Por bem ou por mal, sempre aguardo ansioso os próximos projetos de Ridley Scott, afinal o diretor já no seu segundo e terceiro trabalho brindou o cinema com obras que figuram a lista de melhores filmes da história facilmente. E mesmo que Scott apresente uma filmografia de certa forma bastante irregular, mesmo que entregue filmes esporadicamente abaixo do esperado e razoáveis, todos expõem qualidades e características pessoais do cineasta e negar seu tato para conduzir uma produção é indiscutível. Sempre tendo seu nome envolvido em grande produções, o diretor tem o dom de trabalhar com gigantescas locações, guiar cenários com trocentos figurantes e protocolar diversas direções de arte fabulosas e prodigiosas. Em 2000, Scott entregou um filme fantástico e que mesclava intrigas politicas com esplêndidas cenas de ação, "Gladiador" se tornou sucesso de público e crítica e colocou novamente os filmes épicos em evidencia para o mundo.
A categoria que décadas passadas levava multidões aos cinemas e certos filmes do tipo que acabaram se tornando clássicos como "Ben-Hur" e "Spartacus" teve seu último grande suspiro em 1995 com "Coração Valente". Vários filmes do subgênero surgiram após "Gladiador", mas nenhum sequer apresentou um terço das qualidades e predicados que o longa estrelado por Russel Crowe exibiu em seu lançamento. Eis que os executivos da New Line chamam novamente o cara com entendimento do assunto e após pesquisas de qual contesto histórica inserir na trama, Scott concebe "Cruzada", no original "Kingdom of Heaven" algo como 'Reino dos Céus" e mesmo que tenha sido comprovado que o raio pode sim cair no mesmo lugar duas vezes, a película não continha as mesmas virtudes e bons atributos de seu antecessor e o filme acabou amargando fracasso de público e crítica...
Somente pra relembrar, a igreja Católica tocava o terror na galera na Idade Média. O povo não possuía um estado laico e muito pouco que você fizesse que desagradasse o clero já ia pra fogueira acusado de bruxaria e sacrilégio. Com o pretexto único e exclusivo de aumentar suas posses e riquezas no século XI o Papa Urbano II divagando diversas falsas alegações querendo "libertar a terra santa" do domínio dos árabes instaura as tais das Cruzadas. A população local havia se convertido ao Islã e os mesmos ocupavam o que hoje é seria a Síria, Palestina, Mesopotâmia e parte da Ásia. Com o pau já quebrando e Jerusalém tendo caído para Roma setenta anos após os conflitos, eis que surge Saladino, sultão que consegue unificar o Povo do Crescente e reunir um vasto poderio militar, conseguindo combater os templários. Sua habilidade na guerra, diplomacia e honra com amigos e inimigos se tornam lendárias. Saladino assina uma trégua com Balduíno IV O Leproso, mas devido a delicada saúde do representante da Igreja e a sede de poder dos que o cerca, a paz está ameaçada e é nesse exato momento que a aventura de Scott começa...
Os problemas do longa de Scott começam com um quesito que já compromete vários de seus projetos, o roteiro. Aqui, o diretor repete o processo de "Gladiador" de mesclar fatos históricos verídicos com muita ficção o que prejudica em muito a condução da trama. Talvez a culpa dessa vez seja do então novato no posto de escritor, William Monahan. A grande rivalidade de religiões não tem o acabamento que merecia e soluções preguiçosas e fajutas são jogadas em nossas faces a todo momento. Talvez o maior erro do filme seja a má construção do protagonista, Balian de Ibelin. Pra começar, acredito que Orlando Bloom tenha sido escalado, pelo fato que o ator estava em alta na época pela trilogia Senhor dos Anéis e Piratas do Caribe, pois cá entre nós, Bloom não é e nunca será um Marlon Brando da vida. Outro ponto falho da fita é sua longa duração de aproximadamente 145 minutos de duração. Um cortezinho aqui e ali contribuiria em muito para um resultado mais satisfatório pro filme.
Voltando ao personagem de Bloom, Balian, é inconcebível que um camarada com poucos minutos de treinamento se torne um lorde Jedi da espada e outra, Balian segue um camarada que alega ter traçado sua mãe (contra a vontade dela!), diz ser seu pai, ser um renomado Templário e pede para acompanha-lo para uma jornada lá nas profundezas do caralho? Scott essa foi demais pra mim. O elenco é recheado de nomes de peso, mas que parecem todos pagando a hipoteca. Jeremy Irons, Brendan Gleeson, Liam Neeson e Michael Sheen não acrescentam em nada para o sucesso do filme. Não vou falar mal do Ed Norton pois o ator é encoberto por uma mascara durante toda sua estadia e a única que se salva é Eva Green, mas só porque ela me provoca uma ereção instantânea, nada mais. Bloom até que não está de todo mal, pra lhe dar uma colher de chá a culpa maior é da construção de seu personagem.
O filme possui acertos claro, como eu disse praticamente todas as fitas de Scott na parte técnica o diretor é mestre. A reconstituição de época, figurinos e cenários são magníficos. Tal como havia feito com Roma, aqui em "Cruzada", Jerusalém também é reconstruída através da computação gráfica magistralmente. Aliás, este é um dos filmes de época mais precisos historicamente. As poucas liberdades tomadas dessa vez são o fato de que o personagem de Godfrey nunca existiu e que o Rei Balduíno na realidade morreu em 1185, um ano antes do começo da história o que pra mim já é muito. Sem dúvidas é uma grande produção, com centenas de figurantes, muitas cenas de batalha e todo o apuro técnico que Scott pode proporcionar e o dinheiro pode comprar. De toda forma, a parte técnica não salva os inúmeros desacertos da fita.
Comparar Orlando Bloom com Russel Crowe é sacanagem e uma piada de muito mal gosto. É a mesma coisa que você ter uma Hilux se endividar e ter que comprar um Voyage. E se "Gladiador" teve 12 indicações ao Oscar, "Cruzada" não recebeu nenhuma. Pelo menos o filme retrata bem A Ordem dos Cavaleiros Templários. É um filme razoável, mas se você por toda a carreira de Ridley Scott no papel, ele vai lá pro fim da lista como prioridade...
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário