O primeiro filme do cultuado diretor Ridley Scott, no famigerado ano de 1977, já apresentava o primor técnico pela imagem e visual que Scott tanto preza. Scott para seu primeiro trabalho escolhe o conto de Joseph Conrad sobre dois oficiais que pouco a pouco mesmo sendo rivais, não conseguem mais seguirem suas vidas sem a presença um do outro. Após ferir o sobrinho do prefeito de Strasburgo, o oficial Gabriel Feraud (Harvey Keitel) é condenado e cabe ao também oficial do exército Armand D’Hubert (Keith Carradine) informá-lo da decisão. Mas Feraud não aceita sua condenação e se revolta contra D’Hubert, principalmente pela forma como foi comunicado, diante de seus colegas de exército. Ofendido, ele desafia o rival para um duelo pela honra que, inacabado, marcaria o inicio de uma inimizade que duraria o resto de suas vidas.
O responsável pelas obras atemporais "Alien" e "Blade Runner", Scott em "Os Duelistas" já em seu primeiro projeto já nos mostrava o que iria por vir. Os planos perfeccionistas e os enquadramentos milimétricos exploravam ao máximo as paisagens francesas da época com um recurso utilizado posteriormente por Kubrick no também ótimo "Barry Lyndon"
o "zoom in" e "zoom out", valorizando as belezas das paisagens da natureza como se fossem quadros vivos na tela. a fotografia de Frank Tidy consegue criar um visual admirável nas inúmeras cenas noturnas, filmadas em ambientes fechados e iluminadas apenas por velas, além de utilizar uma paleta dessaturada que confere um visual mais cru e realista às seqüências que se passam durante o dia, sem jamais deixar de explorar o já citado potencial do belo interior francês. Na minha modesta opinião, sobre a parte técnica a fotografia é a que mais se destaca.
O roteiro aborda de forma totalmente clara o conflito entre D'Hubert e Feraud de forma totalmente clara e emocionante. D'Hubert é mais sensato e racional agindo sempre com a razão. Já Feraud é mais explosivo e emocional nos seus atos. D'Hubert sempre recoloca seu rival no seu caminho, como quando ele utilizando de seu prestígio solicita a seus comandantes que retire o nome de seu adversário de uma lista de traidores do rei evitando sua prisão, justamente por saber que sem Feraud seus duelos estariam condenados ao fim. Por outro lado, em diversos momentos o complexo D’Hubert questiona a finalidade daqueles duelos, o que o leva a decretar o fim deles quando tem a oportunidade (mas sem matar Feraud, o que lhe permite voltar a duelar caso queira). Os duelos eram, basicamente, como um vício que ameaçava a vida promissora de D’Hubert. Para Feraud, eram a motivação de sua vida. Mas nem só de acertos vive “Os Duelistas”. É inegável, por exemplo, que o narrador soa pouco orgânico e a narrativa, com seus grandes saltos no tempo, é claramente episódica, além da subtrama que envolve o casamento de D’Hubert e Adele representar uma quebra no ritmo da narrativa. Mas nada que comprometa a boa avaliação do longa.
A força do filme se concentra notavelmente nas atuações dos protagonistas formada pelo explosivo Harvey Keitel e pelo contido Keith Carradine. Confesso que nunca acompanhei de perto o trabalho de Carradine e ao longo de sua carreira ficou limitado a papéis de coadjuvante, mas aqui sua atuação caiu como uma luva e seu entrosamento com Keitel é fenomenal. Harvey Keitel dispensa comentários já que ao longo de mais de 40 anos de carreira sua competência já foi provada várias vezes. Só seu papel em "Vício Frenético" já vale pela carreira de vários atores por aí. No sanguinário duelo que ocorre em um estábulo, o realismo empregado é excelente. O cansaço dos personagens, já incapazes de segurar as espadas por muito tempo no ar é muito bem demonstrado também através dos graves ferimentos.
Ainda que não tenha o impressionante visual de “Blade Runner” ou a sufocante atmosfera de “Alien, o Oitavo Passageiro”, “Os Duelistas” é um bom filme, que serviu para colocar no mapa um diretor talentoso como Ridley Scott. Além disso, faz um interessante estudo sobre dois homens incapazes de se ver livres de seu pior inimigo, por causa de uma estranha obsessão: os duelos entre eles...
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