É um filme que, apesar de se propôr como um típico filme de ação frenética, esconde, por detrás de seu caráter individual centrado em John Rambo, uma crítica ao contexto social pós-Guerra do Vietnã em meados dos anos 70. No entanto, essa contextualização direta é deixada de lado durante quase todo filme, não sendo abordada de forma fria e dramática como em “O Franco Atirador” de 1978, porém dialoga com este filme no que se trata às sequelas da guerra no âmago do ser combatente.
A figura de John Rambo, ex-Soldado de Elite do exército americano, toma para si a responsabilidade de não deixar o filme excessivamente raso e restrito a um show de pirotecnia. O ex-Combatente é um personagem bem trabalhado: passa a imagem de um homem complexo, destruído pela guerra (o que é evidenciado nos rápidos flahsbacks), ensinado à negar seus sentimentos e não expressar dor ou medo, demonstra um equilíbrio entre o planejamento de seus atos e ações institivas – uma máquina programada para matar.
No entanto, todas essas características e modelo de personalidade moldada pela experiência da guerra o faz sentir-se deslocado numa sociedade em paz – como se, uma vez vivenciada a barbárie, o retorno à sociedade civilizada e o seguimento de uma vida normal se tornasse impossível.
E é nesse quadro psicológico que Rambo – Programado Para Matar dialoga com o mundo ao seu redor: expondo de forma didática a inadequação do militar no pós-guerra e fazendo uma crítica (mesmo que de forma tímida) aos movimentos anti-belicistas os quais crucificaram os soldados quando estes regressaram para sua pátria, os chamando de “matadores de bebês”, nas palavras de Rambo.
Pode-se dizer que o filme assume uma posição conservadora – talvez até pró-guerra – devido à ausência de uma crítica bem trabalhada sobre a incoerência da guerra ideológica e militar da época; entretanto, a realidade é que em nenhum momento o filme se vende como político – o que é posto em primeiro plano é sempre a estética da batalha; a estratégia de guerrilha; a caça ao caçador e as lutas corporais bem coreografadas.Enfim, Rambo tem potencial para pôr em pauta questões importantes, mas escolhe não explorar esse potencial e se centrar na ação – o que não o faz necessariamente um filme de má qualidade e sim uma contextualização de um quadro social sério na forma de entretenimento explosivo.
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