O mais estranhos nessa fita é que o diretor José Joffily de longas como "Quem Matou Pixote?" e "Olhos Azuis" desconstrói totalmente a história original da qual o livro é baseado do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza (autor também do best seller Uma Janela Para Copacabana). Porque na verdade o personagem principal, o detetive Espinosa, é deixado de lado abrindo espaço para um coadjuvante do livro, que aqui assume como protagonista: Vieira um policial aposentado que guarda um segredo no passado.
Vieira acorda em sua casa, após um porre homérico. Não tem lembranças de nada, do que aconteceu na noite anterior ou de como foi parar ali. As coisas pioram quando antigos colegas aparecem na porta do apartamento para perguntas. Aparentemente, ele é o principal suspeito de ter assassinado a prostituta Magali. Acontece que os dois eram amantes, e lhe faltam motivos para tal crime. Enquanto é investigado, vai se envolvendo aos poucos com Flor uma garota de programa iniciante, que era “protegida” de Magali e dividia apartamento com ela. Ambiciosa, a jovem parece decidida a substituir o lugar da ex-colega na boate e no coração de Vieira, um homem perdido e frustrado, que precisa descobrir a verdade, mesmo que essa signifique sua própria condenação.
"Acahados..." tem aquele climão noir durante toda sua duração, o policial antagonista, as mulheres fatais e Chinatown e New York são substituídas por um Rio de Janeiro imergido na podridão dos subúrbios carioca. Tudo é escuro, abafado, onde a ausência de luz provoca mais estranhamento do que proporciona familiaridade, mas na verdade o charme é esse não é mesmo? A trama é conduzida com certa gravidade e às vezes afetação, a mesma que se encontra na tradição norte-americana da literatura e do cinema policiais. No livro de Garcia-Roza, o equilíbrio entre mimetização e recriação obtém resultado satisfatório. No filme, fica-se um pouco aquém.
O maior atrativo do filme realmente são as atuações. Sempre imaginei se houvesse um filme de máfia tupiniquim, Fagundes seria nosso Vito Corleone, nosso 'Poderoso Chefão'. Aqui como Vieira ele transparece toda amargura e decadência de seu personagem, entregando uma atuação totalmente convincente e explicita. Já Zezé Polessa também está ótima segura de seu papel e o poder de que ele exerce na história e sobre os outras pessoas. Gene´sio de Barros, Babu Santana e Hugo Carvana também estão exemplares, que aparece um pouco deslocado é Juliana Knust deficiente nas cenas de maior intensidade dramática, comprometendo muito o resultado final mas ela é bonita e gostosa a ponto de relevar essas características.
Ponto ou não para o roteirista, o certo é que Paulo Halm desconstruiu e desconfigurou totalmente a história original do livro que tinha Espinosa como personagem principal e aqui ele nem da as caras se você é fã do livro e relevar esses aspectos poderá até se divertir. A trilha sonora de André Abujamra, marcada por um cadenciado trombone, empresta caráter ao mesmo funesto e sarcástico ao martírio do personagem. Acontece que este noir melancólico ficou desbotado. As frases feitas do gênero, ditas em narração em off do atormentado Vieira, se acumulam: "queria morrer, mas não tenho coragem de me matar" , "era como se Deus tivesse me dado uma segunda chance" , "a gente pensa que o tempo vai apagar, mas sangue não dá pra limpar" e por aí vai...
Iniciativa interessante dentro do cinema nacional, Achados e Perdidos é um longa universal, que apesar do visual carioca poderia muito bem se passar em qualquer lugar do mundo. Apesar das deficiências de Knust, que estréia aqui no cinema, Fagundes e Polessa seguram bem o interesse, é um filme que cansa, principalmente na metade final, mas que possui atrativos suficientes para se justificar. Um trabalho que poderia ser muito mais, mas que ainda assim tem gás para encontrar seu lugar...
Bela análise. O filme é bom, mas me parecia meio "perdido" (desculpa. Não consegui evitar) e agora sei porquê. Não sabia da inversão de protagonistas e de ser baseada em um livro.
O livro é muito bom...
O filme fica no quase o tempo todo...