Tentativa de epopeia africana
Poucas cenas realmente funcionam nesse filme de Spielberg. Tentando fazer um filme que emocionasse, à medida de A Lista de Schindler, ele se perde em meio a tentar sempre emocionar o espectador. As cenas que realmente funcionam são as realizadas em um só ambiente, o tribunal, com os argumentos de Baldwin (Matthew McConaughey), além do flashback que conta a história de Cinque (Djimon Hounsou), e sua jornada até então. Personagem que, aliás, não consegue muito a simpatia do público - até pela escolha da conservação do dialeto africano que o personagem fala, levando-nos a não entender o que o mesmo diz em quase a maior parte do filme - quando o deveria, por ser o principal “herói”, ou mártir, como o próprio filme cita.
Inspirado na história real do navio espanhol La Amistad, quando um grupo de negros realiza uma insurreição e toma o controle do mesmo, indo parar nos Estados Unidos, onde serão julgados, o filme ainda traz o sempre recorrente patriotismo norte-americano, mais visível no discurso final de John Quincy Addams (Anthony Hopkins), que acaba ficando destoante para quem não é de lá, mas, como os americanos sempre gostaram disso, então, paciência.
O filme é visualmente muito bonito, com sua reconstituição da época anterior à guerra civil americana, mais precisamente em 1839. As cenas iniciais, da tomada do navio por parte dos negros africanos é bem feita (apesar do clichê da tempestade). Por se falar em guerra civil, é discutido e mostrado um pouco dos antecedentes desse que foi o maior conflito interno dos Estados Unidos. Pelo fato de o Sul apoiar a escravidão, a decisão final tomada pelo tribunal, que liberta os escravos, e os leva de volta a sua casa, a África, viria a acirrar os ânimos na disputa norte-sul, e acelerar os preparativos para a guerra em si.
Mostrando ainda os horrores que sofriam os escravos africanos na época da escravidão (e pensar que o nosso país foi o maior importador de escravos, com todos esses mal tratos e absurdos), o filme peca por querer ser mais do que realmente se mostra, mas, mesmo assim, é um bom estudo histórico do século 19.
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