Ah patriotismo americano! Coisa linda (só que não!)! Enaltecido com grande entusiasmo principalmente após a segunda guerra mundial, e é comum vermos bandeiras estiadas o ano inteiro na mais simples casa nos subúrbios americanos. Lá se um camarada é pego falando mal da nação é praticamento linchado. Infelizmente, aqui no Brasil não gozamos das mesmas atitudes. Somente um comentário a cerca do título do filme, porquê aqui no país existe essa grande dificuldade em adaptar denominações de filmes estrangeiros? "O Grande Herói", tradução de "The Lone Survivor" que diretamente seria algo como "O Único Sobrevivente" seria algo bem mais plausível. O 'herói' do título de herói não tem nada, ele é um soldado que cumpre seu dever não se destaca em nada de seus companheiros, mas lamentavelmente aqui no Brasil é assim, doa a quem doer. Sobre o filme ele é uma espécie de enaltecimento extremo do exército e do dever do cidadão com os EUA, uma propaganda de alistamento com dois excelentes climax's de ação e boas atuações do quinteto principal...
O "baseado em fatos reais" é exibido em letras grandes e os produtores do filme fazem questão de deixar isso bem claro ao longo do enredo com vídeos reais exibido nos minutos iniciais e também porque o roteiro é escrito pelo próprio diretor Peter Berg, apoiado em livro de Patrick Robinson e outro livro das próprias experiencias de Marcus Luttrel sobre o episódio. Obviamente uma coisa aqui ou acolá deva ter sido romantizada para ficar bonita e impactante na telinha, mas é de conhecimento mundano que os traumas e situações vividas por soldados de qualquer exército do mundo mudam completamente a percepção e personalidade dos mesmos. No ínicio da trama somos familiarizados um pouco com a vida daqueles homens, antes de irem para o Afeganistão. Em uma mesa de madeira um papo descontraído é desenvolvido sobre reformas que a esposa de um deles pretende fazer em sua casa, se é caro ou não e as sugestões de seus colegas para que ela não o domine, cenas para que nos habituemos com eles e também uma forma de amenizar as cenas tensas que viram a seguir.
A trama gira em torno de quatro oficiais da marinha que recebem a missão de assassinar um importante membro do Talibã. Após um breve reconhecimento em território inimigo tudo começa a dar errado quando se deparam com pastores de ovelhas locais. Essa talvez seja a melhor parte do filme, até mesmo das cenas de ação, porque entra um questionamento totalmente humano. Poupar ou não poupar a vida de pessoas inocentes? Esse dilema atravessado pelos marines em momento crítico do filme abre espaço para as questões morais de cada um deles que são expostas de uma forma um tanto quanto tensa e a decisão tomada pela equipe irá influenciar o resto da operação e da vida de cada um. Ter a existência de um ser em suas mãos é uma passagem muito delicada, pois você está disposto a ter sangue em suas mãos para o resto da vida? Você pensa que o homem que você matou era um pai de família que nunca mais voltará pra casa? A hesitação da equipe é muito bem retratada e a aflição é de arrepiar...
Com os medianos "Bem-Vindo à Selva", "Uma Loucura de Casamento" e "O Reino" e os péssimos "Hancock" e "Battleship", Peter Berg entrega talvez seu melhor filme. Berg retrata com louvor o dia a dia dos homens que compõem as Forças Armadas Americanas em operação nos paises árabes. Desde o discurso de batismo do novato fortão até as ordens que são cumpridas sem questionamentos tudo é mostrado de forma impactante. Por mais que o cineasta carregue um possível posto de diretor apenas mediano uma coisa não se pode negar, ele sabe criar cenas de ação de tirar o fôlego. Tudo é mostrado e ninguém é poupado, tiros, machucados, escoriações, explosões tanto do lado americano quanto do lado do Talibã, o visceral é mostrado sem dó, voa tudo na sua fuça e não vemos cortes tremidos e detonações irreais de Michael Bay, aqui você consegue acompanhar os detalhes sem se preocupar em perder algo ou ficar confuso. Esse bom resultado é ancorado na excelente montagem/edição de Colby Parker Jr. que trás agilidade e segurança no desenvolvimento do enredo e as duas hora de duração passam voando. Pra fechar os destaques da parte técnica a trilha sonora de Steve Jablonsky que só aprece em momentos realmente necessários e o trabalho da equipe de maquiagem que tornam os ferimentos bastante reais.
Interpretando Michael Murphy, aparece o talvez azarado Taylor Kitsh que na minha opinião é um bom ator, mas que até aqui ainda não acertou a mão participando em maioria de blockbuster de qualidade duvidosas e verdadeiros fracassos de bilheteria. Eric Bana empresta sutileza e compenetração para o oficial Erik Kristensen que na realidade é um papel que não exige muito dele. Minha surpresa fica para com Emile Hirsch que na maioria das vezes faz filmes com cargas mais dramáticas e de teor mais frios e pode ser visto com vigor e todo seu potência em alta nos filmes "Killer Joe", "Os Reis de Dogtown" e "Na Natureza Selvagem". Mark Walhberg aqui segue sendo Mark Walhberg, que apesar de ter conseguido uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2007 por "Os Infiltrados" não é um Marlon Brando da vida, mas aqui seus trejeitos funcioanam para o que é proposto. O destaque fica para o sempre subestimado Ben Foster, roubando a cena todas as vezes que aparece. Com seu ar durão ele é o camarada que atira primeiro, pergunta depois.
Como nem tudo são flores as escorregadas da fita são quando surge o patriotismo desnecessário empregado por Berg. Além das frases pra lá de clichê do calibre de "Diga a minha esposa que a amo" passando por "Eles não são meus amigos, são minha família", a mais absurda e cafona que eu precisei voltar o player para saber se eu realmente tinha escutado aquilo foi "Você pode morrer pelo seu país, mas eu vou viver pelo meu." Sério cara, essa é de dar enjoo no estomago. As referências à honra dos soldados, à bandeira nacional e a lemas do exército estão presentes, claro! E as mortes são as mais belas que um soldado pode desejar. A ajuda dada pelo Afegão a Marcus ao meu ver soou um pouco forçadas, mas que se pode revelar dependendo do ponto de vista. De toda forma nada justifica o senso que parece estar aglutinado na alma de todo americano que eles podem, devem e precisam salvar o mundo dos 'vilões, que essa incumbência só é atribuída a eles, mas desconsiderando esses deslizes o filme pode ser uma boa opção despretensiosa...
Recepção morna tanto de público quanto de crítica, fator também determinante a filmes americanos relacionados a guerras do Iraque e Afeganistão, "O Grande Herói" merece ser visto devido as cenas de ação que parecem terem sido extraídas de games como "Medal of Honor" e "Call of Duty" o filme trás serenos ensinamentos sobre lealdade, honra e superação... Num é um "Platton" da vida, mas serve como uma passagem sem muitas exigências...
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