelo cara. Como nos comovemos com Pat, acabamos por ficar furiosos também quando ele tem seus ataques que só ocorrem pelos motivos mais pífios e rídiculos e em certos momentos a relação com seus pais se torna totalmente insana.
Vemos Robert de Niro a vontade e tão bem, que logo remetemos lembranças dos tempos áureos de suas parcerias com Scorsese. É tocante mesmo com todas as excentricidades do filho o amor que ele nutre pelo mesmo. Mas se repararmos bem, os trejeitos de Pat filho talvez tenham sido herdados do Pat pai. O fanatismo que o pai sente pelo Eagles é extremo e mesmo ele sabendo que suas crenças, mandingas e manias não interfiram para a vitória de seu time ele as pratica fervorosamente. Bem, talvez influencie, mas de nada ajudam a reerguer e moderar o comportamento do filho. Dolores Solitano não fica pra trás, a matriarca da família interpretada otimamente pela também veterana Jackie Weaver mescla momentos de sobriedade com proteção exacerbada. Até mesmo o elenco de apoio funciona coordenadamente bem, John Ortiz como grande amigo de Pat, Julia Stiles e Shea Whigam como o irmão 'certinho' de Pat que em alguns momentos serve para gerar momentos de tensão contribuem para o sucesso do longa.
O comediante Chris Tucker é uma grata surpresa como o amigo mentalmente instável que tenta sempre fugir da clinica onde conheceu Pat. Depois de ter enchido o rabo de dinheiro na franquia A Hora do Rush, Tucker aparece pouco, mas guiado adequadamente por Russel trás momentos engraçados e tocantes para a película. É nesse encontro de situações absurdas e improváveis que surge também a inacreditável junção do elenco. Inicialmente, Russel queria Anne Hathaway para interpretar Tiffany, mas devido a conflitos de agenda a atriz acabou desistindo do papel. Somente depois de derrotar 6 candidatas que Lawrence ficou com o papel. E pasmem! Devido a ter trabalho duas vezes, em "Três Reis" e "O Vencedor, o diretor queria o péssimo Mark Wahlberg no papel de Pat. Só essa combinação de equipe não ocorrer já valeria a conspiração conveniente para uma boa produção. O sucesso do filme não se limita a qualidade da obra, reverte também em bilheteria, rendendo bolsos cheios para os executivos. Tendo custado em torno de U$S 30 Milhões, a fita arrecadou mundialmente a quantia de aproximadamente U$S 235 Milhões!
Com 8 indicações ao Oscar, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Montagem/Edição e Melhor Roteiro Adaptado, do livro de Matthew Quick, a única pessoa agraciada com a estatueta dourada na cerimonia de 2013 foi Jennifer Lawrence. Talvez um prêmio um pouco exagerado, devido a atriz estar sendo a nova queridinha da América e quem merecia realmente naquele ano era Emmanuelle Riva pelo filme "Amor", de toda forma a atuação da atriz é totalmente energética. Belíssima e talentosa, ela possui uma simplicidade em seu jeito de ser que nos lembra alguém de nosso convívio, o que automaticamente a torna parte da família. Tiffany é perturbada, admirável e acima de tudo humana, e Lawrence parece alcançar esta equação sem dificuldades. Além de todos os elementos positivos do longa, sobra espaço para dança que como em "Pequena Miss Sunshine" fecha um clímax totalmente hipnotizante, onde ser o melhor não importa, apenas se divertir é o objetivo...
Talvez "O Lado Bom da Vida" não seja essa obra prima, mas pelo menos o filme proporciona discussões a respeito da verdadeira realidade... De quem realmente é o louco da história... Muito mais que uma comédia romântica, um drama e uma conversa aberta com milhões de pessoas sobre relacionamentos, família e acima de tudo, sobre essa fábrica de surpresas que é a vida...
Nossa Cristian eu gostei tanto da película que imediatamente após assisti-la comprei o livro para minha mãe que o devorou com 3 dias apenas e tive que comprar também o DVD pra ela que chorou litros, rsrsrsrs...
O que mais me tocou no filme foi o fato de apesar de ser uma historia totalmente absurda é uma situação que pode acontecer com seu vizinho de muro, ou até mesmo com sua família... São situações simples, mas pra serem sentidas...
Já me disseram isso antes, mas pra mim (chato que só ele) a maneira como a estória é contada é melhor do que a estória em si. Como você disse bem no começo do comentário, Russell sabe contar uma estória.
PS: não é a toa que meu editor favorito do site é o Koball!!!!😈😁
Teu escrito, tuas ponderações são muito melhores que o filme. Acho a obra de regular para boa. O oscar de melhor atriz foi um absurdo. O elenco no entanto convence, mas acho o roteiro problemático. Vale como a ressurreição de De Niro. Isso é minha opinião, ela em nada diminui teu escrito. Ele é agradabilíssimo e coerente. Temos apenas visões diferentes apenas no tocante a nota e avaliação.
Pois é Conde, a maioria das pessoas que eu conheço que assistiram o filme o acharam mediano, mas as vezes temos isso de gostar mais de um filme mesmo sabendo que ele não tem todas aquelas qualidades que o tornariam unanimidade, mas talvez pelo fato do filme lembrar em muito minha família eu me identifiquei demais e acabei por amar a película...