Lá pelo meio de Viagem A Darjeeling um dos personagens diz: “Gostaria de saber se nos três seríamos amigos na vida real. Não como irmãos, mas como pessoas”. É a prova cabal que Wes Anderson sabe mesmo o quanto as relações familiares são complicadas. Mas isso não precisava ser provado: o norte-americano sempre gostou de abordar o tema “família” em seus filmes. Foi assim em Os Excêntricos Tenenbaums (2001), foi assim em A Vida Marinha com Steve Zissou (2004) e é assim em Viagem a Darjeling, o melhor dos três.
Aqui, acompanhamos Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack Whitman (Jason Schwartzman), três irmãos que não se viam desde o enterro do pai, a um ano atrás. A pedido de Francis, que recentemente passou por uma experiência de quase-morte, os três reúnem-se novamente para uma viagem espiritual pela índia, a bordo do trem Darjeeling Limited, onde pretendem recuperar e reforçar os laços fraternos a muito tempo rompidos, além de encontrar a mãe (Anjelica Huston) que vive como missionária.
Se em Zissou Anderson usava o barco Belafonte para vagar lateralmente pelos cômodos com sua câmera, aqui, tal trabalho é feito sobre o Darjeling Limitada. Vagão por vagão, janelinha por janelinha, Anderson passeia com seu jeito todo peculiar de filmar, com enquadramentos simétricos, close-ups, e câmera movimentando-se na direção do personagem que fala.
Por falar em personagens, os daqui continuam tão bons quanto o dos trabalhos passados – ajudados pelo ótimo trabalho do trio principal. Eles não são tão esquisitos quanto os outros, é verdade, mas mantêm o mesmo poder de fácil identificação que nós faz ver um pouco da nossa família e nós mesmos na tela. Afinal, quem nunca pensou em fugir quando as coisas não iam bem ou ouviu aquela mesma musica pra relembrar uma ex-namorada?
Além do longa de 91 minutos, existe um curta metragem de 13 minutos que precede a exibição do filme. Intitulado Hotel Chevalier, o curta retrata o encontro acontecido antes da viagem entre o personagem de Schwartzman e sua namorada, interpretada por Natalie Portman. Filmado e escrito pelo próprio Anderson, Hotel Chevalier ajuda a entendermos um pouco mais do personagem e de alguns diálogos do filme vindouro.
Viagem a Darjeeling não é tão "ame-o ou deixe-o" como os outros trabalhos de Wes Anderson. O humor agridoce e os diálogos inusitados permanecem, mas a história não parece se passar em uma realidade alternativa como nos dois antecessores. Um excelente filme que trata de forma um pouco mais realista e menos esquisita (apesar de ainda ser) as famílias disfuncionais que Anderson tanto utiliza em seu cinema. Indicadíssimo.
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