O longa conta a história de Filipa, uma adolescente de 14 anos que descobre que seu pai está tendo um caso extraconjugal, ao passo que o casamento de seus pais começa a ruir e ela intensifica suas experiências interpessoais em meio a dúvidas e questionamentos interiores.
A nível de elenco achei a escolha de Laura Neiva para o papel de Filipa muito acertada. Não só pelo seu talento em conseguir transmitir boa parte dos sentimentos e transformações da personagem como também pelo fato de a atriz ser tão jovem quanto Filipa, o que ajuda a tornar o longa mais crível e próximo ao público. Vicent Cassell como Mathias também foi sensacional. Seu sotaque da um ar de charme aos diálogos de seu personagem e Cassell mais uma vez se mostra um excelente ator tendo total domínio de sua atuação como já mostrou antes em filmes como "Inimigo Público nº 1" e "Irreversível". Já Débora Bloch surge bem e natural como a mãe problemática e infeliz da família.
Dhalia trabalha, no fim das contas, com situações clássicas, como a principal que é a descoberta do sexo na adolescência. Filipa é menina em corpo de adulta. A câmera do diretor de fotografia Ricardo Della Rosa desde a primeira cena cola em Laura Neiva, e não a perde mais de vista, nem submersa na piscina. A opção pela paisagem de Búzios está em sintonia com essa estética: o cinza escuro áspero das pedras em contraste com o liso suado da pele e os troncos retorcidos das árvores se confundindo com as curvas da puberdade.
Um dos poucos diretores brasileiros a se aventurar e ter oportunidades na terra do tio Sam, Dhalia tem aqui uma mãozinha de Fernando Meirelles o que só contribuiu para o sucesso do longa. Infelizmente o filme tem sido mal interpretado e subestimado por muitas pessoas. Não há nada de épico em À Deriva e a história é, realmente, banal. Mas o trunfo do filme está justamente em transformar a vida familiar de uma típica adolescente em uma história poderosa, sensível e arrebatadora.
A relação de Felipa com o pai é o termômetro disso tudo. Na cena inicial, na boia, Felipa é uma criança. Ao longo do filme, ao descobrir que seu pai pode desejar outra mulher que não sua mãe, começam a despertar seus desejos sexuais. O papel de Ângela(Camila Belle, delícia! Hehe), a amante, é fundamental e não é à toa que as maquiagens que Felipa usa em um momento são oferecidas por ela. Quando descobre certo fato sobre sua mãe, Felipa despe-se de seus preconceitos e abandona a reprovação ao sexo masculino, que vinha das atitudes do pai, e finalmente pode crescer. Ao fim do filme, novamente boiando, pai e filha sabem que não são mais homem e menina, mas homem e mulher. À Deriva mostra tudo isso e muito mais com extrema sutileza e sensibilidade, pautadas em uma bela trilha sonora e atuações à altura...
Ótima percepção a respeito de À Deriva, filme o qual tenho profundo carinho. Sua observação a respeito da maneira com a qual o diretor filmou em Búzios é refinada. Entregou uma elegância a mais a essa obra profundamente elegante com relação a estética e dramaturgia, uma vez que trata de descobrimentos num contexto onde eles se chocam duramente com a moral das referências (pais) arruinadas. Uma realização feliz sobre dramas da adolescência. Lembro que a Laura Neiva foi descoberta no finado orkut. Uma doçura! Belo texto, cara.
Obrigado Alessandra e Leme! Marcelo esqueci de comentar isso, a Laura Neiva foi descoberta por uma seleção mesmo no orkut, se não me engano nunca tinha atuado...!