Q
uando se fala em filmes com assassinos mascarados, geralmente nos remetemos aos clássicos O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-Feira 13, ou até à série Pânico, mesmo que seja quase que uma piada. Mesmo se tornando clássicos, a maior parte desses filmes cai em um estilo quase sempre batido, tornando-se motivo de piada e alvo de citação em comédias metalinguísticas de canais por assinatura. Por essa razão, muita gente pode ir assistir a Os Estranhos imaginando encontrar aqueles mesmos personagens patéticos e divertidos ou aquelas piadas sem nexo que se vê em “pânicos” da vida. Bom, uma boa notícia, então, para os fãs de gênero.
A “história”, se é que se pode dizer assim, é sobre um casal, Kristen e James, que vai até sua casa de veraneio para se recuperar de um pequeno desentendimento; acontece que três maníacos mascarados passam a aterrorizá-los, fazendo fortes barulhos assustadores e sempre dando um jeito de entrar na casa, deixando o casal completamente desesperado e tentando de todas as maneiras sair daquele lugar.
O diretor estreante Bryan Bertino, mesmo que esteja tratando aqui de uma situação de cunho “realista” – por assim dizer –, parece ter assistido com atenção a todos os tipos de filmes de horror psicológico, trabalhados com base no poder da sugestão e da insinuação, como o excelente Os Outros (2001), de Alejandro Amenábar, com o qual não guarda muitas semelhanças além do título. Na verdade o filme encara afinidade mesmo com um filme francês de nome Eles, com a diferença perceptível da intenção de assustar.
Ao contrário da maioria dos filmes de assassinos mascarados, Os Estranhos não apela para piadas inoportunas em meio às cenas tenebrosas, bem como para cenas de sexo dentro em barracas de acampamento. Aqui a tensão é construída de maneira incessante e absolutamente palpável, à medida que o espectador passa a perceber a real gravidade da situação dos protagonistas; Bryan Bertino não ameniza em seus sustos constantes e sua fotografia incandescente, de filmagem trêmula e dinâmica, colabora para criar toda a atmosfera pessimistamente sombria do filme.
O real diferencial de Os Estranhos é que ele mostra todos os acontecimentos que ocorrem na casa por dentro, ou seja, tudo acontece em primeira pessoa, como se você também estivesse ali; afinal de contas a casa é igual a qualquer outra casa aonde você e a sua família iriam para passar um fim de semana tranquilo, com sofás aconchegantes e música country de fundo. Não são todos os filmes de terror – ou quase nenhum – que consegue atingir um pico interessantíssimo de seriedade com o que está acontecendo na tela e ao mesmo tempo descompromisso em fazer um marco cinematográfico fora do comum.
Ele é muito eficiente principalmente na edição de efeitos sonoros também; nas cenas mais tensas, ao invés de apelar pelo que chamamos de “susto alarme falso”, faz ótimo uso de ruídos como batidas na porta, ranger de metais ou simplesmente manter tudo em silêncio enquanto só o espectador consegue ver o estranho mascarado vigiando a personagem atrás da porta. Isso sim é que é deixar o espectador assustado com o mínimo de elementos possíveis: uma câmera, dois atores e mascaras que escondem rostos do qual nunca conseguimos ver, dando a insuportável sensação de que o perigo, seja ele quem o que for, é real e concreto.
Após uns 45 minutos de filme, Os Estranhos, inevitavelmente, perde um pouco de sua voltagem, especialmente quando a rasa trama começa a se esgotar e o filme tem que fazer uso daquela velha fórmula manjada aplicada em remakes de filmes B paupérrimos, como o Sexta-Feira 13 (2011). Gratificantemente, a duração é curta, o que significa que o Bryan Bertino não perde o pique de tensão e entretenimento por conta disso e logo retoma, na chocante cena final, todo o seu gás pra deixar o público traumatizado. Pra quem morre de medo de ficar sozinho em casa, é uma excelente recomendação.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário