Conan, versão 2011 - O Desastre
Você assistiu aos episódios de “Hércules” e “Xena – A Princesa Guerreira”, que passavam na TV? O primeiro estrelado por Kevin Sorbo e o segundo por Lucy Lawless? Se sim, ao assistir “Conan – O Bárbaro”, talvez você note algumas semelhanças, tais como: cenários medievais parecidos, com tavernas cheias de guerreiros, bêbados e dançarinas estilizados; figurino formado por roupas de couro e pele... Adicione a essa programação trash – que até funciona na TV – muito sangue e violência, ritmo de videogame e bons efeitos especiais e você terá algo parecido com Conan, versão 2011.
Kevin Sorbo e Lucy Lawless são carismáticos, e em parte o sucesso de seus programas deve-se ao carisma deles e dos intérpretes de Iolaus e Gabrielle. Os efeitos especiais, porém, são risíveis, conseqüência de um orçamento pequeno. Mas efeitos especiais são secundários ante bons atores, bons personagens e bons diálogos.
A nova versão de Conan fracassa em tudo. Praticamente nada no filme se salva. Os atores são péssimos e o roteiro, apesar de escrito por três pessoas, é uma ode aos clichês baratos dos filmes do gênero. Temos Conan, guerreiro truculento que só pensa em vingar-se da morte do pai; o vilão, que só pensa em adquirir dominar a todos, para isso precisando ressuscitar sua amada, queimada viva por bruxaria; a bela e angelical mocinha, que se revela boa combatente; o ladrão esperto, escape para a comédia; o amigo do herói, a ele ligado por laços de honra. A direção é precária, de modo que até as cenas de batalha são mal filmadas. Escorrem sangue, tripas, mas faltam imaginação e câmeras bem posicionadas. Tão ruim quanto é a direção de arte – figurino, maquiagem, etc. Até a cena “quente”, de sexo, não funciona, de tão ruins os ângulos que a câmera pega. É pudicíssima, comparada com a violência de brincadeira do resto do filme. Assim me parece os Estados Unidos hoje: austero no sexo e palavreado, escatológico na violência.
Soa um tanto amadorística, tanto quanto as séries de TV de que falamos acima; só que, para elas, isso constituía seu charme.
Em 2011, os produtores e os diretores de filmes trabalham para um espectador pouco exigente, embrutecido e, na visão deles, menos inteligente. É como se qualquer coisa pudesse ser bem digerida pelo espectador, contanto que possua bons efeitos especiais alinhados ao marketing. Conan, 2011, celebra a falta de criatividade e inteligência da Hollywood de sua época.
Enfim, o Conan, de 1982, de John Millius, mostrou a que veio e tinha algo a dizer. É cinema bem-feito, de qualidade, apesar dos efeitos especiais fracos. Têm cenas primorosas: a morte da mãe de Conan; Thulsa Doom e seus atos e diálogos pausados, além de sua magia, como por exemplo a que transforma uma cobra em flecha; o ataque dos demônios para tirar a vida de Conan. Com muito menos sangue e cenas de ação, Conan, de 1982, tem contraditoriamente muito mais ação que sua versão de 2011. Isso porque sua violência não ordinária e gratuita retém mais o interesse do espectador e faz com que várias cenas permaneçam em sua memória.
Quem formava o elenco? Arnold Schwarzenegger, James Earl Jones e Max Von Sidow, além de outros. Precisa dizer mais?
Ninguém do elenco de 2011 se destaca ou engrenará sua carreira a partir de desse Conan, como em 1982 Conan alavancou a carreira de Scharzwarzenegger. A partir de “Conan, O Bárbado” e “Conan, o Destruidor”, ele faria mais tarde “O Exterminador do Futuro”, “Comando Para Matar”, “O Predador” e “O Vingador do Futuro”, consolidando-se como ator do primeiro time de Hollywood.
James Earl Jones e Max Von Sidow dispensam comentários, são lendas vivas do cinema. O veterano na versão de 2011 é Ron Perlman, que nunca se destacou como ator. Impossível compará-lo com aqueles dois.
Não esqueçamos da trilha sonora do filme original, excelente, composta por Basil Poledouris.
Conan, de 1982, tem 129 minutos e um ritmo bem mais lento que os filmes de 25-30 anos depois. A versão 2011 é mais curta e seu ritmo tão descerebrado que não dá tempo de criarmos afeição ou antipatia com qualquer personagem. A todo momento mudam os cenários, surgem novas batalhas... mas sem criatividade e originalidade. Vêm uma nova batalha, então prepare-se: cabeças serão esmagadas, braços decepados, sangue, sangue, sangue...
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