Em uma espécie de Romeu e Julieta macabro, Deixe-me Entrar, mostra a relação afetiva entre um garoto normal, porém que sofre com a separação dos pais e com os constantes ataques dos meninos da escola, e uma garota, aparentemente normal, se não fosse pelo fato de ela guardar um segredo, ela é vampira. O fato de morarem em um prédio onde nada é legal e a única opção de diversão é um playground coberto de gelo, eles começam uma amizade através de um cubo mágico. A partir desse primeiro encontro e da primeira conversa, a menina, que não pode fazer amigos, começa a se aproximar do garoto cada vez mais.
Por se tratar de um filme em que o universo dessas duas crianças é o local onde o filme é ambientado, não há nomes para a maioria dos adultos, inclusive para os pais de Owen e para o pai de Abby, deixando que apenas os dois atores principais conduzam seus próprios caminhos pelo mundo em que se encontram naquele exato momento, com mortes e segredos que somente os dois partilham.
O filme volta a mostrar os vampiros de antigamente, onde há uma necessidade sem controle para se alimentar de sangue e não se sentem culpados em obtê-lo matando seres humanos. Tanto é que Abby (Chloe Moretz) tem um “pai”, uma espécie de guardião que sai à noite procurando vítimas das quais possa retirar o sangue e levá-lo para a menina. Quando essa tarefa não dá certo, ela mesma tem que fazer o trabalho, porém ele é responsável por esconder o corpo da vítima.
O longa é um remake do filme sueco Deixa Ela Entrar (Låt Den Rätte Komma In, 2008) e pode-se dizer que foi muito bem re-filmado. Reeves, que assumiu roteiro e direção, tinha que entregar um projeto à altura do filme sueco e conseguiu. Deixe-me Entrar é simplesmente fantástico. A fotografia mais escura, ambientando noites e madrugadas, pois a vampira não pode tomar sol, e as instalações, um prédio ao fundo e um playgroud mais a frente, dão um ar de mistério à trama.
Em relação às atuações, há dois pequenos grandes destaques, os atores-mirins, que também são os atores principais, Kodi Smit-McPhee e Chloe Moretz, respectivamente, Owen e Abby. A vulnerabilidade do menino que brinca sozinho e apanha dos “valentões” da escola e a intensidade e coragem da menina-vampira se misturam em determinado ponto do filme, já que Owen resolve enfrentar os garotos que batiam nele e ela que encontra em um humano o poder da amizade. Ambos os atores conseguem entregar todas as emoções requeridas para o papel. Ele, a vulnerabilidade, o sentimento de dor, tristeza e por fim alegria e porque não dizer amor. Ela, a intensidade no olhar, a coragem, a destreza, o medo de ser descoberta por mais alguém e por fim a amizade e, com isso, o amor retribuído.
A ilusão de poder manter essa amizade é o que faz Owen querer se aproximar mais de Abby e aceitar o verdadeiro eu dela, não deixando que as vontades dela atrapalhem o que sente pela vampira, fato é que o garoto chega a presenciar um ataque da menina e ainda a ajuda esconder o corpo em um local onde somente os dois conheciam, local onde ele descobriu que existe tal coisa como o mal.
A magnitude do processo de assimilação da boa nova mexe um pouco com o garoto, deixando-o meio desconfiado de que ela pode voltar para matá-lo, e isso faz com que ele se afaste dela, porém o que ele sente é tão forte que ele não consegue apenas deixar de lado, é necessário uma explicação e é aí que ele começa entender a verdadeira realidade da menina. O quanto ela já sofreu e o quanto viver assim não é a melhor coisa do mundo, viver à mercê do sangue de humanos, tendo que lidar com a morte de cada pessoa para que possa sobreviver.
À medida que o filme passa, a amizade dos dois aumenta e o amor incondicional e proibido precisa superar os obstáculos que existem entre o mundo, relativamente normal, do menino e o mundo, misterioso e macabro, da menina. Só quando os dois mundos conseguem se encontrar e conectar, deixando os problemas e o fato de ela ser vampira de lado, é que os dois conseguem sobreviver à esse romance banhado à sangue.
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