Anunciado desde o começo como um filme de clima “muito mais sombrio” do que o antecessor, Vingadores: Era de Ultron, de fato, sobe um degrau em relação à intensidade dos conflitos dos personagens e no desenvolvimento da ação e roteiro, mas o faz sem perder as suas melhores qualidades como entretenimento e, principalmente, como cinema pipoca.
Aqui, o Tony Stark continua atormentado pelos seus atos do passado como fabricante de armas. Depois de se tornar um super-herói, e ficar com a consciência pesada em vários sentidos, salvar o mundo pra ele torna-se uma redenção. Eis que ele, junto com o Bruce Banner (Mark Ruffalo) recuperam o centro de Loki, uma fonte inesgotável de energia e controle psíquico. É nessa história que surge o vilão Ultron, interpretado pelo James Spader (sensacional). De certa forma, é ele quem dá o tom mais carregado no filme; sua concepção, embora não muito original, é interessantemente aplicável aos conflitos internos de cada um dos personagens, especialmente na relação entre o Bruce Banner e a Viúva Negra (Scarlet Johansson).
Um pouco mais desperdiçados estão os irmãos, Mercúrio (Aaron Johnson) e a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), embora bem interpretados. Mas o que chama mais chama atenção na dinamicidade da direção do Joss Whedon é a forma como ele equilibra esse peso extra de dramaticidade com uma ação frenética, relaxada em cenas de alívio cômico que, brilhantemente, reciclam algumas das velhas piadas que o filme de 2012 nunca deixava de lado, e extraindo de todo o elenco naturalidade possível para, assim, passar ao público de fãs – e não fãs – o sentimento de que não é só a plateia que está se divertido. Ficam a cargo de Chris Hemsworth (surpreendentemente bom) e de Chris Evans, inclusive, os momentos mais hilários – principalmente quando se coloca em questão o “peso” do martelo de Thor.
Seria um absurdo também deixar de fora o mérito do Andy Serkis, que cuidou do departamento de efeitos e captura de movimento do James Spader como Ultron e investiu pelo menos 25% do orçamento inicial com a bem humorada e contagiante batalha entre o Hulk e o Homem de Ferro. A cena não podia ser melhor se não fosse os hilariantes e muito divertidos gritos dos figurantes, que, aliás, não são nem um pouco esquecidos ou desperdiçados e fazem com que o tom de brincadeira nunca saia de primeiro plano.
O roteiro de Whedon é uma combinação simbiótica e palpável do que deve ser um filme pipoca e de como as “subtramas” devem se comportar para não se sobressaírem à verdadeira intensão de entreter visualmente. Para isso, a produção exagera um pouco na condução de destruição em massa no clímax final (beirando o status de apocalipse mundial ao estilo de filmagens frenéticas e abusivas de Michael Bay), com o desmembramento de mini robôs e destruição de prédios e montanhas. Felizmente, o desenvolvimento de roteiro dos filmes da Marvel são sempre muito orgânicos; o que significa que os conflitos só duram até serem substituídos por ação e mais ação, isso sem muita dificuldade.
É provável que alguns dos fãs se irritem com a forma superficial com que as batalhas em que o Ultron está presente são emplacadas. Mas, de fato, é muito melhor manter o ritmo de embate com um sentido plausível e universal do que adentrar na psicologia (profunda) da construção da personalidade do vilão, arriscando-se a cair na breguice ou restrição aos leitores de quadrinhos. Vingadores: Era de Ultron funciona, acima de tudo, porque é feito pra todas as plateias, e deve ser analisado como tal.
Ao unir todos esse polos narrativos como uma combinação de cofre, Joss Whedon reafirma a capacidade da Marvel de fazer cinema comercial combinando tudo que os blockbusters atuais têm de melhor. Com certeza, ao fazer uma cidade inteira virar um meteoro gigantesco, irá ser acusado de abusar muito mais dos efeitos do que o próprio James Cameron em Avatar (2009), mas a grandiloquência visual não deve ser entendida nos tempos de hoje somente como artifício de atração de parque de diversões, e, sim, como apetrecho narrativo para transformar um filme arrasa-quarteirão em uma experiência cinematográfica.
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