Certas mídias acabam se tornando maiores do que o próprio nome. Esqueça "O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas" e "O Exterminador do Futuro - A Salvação", que o 4ª capitulo até pode ser um filme eficiente, mas que não fazem jus ao nome Exterminador. O 1º e o 2º filme sim, esses honram tanto os filmes de gênero de ação e ficção cientifica. Cameron havia dirigido "Piranhas II - Assassinas Voadoras" antes de comandar "O Exterminador do Futuro", mas não podemos crucificar alguns diretores pelos seus primeiros filmes. Contudo, Cameron desde sempre se mostrou um amante de tecnologia, sci-fi e de alienígenas e isso fica comprovado diante a vários filmes de sua carreira, como os próprios Exterminador, "Aliens - O Resgate", "O Segredo do Abismo" e claro, "Avatar". Cameron, sempre muito criticado pela consistência de seus roteiros aqui conseguiu criar uma mitologia totalmente original com elementos de suspense e terror, personagens complexos, ótimas sequencias de ação e um vilão aparentemente indestrutível e ao mesmo tempo um dos mais icônicos da história do cinema...

Conseguimos afirmar e comprovar que a mídia se tornou monstruosa quando ela invade outras mídias e campos de produção. Ora, 'Exterminador' fez tanto sucesso que acabou por espalhar-se pelos quadrinhos, videogames, jogos, camisetas, bonecos e vários outros produtos que viraram febre nos anos 80 até metade dos anos 90. Mesmo as fitas possuindo alto teor de suspense e terror, o sucesso entre crianças e jovens era garantido. A história? Num futuro próximo, os humanos entraram em guerra com as máquinas, e sua aniquilação total só não foi consumada graças à liderança de um homem. É então que as máquinas decidem enviar ao passado um androide com a única e exclusiva missão de matar a mãe deste homem, chamada Sarah Connor, evitando assim o seu nascimento. Entretanto, os humanos também conseguem enviar ao passado um representante, chamado Kyle Reese, que terá a missão de proteger esta mulher e garantir o futuro da humanidade. Tenso hein...

O roteiro enxuto de Cameron em conjunto com Gale Anne Hurd, dessa vez não poderia ter funcionado de forma melhor. A começar pela já icônica e tão plagiada e satirizada entrada dos dois androides que aparecem nus no meio da noite. Após suas aparições, somos apresentados a ingênua e simples Sarah Connor, que trabalha como garçonete e não tem a menor noção do que sua vida se tornaria desse dia em diante. O cenário para uma angustiante caçada está pronto. Acredito que nunca no cinema um papel poderia ter caído tão bem para um ator, quanto T-800 foi para Schwarzenegger. Schaza, famoso nos States como fisiculturista já havia tido um certo reconhecimento por ter estrelado "Hércules em Nova York" e "Conan - O Bárbaro", mas foi como Exterminador que ganhou o mundo. Curioso, que o originalmente, o papel oferecido para Schwarzenegger foi o do guerrilheiro Kyle Reese, mas parece que predestinado, após ler o roteiro pediu para Cameron ser o vilão e o resto é história.

Antes de seus problemas com cocaína, Linda Hamilton fazia jus a seu nome, como uma linda e promissora atriz, mas infelizmente acabou se perdendo e por acasos do destino, foi até casada com Cameron de 97 a 99. Hamilton também está perfeita como Sarah, que consegue criar uma empatia com o espectador de imediato. A transformação do personagem ao longo da trama é de uma veracidade incrível, passando de moça passiva e simples para uma mulher forte e corajosa e podemos até mesmo fazer um paralelo com Maria, mãe de Jesus, já que ambas eram pessoas humildes e carregavam no ventre homens responsáveis pela “salvação” da humanidade. Hamilton é extremamente eficiente e convincente nas cenas em que precisa demonstrar o desespero e angustia de Connor. Mesmo que Michael Biehn não seja um ator versátil, ao menos convence como Kyle Reese e ainda conferimos participações mais do que especiais de Earl Boen, Paul Winfield e Lance Henriksen.

Mesmo com efeitos datadíssimos para os padrões atuais, Cameron contorna o pequeno orçamento e a limitada tecnologia da época com extrema competência e comprovando seu dom para cenas de ação. Cameron mantém a câmera em movimento, utilizando muitos planos, mas sem exageros, evitando que as cenas sejam confusas ou enjoativas. A seu favor, o diretor conta ainda com um ótimo trabalho de fotografia a cargo de Adam Greenberg, que opta por utilizar cores azuladas, enfatizando a frieza do robô e o clima sombrio e soturno do enredo do filme. Outro acerto é a trilha sonora fielmente anos 80 de Brad Friedel com muitos sintetizadores e bateria eletrônica. O ritmo alucinante e frenético da trama, só fecha com sucesso o longa graças a excelente montagem de Mark Goldblatt que alterna entre os planos de maneira empolgante sem exceder o número ideal de cortes, o que permite ao espectador entender perfeitamente o que se passa na tela. Cameron capta com precisão cada detalhe nas locações onde ocorre a extrema luta pela sobrevivência da humanidade, concluindo as qualidades da fita.

A espetacular sequencia final, culmina num clímax de uma simbologia tremenda. E pensar que o homem evoluiu a máquina, para posteriormente ser dominado por ela. Mesmo com todo sofrimento causado e o sentimento de urgente pairando a todo tempo, a única coisa garantida é o adiamento. Pesado, direto, tenso e seco. "O Exterminador do Futuro" é um marco para a história de ficção cientifica e até mesmo do cinema. É raro quando uma produção consegue mesclar um blockbusters com uma história totalmente original e empolgante. As falas de Arnold Schwarzenegger se resumem a somente 17 sentenças, mas menos do que isso já bastariam para caracterizar toda a história da película, e mesmo sendo poucas, o "I'll be back" já se tornou histórico. Quando Sarah Connor ouve o menino mexicano dizer que uma tempestade se aproxima, ela responde: “Eu sei”. Será que Cameron já sabia que o filme seria um sucesso?