É preciso que exista filmes ruins. Se todas as películas lançadas e produzidas fossem boas não existiria debates em relação a preferencia de cada espectador ou cinéfilo e também não teria concorrência, ou não existiria nem mesmo críticos. Não só no cinema, mas tudo na vida precisa existir a coisa boa e a coisa ruim. Obviamente quando alguém produz certo filme ela não quer que ele seja fracasso de bilheteria, publico ou crítica, longe disso, O autor quer que seu trabalho seja reconhecido e aclamado e no caso de não ser um blockbuster o dinheiro não faz tanta falta assim, somente umas indicações para prêmios ou o conhecimento de certas pessoas e pronto, a sensação de dever cumprido já está de bom tamanho. Existe alguns casos de frustração em relação ao potencial perdido da fita. As vezes fica a intuição ou percepção que o longa, nas mãos de um diretor mais experiente para tocar o barco, profissionais técnicos mais conceituados e renomados envolvidos na composição ou até mesmo atores mais prestigiados e com um talento distinto poderiam salvar a película da mediocridade. "Hick" se enquadra em todos os quesitos negativos possíveis.
Luli é uma adolescente de 13 anos que vive com os seus pais. Quando um dia a sua mãe decide fugir de casa, é acompanhada pelo seu pai deixando a jovem adolescente sozinha com uma arma. Luli decide também fugir em direção a Las Vegas. Durante a viagem a jovem conhece diferentes pessoas e locais que vão mudar a sua vida. A putaria da fita parte de uma premissa que Luli é bem madura para sua idade, só que em nenhum momento fica claro de onde veio essa maturidade da personagem, pois ela não tem de onde puxar o equilíbrio, juízo e circunspeção de sua personalidade, pois a mesma possui um pai fracassado e alcoólatra e uma mãe perua e devassa. E talvez o pior conceito do filme seja sua subjetividade, nada, absolutamente nada durante aproximadamente uma hora e quarenta minutos de duração fica totalmente lucido ou definido a cerca de qualquer fato expressivo. E outra, a viagem que Luli faz, sai do nada, passa pelo nada e volta para o nada. Não tem como um enredo ser mais surreal e sem sentido do que isso...
O engraçado é que o filme é baseado em livro da escritora americana Andrea Portes e a própria autora assina o roteiro. Eu não li o livro, mas não é possível que ele seja ruim tanto quanto a fita. Em vários trabalhos fica-se claro o qual a ideia quer ser passada para o espectador. Seja um filme para chocar, um terror por exemplo. Seja para somente entreter, seja um drama como "O Piano" que nos remete a todo o sofrimento que o nazismo proporcionou ao judeus e basicamente é isso, e até mesmo os filmes surtados do psicopata David Lynch você consegue absorver o que o diretor pretende exibir, o que é exposto na tela te gera a reflexão necessária para debater após a sessão, independente de quem seja, ou até mesmo procurar em algum site de busca a interpretação de cada pessoa que assistiu a película, mas com "Hick" nem isso acontece. Nos trailers o filme chegou até ser vendido como suspense, o que da vontade de dar boas gargalhadas e na ficha técnica dele, chega a ser apontado como comédia... Aí virou sacanagem das grandes...
Além do filme não possuir história alguma, outro ponto que comprova a ineficiência e a falta de qualidades da fita é a composição dos personagens. Além dos já citados pais de Luli, nenhum dos outros papeis, NENHUM possui ao menos um pouco de coerência, estrutura ou até mesmo um certo tipo de profundidade. Se analisarmos pra inicio de conversa o personagem que seria o mais intrigante de todos, Eddie Kreezer, não conseguimos absorver nada de sua personalidade. Em determinado momento nos é informado que ele teve um relacionamento com um dos outros personagens no passado e que seu caráter é totalmente agressivo e violento, mas como ele chegou até ali? Quais suas motivações e os motivos de sua psicopatia? E outra, ele trabalha para uma espécie de mafioso da cidade, chamado Lloyd, interpretado por Ray McKinnon e nunca é mencionado a ligação desses dois personagens, já que Lloyd humilha Eddie a todo momento. Ficamos mais perdidos que cego em um tiroteio sobre a trajetória de Eddie e ela acaba muito pior do que começou.
