Quando vi Anticristo, pensei que não ia achar uma visão mais pessimista da humanidade. Ledo engano. Begotten é isso imageticamente do começo ao fim, em ciclos (que o diretor chama de "nascimento, vida e morte") e de forma pungente e ininterrupta. Em mim não causou muito nojo ou agonia, talvez não estivesse tão ligado ao filme ou talvez a difícil fotografia (uma das mais difíceis que eu já vi) não tenha me permitido entender o que se passava.
Begotten é um verdadeiro filme de arte (arte grotesca, mas não menos arte) simplesmente por não ser um filme comercial. Não estreou no circuito comercial, é apenas exibido em festivais e só ganhou visibilidade anos depois quando foi lançado em DVD e quando cenas suas inspiraram um clipe de Marilyn Manson.
O trabalho de edição é brilhante: cada minuto de película foi exposto a um tratamento para aumento do contraste que durava de 8 a 10 horas. A intenção do diretor era fazer do filme um registro fílmico do tempo de Jesus (daí o aspecto antigo e desgastado que remonta ao expressionismo alemão). Eu vejo essa fotografia como um alívio, pois, na minha opinião, as cenas teriam muito mais impacto se fossem preservadas as suas cores e contrastes, assim sendo mais inteligíveis. A fotografia também pode ser um recurso para disfarçar as limitações de produção (o filme foi feito com meros 20 mil dólares).
A direção é bem mediana e as atuações também. A sonoplastia incomoda, às vezes mais, às vezes menos. O que impressiona (além da já citada fotografia) é o roteiro. Como Begotten não possui diálogos, temos um filme que conta sua história através do audiovisual. Assim, todas as metáforas se sustentam em cima das cenas atrozes mostradas pelo filme, um verdadeiro festival de mutilações, masturbação, sexo oral, estupro e torturas mergulhados em sangue, sêmem, vômito e outros fluidos corporais. Por serem o modo de se retratar a história, a crueldade das imagens não é inválida.
Begotten é um filme pra ser sentido o máximo possível. Um ousado e genuíno filme de horror. Mérito também para a criatividade doentia do E. Elias Merhige.
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