Documentário inquietante, que deixa expressas situações tão implícitas no cotidiano: crianças vidradas na televisão, esta com suas desinformações cada vez mais mastigadas e diretas, minando a criatividade e, portanto, o potencial interventivo dessas crianças.
São bem pertinentes os comentários dos profissionais ouvidos: filósofos, professores, promotores de justiça, além dos relatos dos pais e das mães. Interessante ressaltar, aqui, a massiva aparição das mães, em contraste com a pequena participação dos pais no documentário: em uma clara significação da velha conhecida predominância feminina no contexto doméstico, ao passo que ao homem cabe o papel desbravador, externo. Importante atentar pra esses pequenos e quase subliminares elementos no momento em que eles acontecem.
Se de 2008 pra cá muita coisa mudou com a enxurrada de novas tecnologias, realmente acredito que "a alma do negócio" não mudou tanto assim: esse documentário já consegue abordar bem o principal dessa virada tecnológica, não perdeu sua atualidade.
É um documentário com cara de classe média. A maioria das crianças ouvidas parecem integrar se não à classe média (já que existem tantos estudos sobre a enorme extensão dessa), a algum estrato social assemelhado, o que, inclusive, é coerente com a proposta do documentário: o consumismo infanto-juvenil. Faço essa ressalva apenas a título de observação, mas não acho que isso diminui em nenhum aspecto a importância da produção.
Por outro lado, a partir dessa observação, acho que pulula uma provocação importante: como seria um documentário com a mesma temática (consumismo infanto-juvenil) só que voltado a crianças e adolescentes de um estrato social mais baixo (moradores de barracos, crianças e adolescentes em situação de rua etc)? Como é a reação dessas crianças e adolescentes ao apelo do consumo e à contrapartida da miséria? Nos preocupamos com isso?
Já dizia um pertinente muro pixado que eu fotografei em uma rua movimentada de Fortaleza: "Nós roba, nós trafica, nós não gosta de andar duro".
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