O alemão Wolfgang Petersen, mais conhecido hoje pelos filmes "Tróia" e "A História sem Fim" se arriscou nos anos 80 pelo vasto e perigoso gênero da ficção cientifica e obteve um resultado satisfatório com esse "Enemy Mine" já exibido massantemente nas redes abertas de tv nacional e hoje meio que esquecido por aí visto que o filme mais lembrado hoje em dia daquela década do gênero seja talvez "Blade Runner"...
O enredo mostra a guerra intergaláctica entre os terráqueos e os habitantes do planeta Dracon, povos que entraram em conflito pela ambição da conquista e domínio do universo, dando continuidade a constante busca de riquezas e degradação do meio. Entre batalhas, naves e um futuro sci-tech até nos dentes, conhecemos o piloto Willis Davidge (Dennis Quaid), onde ao proteger sua supostamente os únicos habitantes daquele mundo perdido, estão dispostos a destruírem-se mutuamente, entretanto as necessidades de sobrevivência perante uma natureza destrutiva mostram-se mais importantes que raça, espécie ou culturas divergentes. O draconiano, um curioso réptil hermafrodita, apresenta-se como Jerry (Louis Gosset Junior) e acaba adotando Willis como seu pupilo, ensinando sua língua, introduzindo-o em sua cultura ancestral e mostrando o outro lado da história.
Um dos fatos mais curiosos e divertidos do longa é que a raça do draconiano Jerry é "macho-fêmea", tipo que ao longo do enredo ele engravida e da a luz a um filhotinho, muito bacana essa sacada. Já na parte visual e de efeitos que ficaram a cargo do filho de George Lucas 'Industrial Light & Magic, que hoje qualquer criança ou pré-adolescente acharia dos mais simplórios possíveis para a época era coisa de louco que enchia os olhos, mas até hoje algumas cenas são excelentes como todas que envolvem os cruzadores espaciais. Toda a ambientação é realizada de forma brilhante com cenários esteticamente muito bem feitos e direção de arte de Werner Achmann é impecável, a trilha sonora de Maurice Jarre não é fabulosa mas funciona na hora certa com toques dramáticos sempre que solicitada. E a fotografia sempre escura de Tony Imi é outro atrativo a favor do filme.
A maquiagem do personagem do grande Louis Gossett Jr ficou super realista ora alternando entre o nojento-asqueroso para o 'bonitinho' e deve ter dado um trabalho danado também para ser feita. Por falar em Gosset Jr. por mais que não vemos seu rosto em nenhum momento fica clara a excelência de seu trabalho, pois identificamos em Jeriba um ser anos luz mais evoluído que os humanos com raciocínio calmo, mas eficiente que mostra seres extremamente envoltos na inteligência totalmente diferente dos fracos e egoístas humanos...
Willis representa o típico homem pós-moderno, fragmentado, perdido e confuso. Caracterizado por sua ambição, escapismo, arrogância, medo e angústia em se encontrar só, passa por um processo de identificação com Jerry, onde aprende sobre seus costumes e passa a também ser um draconiano, sendo a conclusão da leitura do guia espiritual de Jerry o desfecho desse “ritual de passagem”. A questão da fragmentação também é intensificada no momento em que precisa criar sozinho o jovem réptil Zammis (Bumper Robinson), filho de Jerry, ironicamente ensinando-o sobre a cultura do planeta Dracon. O jovem também implica em algumas questões, principalmente quando sofre por não poder se identificar como sendo um draconiano, outro ótimo acerto do roteiro.
O filme serve de base para refletir de forma mais cuidadosa sobre a questão da guerra, algo que existe desde o início da humanidade e que acredito que só terminará com o fim da mesma, sobre o racismo, a xenofobia e também sobre o preconceito e falta de discernimento sobre outras culturas, outro fator que tende gerar conflitos. Ainda que abordado de uma forma simples e até um pouco ingênua, Inimigo Meu é um prato cheio para quem adora antropologia e sociologia ambientadas em mundos imaginários e claro amantes do sci-fi também...
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