Tempo e tensão
Um início calmo e festivo, com um casamento. Após este, a tensão da película aumenta gradativamente, até se chegar ao duelo final, típico de westerns. A história: Will Kane (Gary Cooper) é o xerife de uma pequena cidade, que ajudou a prender Frank Miller (Ian MacDonald), anos atrás. Ele se casa, e está prestes a deixar o cargo de xerife, quando recebe a notícia de que Miller foi solto, está voltando para cumprir sua vingança prometida, e de que três capangas seus estão esperando um trem, que chegaria ao meio-dia (daí o título original inglês, High Noon). Inicialmente, Kane é convencido rapidamente a fugir com sua nova esposa (Grace Kelly), mas ele acaba voltando por algo que não sabe ao certo o que é, e vai ficando ainda mais em dúvida com o decorrer do tempo, vendo que está só na luta contra o bando de Miller.
O trabalho psicológico feito em cima de Kane é sensacional, mostrando um protagonista que tem seus medos e incertezas, diferente dos clássicos heróis do gênero, notadavelmente Clint Eastwood e John Wayne, sempre bem decididos. Afinal, ele é deixado sozinho por quem considerava seus amigos, e assim mesmo não foge da batalha final. As inúmeras cenas em que aparecem relógios ajudam na construção do aumento da tensão, e avisam que a hora está se aproximando. O interessante é que vivemos junto essa hora de espera e procura de ajuda por parte do xerife, pois os minutos da projeção são mostrados de forma real.
As tomadas de câmera também são excelentes, mostrando a espera pelo trem (que motivaria Sergio Leone na sua antológica cena de abertura de “Era Uma Vez no Oeste”), e, claro, a sempre comentada cena em que é mostrado, de uma visão aérea, como Kane está, realmente, sozinho, na cidade aparentemente deserta. Destaque especial também para o momento do apito que anuncia a chegada do trem, e de como esperamos que ele chegue, com o modo com que a cena é construída.
Não se pode deixar de citar, também, a trilha sonora, com a música-tema que acompanha o personagem de Cooper e ajuda a aumentar a já comentada tensão do filme. Não é a toa que o filme levou o Óscar de Melhor Canção Original e Trilha Sonora. Além destes, o de melhor ator para Gary Cooper, e o de Edição, por méritos já citados.
Matar ou Morrer é, com certeza, um dos grandes faroestes, e um dos grandes filmes da história, pelo experimento que é assistir o filme e se envolver de modo emocional e temporal com o personagem, vivendo seus dilemas e nos levando a reflexão: quando precisarmos, quem realmente irá nos ajudar?
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