Duas coisas não podem faltar em um filme de Wes Anderson: uma relação pai e filho e... Bill Murray. O ator, sempre presente nos filmes do diretor (nem que seja em uma única e rápida cena como em Viagem a Darjeeling), ganha aqui um filme só seu.
A Vida Marinha com Steve Zissou, terceiro filme do norte-americano, conta a história de Steve Zissou (Bill Murray), decadente documentarista e oceanógrafo, que a muito tempo virou motivo de piada pelas situações ensaiadas de seus filmes. Em sua última expedição, Zissou deparou-se com aquilo que ele mesmo batizou de Tubarão Jaguar (as duas primeiras palavras que vieram a sua cabeça quando viu o bixo), peixe que devorou seu grande amigo Steban durante as filmagens.
Preparando-se para a parte dois do seu documentário (na qual ele buscará vingança do tal Tubarão Jaguar), Zissou descobre que tem um filho de 35 anos (Owen Wilson), que banca a nova aventura de seu pai (os patrocinadores já não se interessam por esses documentários) e parte junto dele e todo o Zissou Team na caçada.
A Vida Marinha com Steve Zissou (como toda a filmografia de Anderson) não é um filme fácil de assistir - pelo menos para aqueles que não estão habituados com o estilo do diretor. Estilo esse que é fielmente mantido ao longo de sua carreira.
O humor estranho e agridoce, os personagens excêntricos e de fala esquisita, os figurinos inusitados (é difícil determinar em que época se passa o filme), os enquadramentos simétricos (mais parecidos com pinturas) e a fotografia peculiar de Robert D. Yeoman (fotógrafo da maioria dos trabalhos de Anderson). Todas essas características estão presentes e compõem o universo próprio criado por Anderson para os seus filmes.
O elenco traz alguns antigos parceiros de Anderson. Além de Murray (que combina perfeitamente com os filmes do diretor), participam do filme: Owen Wilson, frequente colaborador nos roteiros, como Ted, o filho recém-descoberto; Anjelica Huston como a mulher de Zissou (e como dizem, o cérebro da equipe), Willen Defoe como Klaus o braço direito de Zissou e Cate Blanchett, que demonstra grande versatilidade, como uma jornalista grávida que acompanha a expedição. Todos ótimos, em um elenco que conta ainda com Jeff Goldblum e o brasileiro Seu Jorge, que, ao longo do filme, aparece tocando e cantando clássicos de David Bowie em bom português.
São motivo de destaque ainda os seres marinhos criados por Anderson, todos reproduzidos em stop motion (o que os torna ainda mais estranhos) e o barco de Zissou, que fora partido lateralmente: uma forma criativa de nos mostrar o que acontece em cada uma das pequenas salas de maneira rápida e clara.
Mais uma vez a relação pai e filho é abordada pelo diretor, que agora tem como pai desacreditado e de gênio difícil Steve Zissou, e não Royal Tenenbaum, como em Os Excêntricos Tenembaums. Pode não ser inventivo na temática tratada, mas é na maneira como a aborda e continua sendo cinema de qualidade.
Pode ser que alguns digam que o trabalho de Wes Anderson é repetitivo, que não agüentam mais assistir a seus filmes com famílias excêntricas, Bill Murray e roteiros escritos com Owen Wilson. Mas isso pouco importa, já que o diretor/roteirista já é cultuado por uma parcela de cinéfilos que parecem gostar cada vez mais daquilo que Anderson produz. Para esses, A Vida Marinha com Steve Zissou é um prato cheio. Para os outros, talvez soe como os documentários produzidos por Zissou.
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