Quem só conhece Cynthia Nixon da série Sex and the City, na qual interpreta a cáustica Miranda, vai se surpreender ao vê-la no papel principal deste retrato da poeta norte-americana Emily Dickinson, dirigido com inventividade pelo inglês Terence Davies.
Há fortes ares de Oscar Wilde aqui; os diálogos ácidos e aqueles temas com a abordagem sacana, típicos do escritor, dão um toque poético e necessário ao filme, abrindo uma série de pequenos jogos e intrigas entres os personagens. Gerando uma obra bem elegante, com temas que oscilam de forma muito orgânica entre provocações burguesas, confronto das normas sociais, retrato íntimo da obra da escritora e suas relações familiares.
Imagino esta sendo uma adaptação bacana de um possível livro de Jane Ayre, logo quando a mesma é citada por uma das personagens. Outra surpresa: a relação entre a poetisa e sua amiga americana; um dos mais poderosos laços femininos do cinema recente.
Há uma sensibilidade narrativa ao retratar uma 'persona' tão peculiar e deslocada de seu tempo, mesmo com um material tão pouco próximo daquilo que temos como ideal para a linguagem cinematográfica. Cynthia Nixon em grande atuação.
Poetisa à frente de seu tempo em relação a questões opressivas de sua época, tanto religiosa quanto da independência feminina, se mostrou com o passar dos anos amargurada, solitária, não reconhecida, doente e triste. Grande atuação de Cynthia Nixon.