“O mundo é um negócio”
Em pleno auge do poder da televisão, nos anos 70, surge esse filme de Sidney Lumet, que é uma crítica ácida ao modo de se “fazer televisão”, e que segue sendo atual, apesar da perda da hegemonia da TV para a internet (com a qual também pode se fazer um paralelo). O filme, vencedor de 4 Oscars (melhores ator e atriz, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro original), apesar de exagerar em alguns aspectos (o que acredito que tenha sido proposital, mas que as vezes poderia ser evitado), é um ótimo filme e uma ótima ferramenta de reflexão sobre o que é mais importante realmente nas nossas vidas.
O filme inicia anunciando a demissão de Howard Beale (Peter Finch, Oscar), âncora veterano de um telejornal da rede UBS, que recebe a notícia de que será demitido em duas semanas, pela baixa audiência do seu jornal. Ele, então, ainda ao vivo, noticia que irá se matar no ar na próxima semana, explicando os motivos para a audiência. O caminho mais lógico para Beale seria a demissão, e é o que Max Schumacher (William Holden), chefe da divisão de notícias da emissora, pensa em primeiro lugar. Porém, ocorrem algumas divergências administrativas dentro da empresa, e Beale acaba indo ao ar mais uma vez, tornando-se uma espécie de “profeta”, denunciando o controle da televisão na vida das pessoas. Nesse contexto, entra uma jovem ambiciosa, Diana Christensen (Faye Dunaway, Oscar), querendo, a todo custo, gerar mais audiência com o fato, e transformando, o que era um jornal, em uma espécie de show sensacionalista. Em um dos “discursos” de Beale, ele fala para as pessoas desligarem suas televisões, o que, ironicamente, traz mais audiência e mais TVs ligadas.
Há ainda um relacionamento de Diana com Max, em que são ressaltadas as diferenças entre eles (falar sobre gerações seria muito complexo nesse caso), e uma subtrama envolvendo grupos terroristas, comprados por Diana, que ambicionava também um programa com gravações sobre as depredações realizadas pelo grupo. Essa personagem, aliás, é um manual do que não se fazer em jornalismo, passando por cima de qualquer tipo de ética profissional em busca de audiência, o qual, alías, ela mesmo diz ser seu único objetivo em vida. Já Frank Hackett (Robert Duvall), pensa somente nos lucros que programa dará para a emissora, e, assim, é sempre influenciado por Diana, já que os dois buscam, consequentemente, a mesma coisa, e não tem limites para conseguirem o que querem.
Rede de Intrigas faz críticas ao corporativismo do mundo atual, onde, em determinada cena, o chefão da CCA, que é dona da UBS, Arthur Jensen (Ned Beatty), fala em um tom apocalíptico para o já louco Beale, como as nações e a democracia já não importam no mundo hoje, segundo ele, em um mundo em que as corporações e os “dólares” é que regem tudo, “as forças ocultas da natureza”, em uma cena sensacional.
O trágico final é uma espécie de aviso, de alarme, para o rumo que a televisão estava/está tomando. O certo é que a alienação segue e sempre seguirá existindo, e o que podemos fazer é avisar, criticar esse sistema, Papel, aliás, que o filme cumpre bem.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário