Tropa de Elite 2
Confesso que torci o nariz quando vi o anúncio da continuação da saga do capitão Nascimento, pois não acreditei que tivesse mais o que explorar da “Tropa de Elite” carioca. E as primeiras informações sobre o roteiro confirmavam minhas poucas expectativas. Mesmo assim, fui conferir...
Já nos créditos iniciais, identifiquei a base da equipe que construiu o filme piloto, com destaque para Resende (Montagem) e Montovanni (Roteiro), além é claro do Pimentel, verdadeiro Capitão Nascimento, que parece ser o consultor para os assuntos operacionais da polícia, mostrados na tela.
Logo depois, iniciou-se a incômoda narrativa em off do Wagner Moura (a mesma presente no primeiro filme, que tem o objetivo de “levar o roteiro nas costas”, e o que me impediu de dar-lhe nota máxima, pois acredito que este recurso não fica bem em filmes de ação), justificando e explicando cada início de nova cena. E assim, tudo o que estava presente anteriormente se repetiria até o final...
Wagner Moura volta a dar vida ao herói popular, o Capitão Nascimento, agora dez anos mais velho, com alguns problemas particulares, separado (e sem nenhum par romântico), criticado pelo “pessoal dos direitos humanos” e com os mesmos pensamentos sobre os “boyzinhos” que patrocinam o tráfico. Promovido na carreira, passou a ser o comandante geral do BOPE e, depois de alguns incidentes por lá, foi colocado “na geladeira”, como subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do Estado. Dessa maneira, ele ganha mais poder e faz a Tropa de Elite maior, mais eficiente e consegue melhores resultados contra o tráfico de drogas. No entanto, aos poucos, percebe que, ao eliminar os traficantes, ao invés de livrar as comunidades dos bandidos, acaba trazendo novos inimigos para os moradores, os próprios policiais, apoiados por políticos corruptos, com interesses eleitoreiros.
Neste contexto, o filme vai explorar os mesmos assuntos relacionados à corrupção e á violência, abordando, no entanto, o envolvimento de autoridades. Resumindo, parte para a teoria da conspiração, ou seja, ao invés de se preocupar os riquinhos que compram drogas e financiam o tráfico (até seu filho passa por isso no filme), a seqüência apresenta uma visão mais assustadora de quais são os verdadeiros atores por trás desse comércio.
O roteiro segue os mesmos diálogos rápidos e cheio de frases de efeito (“cada cachorro que lamba seu XXX”, “CPMF”, “Fifty-FiftY”, entre outras), que tanto fizeram sucesso no longa anterior e foram repetidos à exaustão pelos fãs. Mas, a história como um todo, dá mais uma idéia de novela, com muitos personagens sem profundidade, aparecendo e desaparecendo repentinamente, sem muita coerência (por exemplo, o Matias, que tem umas atitudes incompatíveis com a lógica: “vai e vem” no BOPE; a jornalista Clara, que é muito pouco explorada em suas convicções; o filho Rafael, que é muito “coitadinho”, sem nada das personalidades fortes dos dois pais; e o próprio Fraga, que inicialmente é defensor dos direitos humanos ferrenho, e depois passa a ser um político de oposição, preocupado mais em criticar a situação).
O elenco, mais uma vez dá conta do recado, sem o destaque absoluto para o Wágner Moura, como foi no filme anterior. Nos políticos e policiais coadjuvantes, menção para Sandro Rocha, que interpreta o Major Rocha (estranhamente promovido, pois era apenas um sargento corrupto anteriormente) e André Mattos, que interpreta o Fortunato, Deputado Estadual e apresentador de um programa de televisão sensacionalista. Demais elementos técnicos são tão bons como no primeiro filme (afinal, a equipe se mantém), com destaque para as cenas de tiroteio e a montagem final de Daniel Rezende. A trilha sonora de Pedro Bromfman também ajuda no conjunto final da obra.
Tropa de Elite 2 bateu o recorde de bilheteria nacional para final de semana de estréia, com mais de 1,25 milhão de espectadores e caminha para estatísticas muito melhores, podendo atingir outras marcas mais antigas, fruto, sobretudo, de um belo trabalho anterior e da filmagem bastante popular. Uma pena que o roteiro seja tão pretensioso e tenha ficado devendo. Resta saber se vem um terceiro filme da série, uma vez que ficaram algumas pontas soltas nos últimos minutos, o que cede espaço para uma continuação, talvez com Capitão Nascimento como Governador do Estado...
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