Mais uma adaptação de Quadrinhos chega às salas de cinema, dessa vez, porém, não é uma HQ americana, é um mangá, as histórias em quadrinhos do Japão. Apesar da origem nipônica de Dragon Ball – que teve seu nome mudado para Dragonball, no filme – a produção é ocidental, e, avaliando o histórico de produções orientais reproduzidas sob a óptica ociental , esse aspecto se torna assustador.
Dragon Ball é uma famosa série de mangás, criada po Akira Toriyama, lançada entre 1984, em 42 volumes. De enorme sucesso no Japão e no mundo, a saga foi transformada em anime – animações japonesas – e repetiu o sucesso nas telas. Repleto de elementos fantásticos, com forte influência dos mitos japoneses e chineses, o mundo de Dragon Ball é mágico. A obra de Akira Toriyama deve, acima de tudo, ser respeitada por tudo que representou e representa. E foi justamente esse respeito que faltou por parte dos produtores do filme.
Nos mangás, Goku é um garoto com rabo de macaco que fora achado na Terra por um velho senhor, que o criou e foi transformando aquele rude garoto em uma pessoa melhor, entretanto, acidentalmente Goku acaba matando seu avô adotivo. É aí que ele conhece Bulma, uma linda garota, que conta-lhe a respeito das Dragon Balls, esferas mágicas, que, reunidas, libertam um dragão capaz de realizar um desejo. Os dois saem a procura de tais esferas, participando, no caminho, de grandes aventuras.
O filme, no entanto, esquece toda a mitologia de Dragon Ball, esquece sua história original, que, sem dúvida, sofreria alterações na passagem às telas de cinema, mas, se houvesse respeito, mantendo sua essência, suas características centrais, mantendo aquela magia e inocência que tornou Goku e seus amigos sucesso absoluto. Isso, porém, não foi feito, e basta analisar a sinopse presente na novelização do roteiro para concluir que o resultado seria bem distante da obra original: "Goku pensava ser um estudante normal de colegial, até que descobriu possuir dons de artes marciais com todos os tipos de poderes malucos. Agora ele e seu novo grupo de jovens guerreiros estão numa jornada para achar as esferas antes que ela caiam em mãos erradas. Mas elas talvez já estejam! Goku deve combater o malvado e lunático Piccolo com todo seu poder para salvar o planeta Terra.".
Independentemente de ser uma péssima adaptação, o filme é ruim. O roteiro, escrito por Ben Ramsey é uma piada, a maneira como a história acontece é corrida e superficial, não temos tempos de conhecer os personagens e muito menos suas aspirações, alguns, de tão superficiais, chegam a ser inúteis à trama – é o caso de Yancha. Algumas informações assaz necessárias são ignoradas. A meneira como o vilão Lorde Piccolo – um dos mais ridículos do filme – foge de seu aprisionamento mágico é explicada com um “de alguma forma que eu não sei explicar”, vindo do Mestre Roshi, que, apesar de interpretado pelo talentoso Yun-Fat Chow, é um dos personagens que mais deixa a desejar.
Icônico na série, Mestre Roshi tem sua essência cruelmente deturpada, aquele ar de “velho tarado” é reduzido a apenas duas rápidas cenas. Justin Chatwin – o Goku – não tem carisma algum, característica tão forte no garoto com rabo de macaco, e fracassa nas cenas um pouco mais dramáticas. Se algum elogio pode ser feito ao elenco, esse vai às garotas. Emmy Rossum – a Bulma – e a linda Jamie Chung, intérprete de Chi Chi, o par romântico de Goku, apesar de prejudicadas pelo roteiro – assim como todo o elenco - , parecem bastante dedicadas, empolgadas com o filme.
O diretor James Wong faz de Dragonball Evolution um trabalho mais desastroso que o seu O Confronto, que, ao menos, possuía lutas interessantes. As de Dragonball, porém, são limitadíssimas, com efeitos pobres e cafonas, típicos de seriados televisivos, não proporcionam a diversão que as lutas do mangá/anime proporcionavam.
Todos esses defeitos foram claramente refletidos na bilheteria do filme, que em sua estréia no Japão, não chegou nem a liderar, ficando atrás de uma outra adaptação de anime, Yatterman, essa, porém, de produção nacional, e no restante do mundo o resultado não foi muito diferente.
Enfim, Dragonball Evolution, como adaptação, leva consigo pequenos elementos da obra original, os fãs devem encará-lo como um universo alternativo ao de Dragon Ball, assim como sugeriu o autor Akira Toriyama. Como filme, um completo desastre, corrido e sem espaço para um desenvolvimento aceitável. Como disse Érico Borgo, do site Omelete, “É o ocidente matando a cultura oriental.”
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