Os anos 80 não foram generosos com os Estúdios Disney. Com produções sem o brilho dos tempos áureos e totalmente turvas e irrelevantes, talvez o melhor trabalho daquela década tenha sido "O Cão e a Raposa", o que já não é grande coisa. Isso tudo no quesito animação, pois em live-action tivemos duas excelentes obras que foram "Tron" e "Querida, Encolhi as Crianças". As coisas começaram a mudar com o estonteante "A Pequena Sereia" e em 1991 tivemos o primeiro filme de animação indicado a premiação do Oscar na categoria de Melhor Filme, "A Bela e a Fera". A palavra hoje em dia "clássico", quando referida as animações possui um certo significado, logo sendo associada a palavra 'Disney'. Se fazia conexões imediatas as histórias de princesa com um final feliz no término das projeções, com número musicais e personagens coadjuvantes alegres e carismáticos. Hoje infelizmente, pelo menos para a geração atual já não se é mais assim e se "Frozen" tentou dar novo gás ao gênero, falhou amargamente e "A Bela e a Fera" permanece com uma história encantadora fazendo jus a era de Ouro da Disney...
Inspirado no conto de fadas de Roger Allens, “A Bela e a Fera” conta a história de Bela (voz de Paige O’Hara), uma garota entediada com a vida provinciana de uma pequena cidade francesa, onde vive também o galã Gastón (voz de Richard White) que, apesar de derreter os corações das outras meninas, não consegue conquistá-la com seu jeito grosseiro. Seu pai Maurice (voz de Rex Everhart) viaja para expor uma de suas invenções e acaba preso num castelo onde vive uma temível Fera (voz de Bobby Benson), que precisa encontrar o verdadeiro amor e ser correspondido para quebrar um feitiço e voltar a ser príncipe. A oportunidade surge quando, em troca da liberdade do pai, Bela aceita ficar presa no castelo. O que talvez tenha desagradado muitas pessoas ao assistir a fita, seria a velha e batida premissa do personagem buscar um sonho praticamente impossível de ser atingido, mas que com muita persistência irá realizado e da forma mais improvável possível e que realmente seja um tanto quanto banal e clichê.
Mas mesmo que a fita possua deslizes em sua história, o tal do 'clássico' não perdeu sua vitalidade e não perde em nada para qualquer filme 3D que tenha sido lançado pós era 2000. Visualmente, a fita continua estupenda e a narrativa é conduzida de forma brilhante. Isso é realizado graças a incrível Direção de Arte de Brian McEntee e seus competentes animadores que empregam na fita esplendorosas paisagens que são recriadas na tela com extrema exatidão como a aconchegante cidadezinha interiorana na França onde Bela vive. Na época da produção do longa, vale ressaltar que a ditadura digital e 3D ainda não imperava, então grande parte da animação foi feita na raça mesmo, somente com tinta e papel na mão, apenas alguns retoques nos planos finais que receberam a ajuda de computadores. É louvável conferir o esmero e cuidado de como foi gerado a película. Não só os cenários, mas também os próprios personagens foram confeccionados com total perfeição e momentos incríveis são exibidos na tela como quando a Vela de Lumiere se envolve em uma enrascada quente, mas que temos a sensação dele estar suando frio.
A composição do design da Fera foi bastante cuidadoso para não assustar muito os mais pequeninos. Numa mistura de touro, cão e a Gretchen, a besta surge inicialmente assustadora e de temperamento bastante explosivo, mas que com a presença de Bela vai se amansando e revelando um bom coração por trás de toda aquela perversidade e crueldade. E mesmo com todos esses defeitos, o roteiro é escrito de forma extremamente cuidadosa, para que o espectador crie simpática imediata pela Fera, isso em conjuntura após acompanharmos todo o sofrimento e comprovarmos as justificativas das suas atitudes, mas sem não antes nos sensibilizarmos ao extremo com sua condição e como tudo chegou a tal ponto. Em contrapartida, vemos o vilão tradicional Gastón, que pela sua força e beleza, possui o amor de todas garotas da vila, menos de Bela, o que acaba causando a ira dele. Em uma divertida analogia, o que realmente Gaston almeja é uma mulher submissa, que cozinhe pra ele e massageie seus pés após um longo dia de caçada.
O filme apresenta os já típicos e citados coadjuvantes carismáticos, marca registrada dos estúdios Disney. Dessa vez, contamos com o relógio narrador Cogsworth e o candelabro Lumiere que aqui, são extremamente engraçados, sempre querendo prestar um serviço de primeira a todos e nesse momento contamos com uma sempre harmoniosa e majestosa trilha sonora, com muita musica clássica, oscilando entre um tom alegre, de suspense ou dramático. Presenciamos ainda os ótimos personagens Madame Samovar e seu filho Zip, o velho louco Maurice e o trapalhão LeFou que terminam por completar o universo virtuosamente mágico do filme, tudo isso regado ao sempre incrível charme francês que é bastante explorado pelos roteiristas. Roteiro esse talvez o que possua o maior numero de pessoas envolvidas, são 11 no total. Algumas só tiveram participações no argumento inicial, mas no total todos participaram da criação do que é visto no longa, baseados na estória do conto original e a direção de Gary Trousdale e Kirk Wise são precisas ao ponto de conduzirem a narrativa de forma exemplar, auxiliados ainda pela ágil e eficiente Montagem/Edição de John Carnochan que exemplifica um ritmo dinâmico ao longa.
Talvez o maior atrativo do filme que encante desde crianças a adultos seja as brilhantes sequencias musicais, que tem funções narrativas primordiais para revelar não só a personalidade dos personagens, mas também o que cada um está sentindo nos determinados momentos. Seja para instaurar um clima mais soturno ou até mesmo para amenizar essa obscuridade, todos os números musicais são de encher os olhos. Essa trilha sonora, concebida por Alan Menken, é executada de forma arrebatadora e podemos presenciar as impressionantes "Be Our Guest", "Belle", "Something There" e a música tema "Beauty and The Beast", cantada por Angela Lansbury, que dublou seus personagem ao lado de alguns amigos que faziam o número musical na Broadway e migraram para a composição da película. Talvez o filme nem seja tão bom assim e somente marcou um período muito feliz de minha infância, ou talvez seja essa obra-prima que eu pense ser. De toda forma possui elementos característicos da melhor fase da Disney, e consegue captar a essência dos mais belos contos de fadas...
Nossa, eu preciso rever esse filme, foi o primeiro filme que eu vi na vida, óbvio que não lembro direito... Tenho que me preparar psicologicamente rsrsrs
e como sempre, belo texto!
Quando tiver um tempinho Alan o confira sim, é um filme mágico cara, não seja pra ser prioridade, mas vale ser revisto...
Eu sempre me encanto com este filme, principalmente com a cena da dança. Um dos gigantes da Disney, com certeza.