Depois de ouvir da minha tia a pergunta "porque alguém faz um filme desses?" é que eu realmente quiz assistir.
Uma coisa eu digo: esse filme conseguiu me fazer ficar torcendo pra não acabar. Ele não agrada aos que não curtem a já bastante comentada violência.
E esse é o ponto chave. O filme promove a imagem justa do BOPE, que não aceita corruptos, que não tolera bandidos e toda aquela história. A cruel fase seletiva do grupo, que começa com 50 candidatos e termina com 5, prepara os candidatos para a guerra e alimenta a vontade de abrir fogo contra qualquer um que não esteja nos conformes da justiça (mesmo que seja a deles).
O filme consegue despertar uma catarse que ganha qualquer espectador que tenha uma quedinha por aquele sentimento “THIS IS SPARTA!!!”, sabe? Quando Neto morre e o Matias anda entre as pessoas da passeata pela paz e começa a bater no playboy maconheiro (definição que o personagem dá) hipócrita dá até vontade de ajudar.
Porém a imagem heróica do Batalhão de Operações Especiais é uma fraude. É a famosa história de que “para fazer uma omelete é preciso quebrar ovos”. Ou seja: uma violência e uma crueldade que é usada pra acabar com a violência.
Mas o filme deixa isso bem claro mostrando que ali a situação é de guerra. E na guerra é assim.
O filme levanta a famosa questão de quem está errado: a polícia corrupta que se aproveita do sistema para benefício do próprio bolso ou os bandidos, que sobrevivem do tráfico e que não tem piedade de ninguém que esteja contra eles. Questionam também essa hipocrisia de jovens de classe média que aproveitam de ações sociais para poderem consumir drogas.
Em resumo o filme conseguiu mostrar os dois lados de tudo: o lado bom e justo da polícia, o lado bom que acredita em ações sociais dos traficantes e o lado dos jovens mais abastados que realmente se importa com o quesito benéfico das ações em que estão engajados.
Mas o filme, além de expor tudo isso, coloca em tudo isso o que alguns de nós chamamos de humanidade: o lado justo da polícia promove essa justiça com violência e muitas mortes; o lado que acredita em ações sociais dos traficantes não tolera quem foge do esquema prejudicando a grana deles ou algum amigo de gangue. E o lado dos jovens que se importa realmente com os resultados de um trabalho social é também permeado por drogas e esquemas com os traficantes.
Ou seja, fica claro na história que ninguém é santinho, mas que alguém (BOPE) busca harmonizar a situação de alguma forma. O filme faz questão de mostrar também que essa “alguma forma” não pode ser de outro jeito. Que não dava pra tentar acalmar a situação sem a violência usada. Afinal é uma guerra.
E eu digo humanidade porque é exatamente assim que todos somos: contraditórios. Ninguém é 100% bom nem 100% mau. Isso torna crível toda a história. E para isso eu pego sempre o exemplo (pessoal) das novelas: elas seriam “assistíveis” se o mocinho tivesse também seu lado mau.
Como ator a construção dos meus personagens parte do principio de que o público só vai acreditar neles se eu tiver, para o bom, o contraponto mau e vice-versa. Um lado torna o outro crível. E isso o filme mostra.
Agora, sobre afirmar que o Cap. Nascimento é herói eu digo que não dá. Ele preza a justiça e abomina corrupção, mas leva isso ao extremo da coisa simplesmente matando quem o faz.
No fim das contas o filme diz que a situação é imutável e pronto. Sempre será. O que agora pode parecer verdade, mas esperança ainda é bom.
Por que fazer um filme desses? Puxa, apesar de tudo, saber como acontecem as coisas nesses lugares onde a situação atinge esse nível serve para que nossa consciência acorde para o que acontece e nos faça levantar do sofá e sair do nosso apartamento para mudar de um modo positivo o que está ao nosso alcance. Mas para falar a verdade: quem não sabe?
Mas também é gostoso assistir ao cinema brasileiro crescer desse jeito! Pra mim esse é o melhor filme de ação brasileiro.
E, apesar de tudo, eu torci para o Cap. Nascimento se dar bem e também quis gritar “Todo mundo quietinho! NINGUÉM SOBE, OUVIU? NINGUÉM SOBE!”
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