O suspense de horror oriental já foi tão copiado em versões americanas que os únicos filmes que realmente conseguem ficar na memória são divisores de água como O Chamado, adaptado de Ringu, principalmente porque a versão norte-americana preservou praticamente tudo que o cinema oriental de horror sempre fez questão de usar como estrutura (maldições sobre pessoas mortas, cenários lúgubres, cabelos negros e lisos sobre o rosto etc.). Já O Mistério das Duas Irmãs, adaptação do coreano Medo não segue exatamente esse mesmo padrão e, talvez por isso, dentre outras coisas, o filme não teve a repercussão de O Chamado ou até mesmo de O Grito, que é dirigido por um japonês, inclusive. Surpreendentemente, o resultado é um autêntico suspense muito bem amarrado como estrutura, embora modesto.
Anna e Alex são duas irmãs que perdem a mãe num incêndio na casa delas. A mais nova, Anna, é internada numa clínica, e dez meses depois, retorna para sua casa, onde reencontra o pai e a irmã, Alex, e passa a conviver também com uma intimidante madrasta chamada Rachel, a antiga enfermeira de sua mãe. Ambas as irmãs passam a desconfiar do comportamento de Rachel; desconfiança que, associada as suas visões fantasmagóricas, as fazem acreditar que sua nova madrasta é a verdadeira culpada pelo incêndio.
Mesmo com temáticas praticamente idênticas, a versão norte-americana, como já foi dito, não segue fielmente o estilo empregado no cinema oriental. Curiosamente aqui, a direção é de dois irmãos, Thomas e Charles Guard, que tem uma preferência por mostrar a relação de cumplicidade de Anna e Alex, usando aquela fórmula simples do cinema noite-americano para fazer o espectador se envolver com os mocinhos e que torça para que o vilão, no caso a vilã, se dê mal; fórmula típica também de filmes ainda menores e mais desmiolados como a recente refilmagem de O Padrasto.
O peso em se tratando de atuação aqui talvez seja a importante participação do David Strathain como o pai escritor misterioso. Mas talvez a maior revelação seja a atuação da Elizabeth Banks (numa rara chance de fazer um papel de destaque) como a madrasta, que consegue conquistar a plateia com uma interpretação que poderia facilmente cair na caricatura; se por um lado ela usa um olhar cinicamente angelical, em outro ela provoca medo e ódio do público de maneira eficiente e tornando a história, assim, mais bacana de acompanhar. A intepretação menos digna é mesmo a da protagonista, a Emily Browning, com suas caretas de pânico invulneravelmente ridículas, compensadas pela dinamicidade do desenrolar de mistérios.
O que, obviamente, não poderia ser deixado de fora é o desenrolar da trama num ambiente confinado cheio de mistérios e as aparições sobrenaturais sempre presentes pelos cantos da casa. A comparação é inevitável, principalmente porque Medo é quase um filme de arte, com maquiagens fortes e figurinos coloridos; O Mistério das Duas Irmãs, apesar de manter muito estilo na direção e nunca trocar insinuações por pura violência gráfica, é feito para um público, logicamente, muito mais amplo, com uma narrativa muito mais linear e uma inevitável diminuição no conteúdo também, deve-se dizer. Isso se deve ao fato de que nos suspenses orientais o roteiro deixa muita coisa em aberto para que o público interprete, ao contrário do cinema ocidental, no qual tudo faz um sentido plausível no desfecho.
O que surpreende é o fato de um filme tão modesto tentar manter o maior ritmo e competência possível na direção e principalmente no roteiro, o que é mais difícil. As guinadas que o enredo proporciona são muito mais convincentes do que as de muitos filmes que se vê no âmbito do gênero atualmente e chega a ser tão espantosa pelo fato de o filme, justamente, tratar toda a trama que se desenvolve até ali com toda a simplicidade possível.
O que O Mistério das Duas Irmãs revela, no fim das contas, é que produções menores de um gênero tão restrito a um determinado público acabam sendo esquecidos pela grande maioria dos cinéfilos; e é aí onde entra a banalização do terror, que induz a ideia de que aquilo que pode abarcar diversos tipos de assuntos e temas serve simplesmente para dar alguns sustos no escuro de sextas-feiras 13. Faz tempo que os fãs de cinema B procuram algo, mesmo que não seja exatamente perfeito, possua uma marca própria e que você não esqueça com tanta facilidade quanto a maioria dos filmes que lançam no circuito comercial.
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