"I am Legend", clássico da ficção cientifica escrito por Richard Matheson em 1954 já havia ganho duas adaptações cinematográficas antes dessa. Uma dez anos depois estrelada por Vincent Price dirigido pela dupla Sidney Salkow e Ubaldo Ragona. A segunda versão foi estrelada em 1971
por Charlon Heston e ganhou aqui no Brasil o título de "A Última Esperança na Terra". A fita dirigida por Boris Sagal retrata os questionamentos sociais da época e propunha vários debates filosóficos e sociológicos. Os mutantes não eram vampiros sedentos por sangue. Eram somente sensíveis a luz. Eles estavam determinados a destruir Neville, pois ele representava as causas da destruição da raça humana, isto é, a corrida armamentista. O final nos remete ao papel interpretado por Jesus Cristo em nossa sociedade.
Acredito que a versão mais fiel ao livro seja a de 64 pois foram feitas algumas pequenas modificações, mas que não alteraram as principais diretrizes da trama. Um exemplo foi o nome do personagem principal que se chamava Robert Neville e virou Robert Morgan. omo na versão estrelada por Charlton Heston, o novo filme com Will Smith fez uma série de licenças poéticas na história original. Ele é uma combinação do livro com o roteiro do longa de Heston. A discussão filosófica acontece, porém sem a mesma densidade. A versão com Smith, acompanhado na trama pela atriz brasileira Alice Braga, tem sua premissa em pequenas doses de adrenalina, porém sem perder uma ligeira aura artística. Às vezes falta um pouco de habilidade no tratamento de certos elementos, mas essas escolhas devem ser colocadas na conta dos engravatados de Hollywood. Eles insistem em tratar o público como se fossem um bando de despreparados sem muita paciência para a reflexão, ou que querem tiros e explosões a todo o momento.
Roteirista e produtor Akiva Goldsman conseguiu modernizar a trama propondo um debate sobre os temas atuais que afligem a humanidade. Goldsman que vinha de Oscar em 2001 por "Uma Mente Brilhante" tem grandes trabalhados no currículo como "A Luta pela Esperança", mas tem o lixo absoluto também "Batman & Robin". Até o conceito de Jesus Cristo reaparece com outros elementos bíblicos. Já na parte técnica a trilha sonora só aparece quando é necessária e o jogo de luz por parte da Fotografia também ficou sensacional. A direção de arte é magnifica pois a recriação de uma Nova York abandonada com gramado crescendo e totalmente abandonada é genial, deve ter dado um trabalho danado fazer aquilo. Já os efeito especiais também não decepcionam, alias com um orçamento pomposo e Lawrence vindo de "Constantine" era obrigação que as criaturas e outras montagens de cena estivessem no mínimo ótimas.
De qualquer maneira há qualidades de sobra para justificar uma visita ao universo de Matheson através dos olhos de Lawrence, relevando alguns pequenos furos de narrativa. Smith está competente como nunca. Quem diria que o maluco do pedaço tivesse duas indicações ao Oscar ao longo da carreira e outras várias boas atuações? Smith como Robert Neville é um homem amargurado, sem esperanças mas que tenta a todo custo contornar aquela situação. As cenas com a cachorrinha são emocionantes e me deixaram de olhos lacrimejados. Alice Braga também está excelente. Suas cenas de discussão com Smith e o prologo final estão show de bola. Lawrence sabe direitinho o que faz e o roteiro tem um ritmo diferente do que normalmente se vê por aí. E se as concessões comerciais existem, bom, ao menos funcionaram perfeitamente dentro das intenções do estúdio. Afinal, ninguém esperava o tamanho do sucesso do filme no mundo todo, mais de U$S 500.000.000,00 de bilheteria. Certa vez uma continuação foi anunciada... Nos resta saber se a ganancia dos executivos de Hollywood chegaria a tamanha afronta...
Baita pipocão. As cenas do cachorro são covardia.