Não sou grande fã dos filmes de Jim Jarmusch (Estranhos no Paraíso) – grande parte deles eu nem conheço. O que realmente me atraiu a Flores Partidas (Broken Flowers), novo filme do diretor e roteirista, foi a participação de Bill Murray (Encontros e Desencontros), que teve Don Johnston, personagem principal do filme aqui criticado, criado especialmente para ele. Murray, ultimamente, vem fazendo bons trabalhos, como Três é Demais e Encontros e Desencontros, sendo, por este, indicado ao Oscar de Melhor Ator.
Em Flores Partidas, Murray vive Don Johnston, um playboy de meia-idade que vive como um Don Juan, passando de um relacionamento ao outro, sem se apegar a nada nem a ninguém. Porém, a quietação de Don acaba quando ele recebe uma carta de envelope cor-de-rosa, sem assinatura ou remetente, onde alguma das suas antigas namoradas diz ter um filho dele, e que esse filho, agora com dezenove anos, saiu a procura de seu pai. Impulsionado pelo vizinho Winston, jocosamente vivido por Jeffrey Wright, Don sai em uma viagem à procura das possíveis mães de seu filho.
É incrível como a interpretação de Bill Murray em Flores Partidas é extremamente semelhante à sua em Encontros e Desencontros, os personagens são praticamente iguais, e Bill está tão bem em Flores Partidas como esteve no filme de Sofia Coppola. O ar de marasmo e indiferença continua, a tristeza e melancolia com algumas piadas sutis são iguais. O fato é que Bill cai perfeitamente bem nesse perfil de “quem caiu na Terra por engano e não sabe exatamente o que está fazendo neste planeta”, como já disse o crítico Celso Sabadin.
O restante do elenco é repleto de estrelas. As ex-namoradas de Don são vividas por atrizes do nipe de Tilda Swinton, Julie Delpy e Sharon Stone. Porém, entre os coadjuvantes, quem merece forte destaque é Jeffrey Wright, que vive o engraçadíssimo Winston, o vizinho metido a investigador. Winston leva uma vida totalmente diferente daquela vivida pelo personagem de Murray, com mulher e vários filhos. É ele quem planeja meticulosamente toda a viagem de Don.
Tudo no filme, da fotografia acinzentada e sem cor à trilha sonora repetitiva, expressa a apatia de Don por aquilo que o cerca, por toda a sua vida. É impressionante como nós, espectadores, vamos, assim como o personagem de Murray, aos poucos, ficando cada vez mais intrigados em descobrir quem é a mãe do filho de Bill, observando qualquer suspeita, qualquer objeto rosa ou a máquina de escrever – dicas dadas pelo vizinho de Don.
Do mesmo modo que não vemos nada de interessante no início do filme, Don Johnston não vê em sua apática vida, mas, a partir do momento que sabemos da possível existência de um filho, vamos, nós e Don, juntos, ficando mais vinculados ao filme e à vida, respectivamente.
Ao final do filme, já não importa mais quem é o filho de Don, quem é a mãe, ou se esse filho realmente existe. O que importa é a conclusão de Don, da necessidade de vivermos o presente momento, de não termos medo de viver, de não passarmos pela vida apenas por passar, e é a partir da possibilidade da existência de um filho, um vínculo material com o mundo, que o personagem de Murray percebe isso.
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