Jurassic Park encantou e ainda encanta milhares de espectadores ao redor do mundo. Para aqueles que puderam prestigiar o filme fresquinho, lá em 1993, quando acabava de sair nas telonas, a sensação deve ter sido das melhores. Mas, mesmo para aqueles que visitaram o clássico anos depois, acredito que o impacto tenha sido tão intenso quanto. É um golpe fatídico assistir esse, que é um dos maiores blockbusters já realizados, pela primeira vez na vida. Indubitavelmente, e já peço desculpas pelo trocadilho, você será abocanhado por essa aventura. E quando o assunto é aventura, existe um cara especialista. Steven Spielberg reinventou o cinema americano, criou várias fobias nas pessoas e, ainda por cima, conquistou vários prêmios da Academia e o reconhecimento do público ao longo de sua carreira. O sucesso do verão estadunidense rendendo farturas de bilheteria deve muito ao trabalho desse cineasta. Seus filmes sempre, sempre mesmo, reuniram ingredientes de fácil deglutição para a grande massa. E não, isso nunca soou como demérito, muito pelo contrário. Em filmes como Tubarão, Contatos Imediatos e Indiana Jones, vemos que o clima de mistério é mesclado também com a diversão de estar imerso e cativo no sonho que Spielberg desperta em qualquer um. Até mesmo em filmes mais sérios e baseados em fatos reais, Spielberg sempre optou pelo compêndio entre drama e comédia para jogar com seu admirador sem lançar mão de recursos narrativos eficientes. Pois é, Spielberg sempre soube fazer um equilíbrio arregimentado e hábil de técnicas a favor de seu estilo. No seu filme de dinossauros, Spielberg brinca com o mais pueril lado do psicológico humano que, um dia ou outro, já pescou no subconsciente o desejo de estar em um lugar cujo alcance seria impossível sem a arte, sem a luz, a câmera e a ação. Três recursos mágicos de Hollywood que tornaram possíveis a concretização de um desejo, o de habitar uma ilha maravilhosa. A Ilha Nublar. É nela que se desenvolve todo o enredo desse filme especial para cinéfilos e para toda a cultura pop.
Jurassic Park é simples e direto em seu enredo. Um milionário deseja construtir um parque repleto de animais reconstituídos pela tecnologia da engenharia genética, mais precisamente, dinos. Dinos esses das mais variadas espécies, desde o manso e herbívoro Braquiossauro ao carnívoro e assustador Tiranossauro. Para isso, o tal milionário (Richard Attenborough) conta com a ajuda de dois pesquisadores e paleontólogos, estudiosos da área que irão dar todo o suporte e dirão se o parque deverá continuar aberto ou não. De início, a câmera de Spielberg capta apenas uma introdução, situando a ilha Nublar como sendo uma porção de terra 190 km para leste da Costa Rica e passeando pela ilha, mostrando um incidente. Em seguida, migra para uma mina de âmbar, para mostrar o famoso mosquito ou pernilongo imóvel na seiva endurecida e homens tentando perfurar o material. Tudo para dar suporte ao volume de história que teria vazão posteriormente. O casal de pesquisadores Ellie e Alan, junto de Ian (encenado pelo ótimo Jeff Goldblum) e Hammond, o dono do faraônico parque, viajam dentro de um helicóptero, em uma das passagens mais contemplativas do longa, tendo como destino uma base em Nublar, onde pousarão para um tour pelo parque, a fim de conhecer sua tão falada estrutura, principalmente por parte de Hammond e seu advogado. É aí que Spielberg nos deixa sem chão.
Cada detalhe em cena é irresistível. Tudo fora criado no parque sem nenhuma intenção mimética, de imitar ou emular nada. O trabalho de montagem, figurino e design cuidou para que tudo ficasse de acordo com o que Hammond imaginara, um parque de diversão pra qualquer marmanjo. Spielberg nos mostra um cinema do parque, restaurantes e, óbvio, o campo com os dinossauros, na passagem em que é proferida a curta e certeira frase, saudando o espectador, dizendo que eles são bem-vindos ao Jurassic Park.
Falando de momentos icônicos, são vários em Jurassic Park. A passagem da vaca sendo devorada pelo Velociraptor, a abordagem do T-Rex na noite chuvosa, a sequência na cozinha do parque, com as duas crianças (vividas por ótimos atores mirins). Enfim, são muitas belas passagens e que te tiram o fôlego. Mas a que merece maior destaque é a das crianças, presas no jipe, quando a chuva torrencialmente cai e um T-Rex as surpreende. Ouve-se um grito histérico. É o desespero numa das cenas mais claustrofóbicas. Gosto igualmente do momento em que a personagem de Laura Dern encontra-se no poço da jaula dos Velociraptor e é surpreendida por um deles, tendo logo depois, um braço dilacerado caído em seus ombros. São pequenos sustos que levamos, porém, que fazem toda a diferença. A duração do filme contribui para que tudo seja bem amarrado e concatenado. Acho um pouco gordurosa a metade final, que poderia ter alguns excessos cortados e clichês dispensados, mas a primeira metade compense tudo com uma ótima e farta apresentação.
A locomoção pelas trilhas da ilha é feita com carro elétrico que anda sobre trilhos. Isso é incrível dentro da concepção do filme, que é ir um pouco mais longe, até mesmo nas ideias mais liberais e futuristas. Até nesse quesito, Spielberg mostra-se um visionário. Ele mostra o natural, mostrando a cachoeira do parque e suas árvores frondosas, mas também dá suas viajadas na.maionese, com certa credibilidade às vezes. O que não ocorre no vídeo explicativo que Hammond exibe aos seus convidados no início do filme, seguido do bizarro nascimento do dinossauro no ovo de avestruz. Se por um lado, Spielberg chuta a ciência, ele deixa claro que o que ele quer no seu filme é sim verossimilhança, mas também lambança, aquela boa e dentro dos limites que toda criança faz com o bolo de chocolate, sabe? O bolo do mestre das telas, Spielberg, é o seu filme, o seu bebê jurássico.
Sabe que essa dúvida acerca da ciência até é posta à tona por Ian, o médico de Goldblum, quando ele indaga a Hammond se, mesmo depois de 65 milhões de anos que separaram a evolução do homo sapiens dos dinossauros, daria certo essa nova junção. O dono, ganacioso, diz que não. Mas o final do filme diz tudo. Ian respira fundo na cena final do filme e diz que tinha sido o pior final de semana de sua vida. Aliviados por estarem vivos mesmo depois de quase serem devorados por dinossauros, o casal de pesquisadores também sorri aliviado. A câmera vai ficando com foco mais fraco e o helicóptero no horizonte some. Mas o roteiro de David Koepp se eternizou ali, ao lado da direção inesquecível de Spielberg. Quando a professora perguntava o que eu queria ser na infância, eu até poderia dizer que astronauta, por causa de Buzz Lightyear, mas respondia, na lata mesmo, arqueólogo. Por que será?
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