Quando as coisas ficaram difíceis para Woody Allen em solo norte-americano, ele foi para a Europa, lugar onde é adorado. Por lá, Allen fez quatro ótimos trabalhos (como Ponto Final - Match Point e Vicky Cristina Barcelona - leia a crítica). Tudo Pode Dar Certo, filme que chega com grande atraso ao Brasil: um ano – o que não é novidade ao se tratar de Woody Allen –, marca o retorno do cineasta à sua tão querida Nova York.
Como é comum de acontecer, Allen coloca um ator para viver “Woody Allen”. Larry David é o incumbido da vez. David vive Boris, um velho rabugento que tem o hábito de insultar seus alunos de xadrez. Ex-professor da Universidade de Columbia, ele considera ser o único capaz de compreender a insignificância das aspirações humanas e o caos do universo. Um dia, prestes a entrar em seu apartamento, Boris é abordado por Melodie St. Ann Celestine (Evan Rachel Wood), uma jovem e ingênua garota que lhe implora para entrar. Ele atende ao pedido, a contragosto. Percebendo sua fragilidade, Boris permite que ela fique no apartamento por alguns dias. Ela se instala e, com o passar do tempo, não aparenta ter planos de deixar o local. Até que um dia lhe diz que está interessada nele.
Larry David está ótimo, fazendo um personagem não muito diferente daquele que faz em Curb Your Entusiasm (seu seriado da HBO). Ele é chato e mal-humorado, mas não antipático. A forma ácida como David solta as brilhantes falas escritas por Allen é engraçadíssima, principalmente aquelas em que “quebra a quarta parede”. O restante do elenco também não fica atrás – principalmente Evan Rachel Wood, que encanta sempre que está em cena, e Patricia Clarkson (que vive a mãe da personagem de Rachel Wood, corrompida pela cidade grande).
Woody Allen continua afiado nos diálogos, e nos apresenta mais um inteligente e divertido estudo acerca dos relacionamentos amorosos – um tema que parece nunca se esgotar em suas mãos. Com personagens jocosamente caricatos, Allen nos mostra a irracionalidade do amor (como um homem como Boris se interessa por alguém como Ann?), a insignificância do homem perante o acaso (quem espera conhecer a futura parceira em uma tentativa de suicídio?) e como tudo aquilo que fazemos de bom pode dar certo (apesar do mundo desgraçado no qual vivemos).
Alguns artifícios e situações são os mesmos de trabalhos anteriores do diretor. Como os momentos em que o personagem fala com o expectador (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa); a trilha sonora (Dorminhoco); a relação entre um homem e uma mulher bem mais jovem (Manhattan), a submissão das pessoas à sorte ou ao acaso (Ponto Final - Match Point); e até mesmo os créditos iniciais, que mantém aquela mesma fonte de sempre. Isso é um reflexo do momento que Allen vive: ele apenas quer curtir a velhice, fazendo os filmes para passar o tempo. Não busca nada de inovador ou grandioso.
Woody Allen volta à Nova York com uma comédia que consegue ser, ao mesmo tempo, pessimista e otimista. Tudo Pode Pode Dar Certo é um filme despretensioso, não soma nada de novo à longeva carreira do cineasta, mas, ainda assim, é divertido e inteligente como uma boa comédia de Woody Allen deve ser.
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