Quando me perguntam qual é o meu ator preferido, lembro-me de vários mas nunca dou uma resposta concreta, pois acho difícil ordenar atores e atrizes de talento nos incontáveis filmes já vistos e interpretações entregues. Mas sempre tive um carinho especial por Marlon Brando. Sua personalidade explosiva oscilante, algumas vezes bondosa e enigmática o tornava acima de tudo; um humano como todos nós cheio de erros e fraquezas. Acredito que seu ego devia ser um pouco inflado e trabalhar com ele nos set's de filmagem era por algumas vezes desgastante e com sérios atritos. Falava o que queria o que pensava e pouco se lixava para o que os outros iriam fazer e pensar sobre isso.
Escrevo essa pequena introdução sobre um dos maiores atores do cinema mundial que já pisou nessa terra apenas para citar as enormes brigas e desentendimentos que houveram nas gravações do filme "Júlio Cesar" de 1953, entre Brando e o interprete de Brutus, James Mason. Mason reclamava constantemente que Brando deliberadamente tentava roubar suas cenas e atrapalhar seu desempenho. Brando que vinha do famoso Actors Studio utilizava o 'método Stanislavski' e o improviso era recorrente em suas atuações e em especial nesse filme, fato que incomodava demais James Mason. Reza a lenda também que John Gielgud que personificou Cassius queria testar a capacidade de Brando em interpretar um texto clássico pois achava Brando um charlatão, mas acabou totalmente surpreendido e até elogiou publicamente Brando posteriormente as filmagens e lançamento do filme com a qualidade e dedicação que o ator demonstrou durante todo o trabalho.
Joseph L. Mankiewicz que já havia vencido a categoria de melhor diretor no Oscar duas vezes em 1949 por "Quem é o Infiel?" e em 1950 com o clássico "A Malvada" dispensa comentários. Sua carreira é marcada por vários outros trabalhos marcantes e não menos que memoráveis como o também como grandiosos "Cleópatra" de 1963. Mankiewicz aqui novamente mostra sua competência e conseguiu driblar e apartar as brigas e problemas internos, pois nada dessas desavenças aparecem no resultado final da fita. Um dos seus outros acertos foi ter filmado a película em preto & branco ressaltando na falta de cores e nos contrastes de luzes e sombras o caráter clássico do filme e texto que era preciso e a dualidade moral de suas personagens.
O filme ainda possui uma fotografia e direção de arte impecáveis. A recriação da Roma antiga ficou divina e somos transportados para aquela época imediatamente junto com o fenomenal figurino que ter dado um trabalho danado para conseguir. Não menos o filme concorreu a 5 Oscar vencendo na já citada Direção de Arte e melhor Trilha Sonora e foi indicado para Melhor Fotografia, Melhor Filme e Melhor ator. Brando ao longo de sua carreira teve 8 indicações para o Oscar e falar sobre sua trajetória se tornou clichê e blasé. Aqui sua interpretação é não menos que monstruosa e vivemos ao seu lado todo drama, angustia, egoismo e sofrimento que Marcos Antônio passa.
Todo o elenco está não menos que exemplar e ainda vemos ótimas atuações dos já citados James Mason e Joh Gielgud mas também de Louis Calhern como Júlio César, Edmond O'Brien, Greer Garson, Rhys Williams e da sempre competente Debora Kerr. Shakespeare que já teve inumeras de suas obras transportadas para as telonas, confesso que nunca fui um fã acalorado do mesmo. Gosto muito de "Romeu e Julieta" mas acabei gostando também muito de "Júlio Cesar" mesmo sabendo que deva ter havido muitas adaptações para não deixar o texto maçante e monótono. Apesar de não ser muito lembrado como clássico dos anos 50, é
atemporal devido novamente a mais uma entrega com louvor da atuação de Marlon Brando...
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