"O Assassino em Mim", do inglês Michael Winterbottom(que até então eu não conhecia), é um filme estiloso, bem feitíssimo, com uma magnífica direção de arte, uma esplendorosa reconstituição de época – anos 1950, numa cidadezinha do Texas. É também de imensa violência – uma coisa extremamente doentia, asquerosamente doentia. Mas a fita de Winterbottom fica com um gostinho de que faltou algo...
A coisa toda se passa ali pelos anos cinquenta, no interior do Texas. Uma cidadezinha de interior, pacata e sem muita novidade em seu dia a dia. Lou Ford (Casey Affleck) é assistente do Xerife Bob Maples (Tom Bower) e como tal, recebe a tarefa de conduzir a retirada “amistosa” de uma garota de programa da cidade. Ao que parece Joyce Lakeland (Jessica Alba) estava envolvida com o filho de um empresário local e a família queria dar um fim nisso. Lou se torna o mediador da coisa toda. Porém, ele tem interesses próprios nessa história e vai tentar conduzir a situação para alcançar seu objetivo: vingança.
Tesão e coerção se combinam no raciocínio lógico de Lou, que avança o sadomasoquismo até a morte. Essa força brutal que nasce dos punhos do vilão ganha amplitude quando ele encontra fotos nuas de sua mãe (não por acaso em meio às páginas de um Velho Testamento, com toda ironia possível), se insinuando para ele, clamando pelo castigo, e passa a relembrar de alguns acontecimentos relacionados. Mas esse flashback de uma educação aética não o afasta do problema (e da responsabilidade), já que matar é uma escolha tomada no ato e está mais ligada à sua própria mente desvirtuada e sedenta por vingança do que por uma criação submissa e turva. O lance de Lou é levar a cabo seu plano de vingar a morte do irmão (que morreu anos antes) a qualquer custo, a qualquer vida. Winterbottom abraça a violência frontalmente para mostrar que ela existe ali mesmo onde não se imaginava que ela poderia ganhar corpo. A violência tomou o corpo de Lou.
Michael Winterbottom (Código 46, O Preço da Coragem) faz questão de que a sua versão não seja esquecida tão cedo. O filme, que causou repulsa no Festival de Sundance, honrando uma tradição de 70 anos de escandalizações, exacerba a trama doentia de Thompson. Casey Affleck faz com gosto o xerife texano Lou Ford, espancador de mulheres. Lou tem o respeito das pessoas da cidade que vigia, mas se mete num imbróglio com uma prostituta (Jessica Alba) e com o filho do magnata da região.
O irmão de Ben Affleck como todos sabem é um dos melhores atores subestimados de Hollywood... Aflleck mostra todo o lado mostruoso e psicopata de Lou. Quem brilha a seu lado é Elias Koteas, pois Hudson e Pullman são apenas coadjuvantes de luxo e já Jessica Alba empresta somente sua beleza, aquela mulher é deliciosa demais da conta! A tão polêmica cena da surra mostra o lado de quem espanca também se cansa e fica combalido. A prostituta que só queria uma paixão fulgurante como aquela, recebe porradas com pedidos de perdão instantâneos, enquanto nada faz para se defender. Joyce simplesmente aceita seu destino, literalmente dá a cara a tapa, postulando-se como objeto de Lou. Ela apanha olhando no olho do amante incauto. Mas o rosto dilacerado dela é só o primeiro crime mórbido do policial, pois na medida em que outros personagens lhe demonstram algum perigo, ele logo trata de dar-lhes um fim.
O romance 'The Killer Inside Me', publicado em 1952, é tido como o primeiro trabalho da maturidade do escritor Jim Thompson. A partir daí, ele passou a escrever numa velocidade alucinante – entre 1952 e 1954, foram 12 livros. No total, escreveu mais de 30 romances, todos policiais, sobre crimes, criminosos. Se a produção era vasta, prolífica, a reação a ela não era tão boa; Thompson só passou a ser considerado um escritor de fato importante após sua morte. Infelizmente nunca saberemos se ela aprovaria essa fita ou não...
Faltou muito cuidado por parte da direção com os detalhes ao contar a trama.
Realmente Cristian, poderia ter saído um filmão mas bateu na trave durante todo o longa... 😢