E essa falta de conteúdo das personas acomete conjuntamente Glenda, a linda senhorita que da carona para Luli. Glenda, de passado também totalmente obscuro, ora se mostra agressiva, ora é bastante emotiva e age quase que sempre por impulso. Também não é ao menos mencionado suas parcerias e envolvimentos apenas é jogado e empurrado goela abaixo que ela chega na casa do já falado mafioso Lloyd e parece que ela é uma espécie de concubina do camarada. E já no ante clímax da fita, é jogado novamente sem dó nem piedade outro cara, Beau e aí meu amigo, se você entender o que ele está fazendo ali, tu merece um prêmio Nobel. Dono de uma cabana e trabalho com o abate de aves e... Pronto! Beau começa ajudar Luli sem nenhum motivo aparente, fica apenas a impressão que ele é o cabra mais caridoso do mundo. Fechando a equipe Robert Baker, Rory Culkin (o irmão mais novo de Macaulay, parece que o talento é de família) e Anson Mount se esforçam mas parece que nem conseguir pagar a hipoteca com o que receberam eles devem ter conseguido...
E chegamos finalmente a Luli Mcmullen, interpretada por Chloe Grace Moretz. A atriz até tenta dar ao menos um pouco de dignidade para sua personagem, mas não existe competência suprema que de conta de salvar um roteiro medíocre. De início inclusive, fica parecendo que se resumiria apenas a um exercício de fetiches e desejos proibidos dos produtores em colocar a mocinha para fazer papel de ninfeta com pouca roupa e vestuários quase inexistentes de tão curtos, o que de certa forma daria pra entender isso, pois na época, a atriz com 14 anos mexia e ainda mexe com o imaginário masculino. De rosto angelical e semblante inocente, Moretz chora, faz caras e bocas, mas não consegue salvar Luli do ridículo. A garota é boa desenhista e parte em busca de algo que nem ela mesma sabe e então a confusão toma conta de todo mundo. Moretz começou a engatinhar no cinema com papeis de criancinha engraçadinha em "Horror em Amityville e "Vovó... Zona 2", mas o reconhecimento mundial veio com "(500) Dias com Ela" e "Kick Ass". Moretz é boa atriz, mas não sei onde ela estava com a cabeça ao aceitar fazer "Hick"... Sinceramente...
Não sabemos a quem podemos atribuir a culpa de "Hick" ser um filme inexpressivo, grosseiro e ordinário. Talvez seja o diretor Derick Martini, que depois dessa fita não dirigiu mais nada na carreira. Talvez o roteiro de Portes que pelo que pude comprovar, apresenta algumas mudanças e liberdades a cerca de seu próprio livro, como exemplo no livro, o primeiro encontro de Eddie com Luli ela não insulta Eddie, ele simplesmente a joga pra fora do caminhão. Talvez a montagem de Mark Yoshikawa tenha sido confusa e ridícula ao bastante para trazer todos os adjetivos negativos ao longa. Possui coisas boas? Sim. A trilha sonora composta pelos gênios Bob Dylan e Larry Campbell que consegue apresentar um pingo de decência para a narrativa e claro a delicinha da Chloe que seria capaz de levar qualquer homem a cometer as maiores atrocidades possíveis para passar apenas poucas horas de seu lado. O fato é que a história não tem força e segue aquela linha de querer falar sobre tudo mas que acaba não dizendo nada. Definitivamente é um filme ruim, mas que de toda forma parece não ter manchado a carreira de nenhum dos atores, tanto que Redmayne ganhou um Oscar. Passe longe... A não ser que queira ver Moretz pagando de ninfetinha...
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