Hubert Minel (Xavier Dolan) é um adolescente gay buscando viver uma vida normal. Despreza boa parte do que vê ao seu redor, não se esforça muito na escola e quer liberdade para fazer o que bem entender, coisa que sua mãe, Chantal (Anne Dorval) não lhe concede, criando um impasse entre os dois. Hubert, que já se incomoda com certos trejeitos da mãe, passa a detestá-la intensamente, instaurando uma guerra entre os dois que consiste em trocas de agressões verbais, ironias e situações tensas, para dizer o mínimo.
É difícil não pensar em alguém que não tenha passado por uma situação parecida. E esse é exatamente o propósito do filme. Xavier Dolan faz filmes para buscar a identificação com o expectador, como ficaria provado no filme assinado por ele que viria a seguir, Amores Imaginários. Em Eu Matei Minha Mãe (J’ai Tué Ma Mère) temos a representação despretensiosa (e semi-autobiográfica, como revelou o próprio diretor) de uma disputa de poder domiciliar entre uma mãe controladora e um filho anarquista.
A fotografia de tom minimalista é bonita, revelando aí as inspirações de Xavier, como o diretor espanhol Pedro Almodóvar. Em certas cenas do filme é escura e fria demais, mas há aí um significado. A trilha sonora parece ter saído de uma balada européia, referenciando bandas eletro como Crystal Castles e Vive La Fête. As cenas em câmera lenta são uma releitura jovem do que se verifica nos filmes de Wong Kar-Wai. Tudo parece evocar uma aura indie, buscando uma projeção do ego do diretor e mais dessa identificação com o expectador, que alcança o seu auge nos depoimentos do próprio Hubert (ou seria Xavier?) gravados em P&B.
Felizmente a relação entre Chantal e seu filho não assume tom maniqueísta. Ela é como ele, uma pessoa real, repleta de dúvidas e medos, que oscila entre extremos, e não uma mãe perversa, conforme imaginado por Hubert. Já ele é livre de culpas em boa parte da trama, inocentado, favorecido pelo roteiro, numa clara representação do ponto de vista de Xavier sobre sua própria história. Assim a mãe consegue ser mais realista que o filho, e isso se reflete tanto na evolução dos personagens como na atuação de Anne e Dolan – que é intensa, mas a veterana é muito menos caricata que o novato.
O roteiro segue uma linearidade constante e previsível, reforçando os estereótipos marcantes nos personagens (como se verifica de forma gritante na mãe do namorado de Hubert), e termina num aberto sem objetivo, fraco. Os diálogos são pouco elaborados e intercalados com citações famosas da literatura francesa, como numa tentativa de disfarçar a superficialidade contida neles. O filme assume tons de historinha adolescente maquiada com uma arte convincente, mas não espetacular. E assim Eu Matei Minha Mãe se sustenta, tal qual um filme apelativo, egoísta e de entretenimento, que pouco faz refletir sobre dramas sérios de uma geração.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário