Em Conduta de Risco os personagens centrais estão em crise de identidade. Por exemplo, Karen Crowder (Tilda Swinton) está há pouco tempo no cargo de conselheira de uma grande empresa que enfrenta ações judiciais por conta de um herbicida que pode ter sido letal para humanos. O espectador a vê gravando uma entrevista para a imprensa com cenas entrecortadas de seu “ensaio” para a gravação, ainda na frente do espelho de casa quando ela balbucia, hesita, esquece o que vai dizer, engasga. Na hora da entrevista ela se mostra mais segura, com o texto bem decorado. Mas ela foi colocada no fogo e está, de certa forma, passando por um teste no sentido de defender a empresa a qualquer preço ou “fazer a coisa certa”. A empresa e seu antecessor no cargo confiam nela...
Já O personagem principal vivido por George Clooney (que dá o título original do filme, Michael Clayton) mostra-se mais modesto inicialmente: várias vezes vai se definir como um “faxineiro”, aquele que limpa as sujeiras dos clientes do seu escritório e da empresa em questão. No entanto, quando o louco (mas não só - e nem sempre tanto) Arthur está desconfiado da lealdade de Michael, este lhe afirma que não é o inimigo de quem ele está se escondendo - e Arthur novamente se sai com uma boa frase de efeito: “Então, quem é você?”
Trata-se de uma história sobre ética profissional e social - e a linha que não deveria separar as duas -, cuidadosamente elaborada pelo talentoso roteirista Tony Gilroy, em seu primeiro trabalho também como diretor. Ele já havia provado ser ótimo escritor de diálogos (O Advogado do Diabo) e de personagens e suspense (franquia Bourne), mas aqui simplesmente atinge um equilíbrio digno dos grandes thrillers políticos setentistas. A tagarelice (é um filme de advogados, afinal) é constante e variada. Ele escreve com a mesma competência os ácidos comentários de uma mesa de pôquer, conselhos paternos e verborragias jurídicas. Do outro lado, a tensão não dá trégua e o único grande respiro do filme, o metafórico momento em que Michael sai do carro no campo, dura apenas pouco tempo...
Gilroy acerta também na seleção fortíssima de elenco (não dá pra errar com Clooney, Wilkinson, Tilda Swinton e Sydney Pollack); na confiança na direção de fotografia inspirada e atmosférica, mas sem excessos, de Robert Elswit (também de Syriana e Boa Noite Boa Sorte); e ao optar pela montagem de seu próprio filme, algo que faz de maneira não-linear, com grandes blocos de flashbacks e apresentações desencontradas de personagens. Leva um tempo para que entendamos todos os jogadores em campo, mas quando eles, bem como suas posições, são revelados, a partida vira clássico...
O Filme concorreu a 7 Oscar em 2008: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor trilha sonora vencendo apenas na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante para Tilda Swinton merecidissimo, pois ela está muito bem. Todas as categorias indicadas mereciam o prêmio, mas 2008 foi um ano bom pro cinema então a concorrência foi muito acirrada, das categorias que não venceram a que mais fiquei triste foi de trilha sonora, já que James Newton Howard, o co-autor com nosso Antonio Pinto na trilha de "Colateral", repete um pouco do estilo rítmico espaçado e bem marcado que este compositor vem usando, mas que funciona bem no clima pretendido...
"Conduta de Risco" não é um filme de ação a lá Bourne, nem um drama como "Todos os Homens do Presidente"... é uma película ácida e com um que de consciência ecológica e suspenses fantásticos...
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